v. 5 n. 2 (2019): VAGABUNDOS, VADIOS E MALANDROS: Estratégias de Inserção Social e Artística em uma Longa Caminhada Marginal
Pretende-se, com este dossiê, discutir e promover reflexões sobre as figuras de uma tipologia malandra, percebendo as estratégias de aproximação e tentativas de pertencimento social a que atores e atrizes tiveram que recorrer através da História, como modos de ação insubmissos e de outras ordens de pertencimento. Artistas de talentos múltiplos, os jograis da Idade Média vagavam entre festas e feiras. Autores, portadores e intérpretes de canções e lendas, exerciam importante papel cultural ao transitar entre os espaços aristocráticos e populares; ao mesclar o registro sagrado com o profano; ao propagar dentro e fora das fronteiras outras ideias e formas de expressão. A profissionalização destes artistas foi resultado de um longo processo oriundo da vagabundagem. Desde que esmoreceu o comércio ambulante de medicamentos, os charlatães passaram a comercializar suas cenas, predominantemente cômicas, com máscaras e tipos fixos. Assim, o tipo cômico do malandro passa a integrar repertórios de atuação, fazendo diálogo com as estratégias de penetração da classe artística na sociedade dita séria e estabelecida em oposição a um mundo sem juízo e errante. Considerando a pungência com a qual a temática vem afetando o campo cênico, a Revista Arte da Cena decidiu dedicar um dossiê específico ao tema, abrindo espaço para a expressão de todos os artistas (e) pesquisadores que vêm poetizando e debatendo a questão. Neste sentido, interessa ao presente Dossiê Temático identificar elementos capazes de questionar nossas certezas e nossos preconceitos latentes quanto a determinadas tradições rejeitadas e marginalizadas. Uma caminhada ladeada pelas poéticas amorais de personificações sem dignidade, como as simbólicas herméticas de pelintras e peraltas, capazes de conceder cidadania às zonas obscuras de nossa potência criativa nas artes da cena.