Efeitos de borda sobre comunidades de musgos (Bryophyta) epifíticos em área de Cerrado no Brasil Central
Palavras-chave:
Bordas antrópicas, bordas naturais, briófitas, Cerrado, fragmentação florestal, GoiásResumo
As mudanças microclimáticas promovidas pela proliferação de bordas nas paisagens fragmentadas, designadas “efeitos de borda”, podem resultar em alterações na composição de espécies, estrutura das comunidades e processos ecológicos. Apesar do drástico aumento das áreas de borda causado pela fragmentação antrópica, as bordas e suas áreas de influência constituem importante característica estrutural também nas paisagens naturais. Isto é evidente no bioma Cerrado, que além da acelerada perda e degradação de habitats que vem sofrendo, é também composto por mosaicos de tipos vegetacionais cujos limites ou ecótonos são comuns. As briófitas constituem um grupo de organismos ideal para a avaliação dos efeitos de borda, pois, em decorrência de suas condições fisiológicas, são vulneráveis às alterações microclimáticas, o que as torna particularmente úteis como indicadoras dos efeitos adversos da fragmentação. Diante disso, este trabalho teve por objetivo avaliar como as comunidades de musgos (Bryophyta) epífitos respondem às bordas florestais proporcionadas antropicamente e às bordas naturais nas transições campo-floresta no Cerrado. As áreas de estudo estão localizadas no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas e no seu entorno, compreendendo os municípios de Caldas Novas e Rio Quente, estado de Goiás. A amostragem foi feita em três tipos de habitats: 1) florestasde galeria nas encostas da serra com transições abruptas para campos rupestres; 2) borda (0 a 10 m); 3) interior (100 m a 110 m) de fragmentos de florestas estacionais circundados
por matriz de pastagem. Os três tratamentos considerados na análise foram designados pelas siglas: BN (borda natural), BA (borda antrópica) e IF (interior do fragmento). Para cada tratamento foram selecionadas quatro réplicas. Quatro parcelas de 10 m x 10 m foram plotadas aleatoriamente ao longo de transectos de 10 m x 200 m para cada tratamento
em cada área. Para a amostragem dos musgos nas parcelas, foram selecionadas todas as árvores com perímetro à altura do peito (PAP) ? 20 cm e com cobertura mínima de briófitas de 300 cm2. Para o levantamento quantitativo dos musgos, foi adotado o método de interceptação de linha. A comparação das estimativas de riqueza de Jackknife (33,56 para IF, 30,56 para BA e 25,63 para BN) mostrou que houve diferença apenas entre IF e BN e a cobertura de musgos foi significativamente maior em BN do que em BA (F2,45 = 5,34; p = 0,008). A análise de similaridade (ANOSIM) mostrou que a comunidade de musgos foi mais distinta em BN e a composição de espécies neste ambiente foi significativamente dissimilar tanto de BA quanto de IF (R = 0,198; p < 0,001). Dois fatores podem explicar porque o efeito de borda sobre a riqueza e a cobertura de espécies de musgos epífitos não foi evidenciado neste estudo: 1) a homogeneidade na estrutura da vegetação observada entre borda e interior; 2) esta pesquisa ter considerado apenas os musgos, enquanto muitos 76 estudos confirmam maior sensibilidade das hepáticas aos diferentes distúrbios. Efeitos mais claros foram observados entre BA e BN, tanto na cobertura quanto na composição de espécies. Isso, provavelmente, se deve às diferenças espaciais e temporais na criação destas bordas, ou às características topográficas dos enclaves, principalmente por sua localização em depressões e por apresentar cursos de água no seu interior, o que, provavelmente, determina maior umidade nestes ambientes. O teste de qui-quadrado mostrou diferenças significativas na frequência de ocorrência das formas de vida nos diferentes tratamentos, exceto para a forma tufo. O maior valor de qui-quadrado ocorreu para a forma de vida flabeliforme, que predominou em BN, colaborando com as evidências já apresentadas de condições microclimáticas mais favoráveis aos musgos em BN, visto que o hábito flabeliforme é intolerante à dessecação. Isso indica que a utilização de grupos funcionais de briófitas como formas de vida pode gerar maior generalização e propiciar a obtenção de respostas mais claras do que a riqueza de espécies na avaliação dos efeitos de borda.
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