Impactos do desenvolvimento em comunidades tradicionais: transição agroalimentar e ajustes adaptativos
Palabras clave:
Sistema agroalimentar, Desenvolvimento, Uso dos recursos naturais, Agroecossistemas tradicionais, Ecologia isotópicaResumen
O maior acesso ao meio urbano e ao mundo globalizado pode estar colocando em risco o modo de vida dos povos tradicionais, gerando impactos na alimentação e no sistema agroalimentar. Com o intuito de inferir as possíveis consequências do desenvolvimento e as estratégias de adaptação dos povos tradicionais às novas demandas socioeconômicas, o estudo foi conduzido nos remanescentes de quilombo Kalunga – GO e com os pescadores artesanais da ilha de Apeú Salvador – PA. Por meio de avaliações quantitativas e qualitativas, este trabalho visou a entender os impactos ocasionados às comunidades tradicionais devido ao aumento da urbanização, do maior acesso à economia de mercado e políticas públicas. As qualitativas foram aplicadas no sentido de caracterizar as condições socioeconômicas locais, a alimentação, a produção de autoconsumo e as formas de uso dos recursos naturais, utilizando “recordatório alimentar 24 horas”, depoimentos da população local e observações de campo. As quantitativas foram realizadas pela análise isotópica de unhas dos entrevistados e por meio da avaliação dos fatores de influência na alimentação local. O uso de ecologia isotópica permitiu avaliar a dieta quanto à fonte de origem dos alimentos, natural ou industrial, e caracterizar a alimentação de acordo com o nível da cadeia trófica, presença de carne, peixe, dentre outros. A junção da pesquisa qualitativa com a quantitativa permitiu identificar elementos de transição agroalimentar e mudanças nas formas de uso dos recursos naturais nas comunidades mais acessíveis ao meio urbano. Em contraposição a este padrão de transformação, em algumas comunidades foi identificado um panorama de resistência do modo de vida tradicional e reorganização por meio de estímulos à produção agroextrativista local. A partir da produção do pescado em Apeú Salvador e da farinha de mandioca nos Kalunga, a manutenção do trabalho e o incentivo à autonomia local são alternativas que podem potencializar o ajuste e a adaptação às mudanças globais da modernidade. Embora alguns dos resultados remetam à mudança de hábitos agroalimentares, pondera-se que sob determinadas condições os impactos do desenvolvimento em povos tradicionais podem ser atenuados. Apesar da relativização, salienta-se que as interferências da modernidade no sistema agroalimentar em comunidades tradicionais são reais e precisam ser devidamente considerados por intervenções externas e políticas públicas.
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