“NÓS SOMOS OS PRIMEIROS A SEREM ACUSADOS”: UM ESTUDO SOBRE O “ANTICIGANISMO” E AS PERMANÊNCIAS COLONIAIS NO DIREITO BRASILEIRO
DOI :
https://doi.org/10.5216/rfd.v45i3.63409Mots-clés :
Povos ciganos, Antropologia Jurídica, História do Direito, ColonialidadeRésumé
Nos últimos anos, as narrativas sobre as condições de vida da “população cigana” brasileira, associadas à exclusão social, preconceitos e discriminação racial, vêm provocando e atraindo uma série de atores, individuais e coletivos, assim como órgãos da burocracia estatal, a pensar e intervir nesta realidade. O presente artigo busca compreender de que forma as leis e as políticas do período colonial foram mobilizadas e como hoje podem repercutir na construção da condição jurídico-política dos “ciganos” no Brasil. Foi realizado, a partir de fontes primárias e secundárias, um estudo genealógico, sobre como a presença das pessoas que se identificavam e que eram identificadas como “ciganas” foram geridas no território brasileiro, durante o período da colonização portuguesa. A análise e o levantamento sobre as políticas e leis “anticiganas”, realizados neste estudo, não são necessariamente cronológicos, tão pouco contemplam a totalidade das medidas existentes voltadas para a gestão dos “povos ciganos” no Brasil. Além da investigação documental e bibliográfica, este estudo integrou a pesquisa de campo a observação direta e participante dos autores, em atividades em que os “povos ciganos” atuam no âmbito da burocracia estatal, especialmente a tramitação do Projeto de Lei do Senado nº 248/2015, que pretende criar o “Estatuto Cigano”. Há uma rede de práticas e significados sobre a condição “cigana” que vêm sendo tecidos desde o passado, conectados ao presente, a partir de novas bases, que se optou por analisar neste estudo.
Téléchargements
Références
______. Decreto n° 5978, de 4 de dezembro de 2006. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 2006b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5978.htm>. Acesso em: 27 out. 2019.
CHAUÍ, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000.
CHINA, J. d?Oliveira. Os ciganos do Brasil. Revista do Museu Paulista, São Paulo, tomo XXI, 1936. p. 323-669.
COELHO, A. Os ciganos de Portugal. Lisboa: Dom Quixote, 1995.
COSTA, Elisa Maria Lopes da. Contributos ciganos para o povoamento do Brasil (séculos XVI - XIX). Arquipélago - Revista da Universidade de Açoures, Açoures, v. 9-10, 2005.
DAS, Veena; POOLE, Deborah. El Estado y sus márgenes. Etnografias comparadas. Cuadernos de Antropologia Social, Buenos Aires, n.27, p. 19-52, 2008.
DONOVAN, Bill M. Changing perceptions of social deviance: Gypsies in early modern Portugal and Brazil. Journal of Social History, s.l., 1992.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 2012.
FRASER, Angus. The Gypsies. Oxford: Blackwell Publishers, 1992.
FREITAS, Joaquim Ignacio de. Collecção chronologica de Leis extravagantes, posteriores a'nova compilação das ordenações do reino, publicadas em 1603. Coimbra, 1819.
GOLDFARB, Maria Patrícia Lopes. Memória e etnicidade entre os Ciganos Calon em Sousa-PB. João Pessoa: Editora da UFPB, 2013.
MPF. Discriminação e preconceito são rotina enfrentada por ciganos na Paraíba. Ministério Público Federal, 2017. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/pb/sala-de-imprensa/noticias-pb/discriminacao-e-preconceito-sao-rotina-enfrentada-por-ciganos-na-paraiba>. Acesso em: 11 fev. 2020.
MOONEN, Frans. Anticiganismo: os ciganos na Europa e no Brasil. 3. ed. Recife: [s/e], 2011. Disponível em: < http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/ciganos/a_pdf/1_fmanticiganismo2011.pdf>. Acesso em: 27 out. 2019.
NORONHA, Gilberto Cézar de. Os gadjós são os “perfeitos ciganos, muito ciganos”: figurações, estereótipos e artimanhas políticas em Minas Gerais. In: ANPUH-Brasil – 30º Simpósio Nacional de História, Recife, 2019.
QUIJANO, A. Colonialidade, Poder, Globalização e Democracia. Revista Novos Rumos, São Paulo, ano 17, n. 37, p. 4-28, 2002.
______. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005.
RAMOS, Arthur. Introdução à antropologia brasileira. V. 4. As culturas europeias. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1947.
REA, Caterina Alessandra. Redefinindo as fronteiras do póscolonial. O feminismo cigano no século XXI. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 25, n. 1, fev. 2017. p. 31-50.
RESENDE, Garcia de. Cancioneiro Geral. Stuttgart Gedruckt auf Kosten des litterarischen Vereins, 1852.
SEGATO, Rita. La argamasa jerárquica: violencia moral, reproducción del mundo y la eficacia simbólica del derecho. In: Las estructuras elementales de la violencia. Ensayos sobre género entre la antropología, el psicoanálisis y los derechos humanos. Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes/Prometeo, 2003. p. 107-130.
______. Género y colonialidad: en busca de claves de lectura y de um vocabulario estratégico descolonial. In: K. Bidaseca & V. V. LABA (Eds.), Feminisimos y Poscolonialidad. Descolonizando el feminismo desde y en América Latina. Buenos Aires: Godot, 2011.
SIMÕES, Maria Alzira Proença (Org.). Catálogo dos impressos de tipografia portuguesa do século XVI. Lisboa: Biblioteca Nacional, 1990.
TEXEIRA, Rodrigo Corrêa. História dos ciganos no Brasil. Recife: Núcleo de Estudos Ciganos, 2008
TV MPF. Audiência Pública Maio Cigano 28/05/2018. 2018. (3h45m56s). Disponível: <http://www.tvmpf.mpf.mp.br/videos/2836>. Acesso em: 23 fev. 2018.
TV SENADO. Estatuto do Cigano. 2018. (2h09m12s). 2018. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=SCzeao1ZUn4&t=4337s>. Acesso em: 18 out. 2019.
WAGNER, Francis S. The Gypsy Problem in Postwar Hungary. Hungarian Studies Review, v. XIV, n. 1, 1987.
Téléchargements
Publié-e
Comment citer
Numéro
Rubrique
Licence
Les auteurs qui publient dans cette revue accordent à Revista da Faculdade de Direito da UFG une licence mondiale libre de droits, soumise aux termes et conditions de la Creative Commons Attribution 3.0 Brasil Legal License Creative Commons Attribution License
Les auteurs concèdent à RFD UFG tous les droits d'auteur sur les articles qui y sont publiés, qui les conservent en exclusivité jusqu'à l'avènement du domaine public sur ceux-ci.