Epistemologias afrocentradas na academia
desafios de um concurso para docente em dança
DOI :
https://doi.org/10.5216/ac.v7i2.70438Résumé
Este trabalho apresenta um ensaio etnográfico sobre a experiência de um concurso público para docente efetivo em danças afro-brasileiras ocorrido em universidade federal do sul do Brasil. O texto busca narrar a singularidade do evento, que tornou evidente o choque epistemológico entre os saberes forjados em cultura afrocentrada e o conhecimento acadêmico eurocêntrico colonizador. Apresenta o modo como a banca de avaliação, constituída pelos(as) autores(as) do texto, construiu meios para manter uma postura anti-racista dentro de um sistema estruturalmente racista. O ensaio toma as perspectivas dos Estudos da Performance e da Exunêutica, para descrever as performances dos(as) candidatos(as) e as práticas em danças afro-brasileiras, cuja lógica destoa profundamente das danças acadêmicas, assentadas em modelos racionalistas de sistematização e difusão. Dentre esses princípios, identificou-se que a conexão com a ancestralidade é um dos elementos basilares da perspectiva afrocentrada. A escrita explicita o concurso como encruzilhada, na qual a banca construiu uma conduta em que os papeis de etnógrafos(as) e avaliadores(as) se sobrepunham, na medida em que o exercício de escuta e de definição de critérios se teciam. O artigo conclui que este concurso constituiu-se numa situação exemplar em que os critérios acadêmicos precisaram ser readequados para acolher a epistemodiversidade.
Téléchargements
Références
ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen livros, 2019.
ASSIS Jr., A. Dicionário Kibundo-Português: lingüístico, botânico, histórico e corográfico. Seguido de um índice alfabético dos nomes próprios. (2 vol), Luanda: Ed. Argente, Santos e Cia Ltda., s.d.
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
CONCEIÇÃO, Thiago Pirajira. Forjas Pedagógicas: rupturas e reinvenções nas corporeidades negras em um bloco de carnaval. Porto Alegre: Pós Graduação em Educação/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2019. (Dissertação em Educação).
DESMOND, Jane. Meaning in motion: new cultural studies of dance. Duke University Press, 1997.
DURAND, Gilbert. A imaginação simbólica. São Paulo: Cultrix, Ed.USP, 1988.
DURAND. Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário: introdução à arquetipologia. tradução Hélder Godinho. 4ª ed., São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.
FANON. Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.
LIGIÉRO, Zeca. O conceito de “motrizes culturais” aplicado às práticas performativas afro-brasileiras. Revista PÓS ciências sociais, São Luis, Universidade Federal do Maranhão, v. 8, n. 16, 2011, p.129-144. Disponível em: http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rpcsoc/article/view/695/433. Acesso em 4 set. 2021.
MARTINS, Leda Maria. Performances da oralitura: corpo, lugar da memória. Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras, Santa Maria, Universidade Federal de Santa Maria, n. 26, 2003a. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/letras/article/view/11881. Acesso em 4 set. 2021.
MARTINS, Leda Maria. Performances of spiral time. Hemispheric Institute of Performance and Politics, 2003b. Disponível em: http://www.hemisphericinstitute.org/eng/seminar/usa/text/leda_paper.html. Acesso em 10 set. 2021.
MONTEIRO, Marianna F. M.. Dança Afro: uma dança moderna brasileira. Húmus, São Luis, Universidade Federal do Maranhão, v. 4, p. 51-59, 2003.
NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. 3.ed. São Paulo: Perspectiva, 2016.
NASCIMENTO, Elisa Larkin (org). Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica inovadora. (Sankofa 4. Matrizes africanas na cultura brasileira). São Paulo: Selo Negro, 2009.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Decreto no 847: promulga o Código Penal. Rio de Janeiro: Casa Civil, 1890, s.p. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/d847.htm. Acesso em 1 out. 2021.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Decreto-lei no 3.688: Leis das Contravenções Penais. Rio de Janeiro: Casa Civil, 1941, s.p. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3688.htm. Acesso em 1 out. 2021.
ROBINSON, Danielle and DOMENICI, Eloisa. From inclusion to integration: intercultural dialogue and contemporary university dance education. Research in Dance Education, Taylor & Francis, v. 11, n. 3, 2010. p. 213-221.
SANTOS, Boaventura de S.. O fim do império cognitivo. Coimbra: Almedina, 2018.
SANTOS JR., Renato Nogueira dos. Afrocentricidade e educação: os princípios gerais para um currículo afrocentrado. Revista Africa e africanidades. Ano 3, n 11, nov. 2010. Disponível em https://africaeafricanidades.online/documentos/01112010_02.pdf. Acesso em 01 set. 2021.
SCHECHNER, Richard. Performance Theory. London and New York: Routledge, 2003.
SCHECHNER, Richard. Restauración de la conducta. In: TAYLOR, Diana; FUENTES, Marcela. Estudios avanzados de performance. México: FCE, Instituto Hemisférico de Performance y Politica, 2011. p. 31-49.
SILVA, Luciane da. Corpo em diáspora: colonialidade, pedagogia de dança e técnica Germaine Acogny. Tese (doutorado em Artes da Cena), Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2018.
SILVEIRA, Hendrix A.A. Exunêutica: construindo paradigmas para uma interpretação afro-religiosa. São Leopoldo, EST, (FACULDADES EST - Mestrado Acadêmico - Disciplina: Hermenêutica - Docente: Dr. Flávio Schmitt) 2º Semestre de 2012.
SODRÉ, Muniz. Pensar nagô. Petrópolis: Vozes, 2017.
Téléchargements
Publié-e
Comment citer
Numéro
Rubrique
Licence
(c) Tous droits réservés Maria Falkembach, Claudio Baptista Carle, Eloisa Leite Domenice 2021
Cette œuvre est sous licence Creative Commons Attribution - Pas d'Utilisation Commerciale 4.0 International.
A Revista Arte da Cena utiliza como base para transferência de direitos a licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional, para periódicos de acesso aberto (Open Archives Iniciative - OAI).
Autores que publicam neste periódico concordam com os seguintes termos:
1) Autores mantém os direitos autorais e concedem à Revista Arte da Cena o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution Non Commercial.
2) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta Revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, desde que citada a referencia do local de origem de publicação, ou seja, do endereço eletrônico/referência da Revista Arte da Cena.
4) Os autores dos trabalhos publicados na Revista Arte da Cena são expressamente responsáveis de direito por seu conteúdo.
5) Os autores não serão remunerados pela publicação de trabalhos na revista Arte da Cena.