Juízo e verdade histórica no discurso historiográfico

Autores/as

  • Denise Rollemberg Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, Rio de Janeiro, Brasil, deniserollemberg@uol.com.br
  • Ronaldo Vainfas Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, Rio de Janeiro, Brasil, rvainfas@terra.com.br

DOI:

https://doi.org/10.5216/rth.v23i1.64710

Palabras clave:

Juízo historiográfico; Juízo de valor; Caso Dreyfus; Caso Sofri; Caso Eichmann

Resumen

O artigo discute a relação entre História e Justiça, mais precisamente a comparação entre o papel do historiador e o do juiz no processo de conhecimento de casos particulares. A historiografia é abordada em várias épocas, desde a Antiguidade Clássica até a atualidade, analisando-se Heródoto, Tucídides, Santo Agostinho, Antônio Vieira e outros. Nesta visão panorâmica, o foco recai sobre o dilema entre o juízo de valor e o juízo crítico, o que nos conduz à análise do Historicismo e do movimento dos Annales, com ênfase nas reflexões de Lucien Febvre e de Marc Bloch. Valoriza-se o procedimento judicial do historiador no domínio dos eventos, em contraste com os historiadores, linguistas ou filósofos que reduzem as evidências históricas ao domínio das representações ou versões de um mesmo fato, duvidando da veracidade de fatos reais. Aprofundamos tal discussão na abordagem de três grandes julgamentos: o caso Dreyfus, nos anos 1890, o caso Eichmann, em 1960, e o caso Sofri, nos anos 1990. Nesse sentido, analisamos críticas de grande importância, como a dos dreyfusards, e aqueles de Hanna Arendt e de Carlo Ginzburg em face dos processos judiciais mencionados.

Biografía del autor/a

Denise Rollemberg, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, Rio de Janeiro, Brasil, deniserollemberg@uol.com.br

Professora Titular de História Contemporânea do Instituto de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (UFF). Possui graduação em História pela UFF (1987), mestrado em História pela UFF (1992), doutorado em História pela UFF (1998), pós-doutorado em História pela Universidade de Paris X (2007) e em Sociologia pela Universidade de Campinas/Unicamp (2007), pós-doutorado em História pela Universidade de São Paulo/USP (2013) e pós-doutorado em História na UnB (2018). Pesquisadora 2 do CNPq. Pesquisadora da FAPERJ (Cientista do Nosso Estado). Pesquisadora do Núcleo de Estudos Históricos (NEC-UFF). Membro da Rede de Estudos dos Fascismos, Autoritarismos, Totalitarismos e Transições para a Democracia (REFAT). Portugal, Espanha e Itália. Integrante do Comitê Científico da REFAT. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Contemporânea e História do Brasil Contemporâneo, atuando principalmente nos seguintes temas: Europa, 1922-45: fascismo e nazismo, Segunda Guerra Mundial, Europa sob Ocupação, França de Vichy, Resistência, colaboração, memória, museus e memoriais da Resistência. Brasil, 1964-1985: ditadura militar, esquerdas, luta armada, exílio, história oral, memória.

Ronaldo Vainfas, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, Rio de Janeiro, Brasil, rvainfas@terra.com.br

Licenciado em História pela Universidade Federal Fluminense (1978), mestre pela mesma Universidade em História do Brasil (1983), Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo. Professor do Departamento de História da UFF a partir de 1978 e Professor Titular de História Moderna, por concurso público, desde 1994. Aposentado na UFF em 2015. Pesquisador do CNPq desde 1990, sendo atualmente I-A. Membro da Companhia das Índias - Núcleo de História Ibérica e Colonial na Época Moderna, com projetos aprovados no PRONEX (2003, 2006, 2008, 2013). Cientista do Nosso Estado da FAPERJ em 2004, 2006, 2009 e 2014. Bolsista da Freie Universität Berlin (1996). Professor convidado da Universidade de Lisboa em 1997. Bolsista da Biblioteca Nacional de Portugal em 1997. Professor convidado da Universidad Nacional de Colombia, Medellín (1997 e 2006). Professor convidado da University of Essex, Inglaterra (1998). Membro da Cátedra de Estudos Sefarditas da Universidade de Lisboa desde 1998. Professor convidado da Ohio State University (2001). Pesquisador convidado da Brown University (Providence, EUA) em 2007. Pós-doutorado na Universidade de Lisboa em 2007. Pós-doutorado na USP em 2013-2014. Professor Visitante do Programa de Pós-Graduação em História da UERJ - Faculdade de Formação de Professores, de 2016 a 2017 e, novamente, a partir de 2020. Professor Visitante da Universidade Federal do Rio Grande do Norte entre 2017 e 2019. Dedicado a pesquisas e orientação em história ibero-americana e luso-brasileira entre os séculos XVI e XVIII, principalmente nos seguintes temas: inquisição, jesuítas, religiosidades, sexualidades, escravidão, colonização. Autor de diversos livros e artigtos nesses campos de investigação.

Citas

ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

BENASSAR, Bartolomé Modelos de la mentalidad inquisitorial: métodos de su pedagogia del miedo. In Ángel Alcalá (org.). Inquisición Espanola y mentalidad inquisitorial. Barcelona: Editorial Ariel, 1984, p. 174-184.

BLOCH, Marc. Los Reyes Taumaturgos. México: FCE, 1988.

BLOCH, Marc. A estranha derrota. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

CATROGA, Fernando. Ainda será a História Mestra da Vida? Porto Alegre. Estudos ibero-americanos, n. 2, p. 7-34, 2006.

CAIRE-JABINET, Marie-Paule. Introdução à Historiografia. Bauru: EDUSC, 2003.

CLARK, Stuart. French Historians and Early Modern Popular Culture. Past and Present. London, n.100, p. 62-99, 1983.

DUCLERC, Vincent. L'affaire Dreyfus: de l'affrontement des mémoires à la reconnaissance de l'histoire. In: Les guerres de mémoire. Paris: La Découverte, 2008.

FALCON, Francisco. Historicismo: novas e antigas questões. História revista. Rio de Janeiro, v. 7, 23-34, 2002.

FEBVRE, Lucien. Combates pela História (I). Lisboa: Biblioteca de Ciências Humanas, 1977.

FEBVRE, Lucien. O problema da incredulidade no século XVI. São Paulo: Cia das Letras, 2009.

FURET, François. Pensando a Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.

FUKS, Saul (org.) O Tribunal da História: julgando as controvérsias da história judaica. Rio de Janeiro: Imago, 2005.

GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. São Paulo, Companhia das Letras, 1986.

GINZBURG, Carlo. Provas e possiblidades à margem de ‘Il ritorno de Martin Guerre’, de Natalie Zemon Davis. In: A microhistória e outros ensaios. São Paulo, Cia das Letras, 1992.

GINZBURG, Carlo. El juez y el historiador: consideraciones al margen del proceso Sofri. Madrid: Anaya, 1993.

GODECHOT, Jacques. As grandes correntes da historiografia da Revolução Francesa, de 1789 aos nossos dias. Revista de História (USP). São Paulo, n.39, vol. 80, 423-470, 1969.

GODECHOT, Jacques. As revoluções (1770-1789). São Paulo: Pioneira, 1976.

HARTOG, François. O espelho de Heródoto. São Paulo: Humanitas, 1999.

JONHSON, Paul. Racismo moderno, Dreyfus e os franceses. In: História dos Judeus. Rio de janeiro, Imago, 1995.

LABORIE, Pierre. Historiens sous haute surveillance. Paris. Esprit, 198 (1), 1994, pp. 36-49.

MARCOTTE-CHENARD, Sophie. What can we learn from Political History? Leo Strauss and Raymond Aron, Readers of Thucydides. Revierw of Politics, Cambridge, 57-66, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1017/S0034670517000778.

NAQUET, Emmanuel L'historiographie récente de l'affaire Dreyfus (2006-2009). Revue historique, n.656, p. 933-957, 2010. Disponível em: https://www.cairn.info/revue-historique-2010-4-page-933.htm.

PAXTON, Robert O. Vichy France. Old guard and New order 1940-4. New York: Knopf, 1972.

SCHAFF, Adam. História e verdade. São Paulo: Martins Fontes, 1978.SOUZA NETO, José Maria; SOUZA, J. Santos de. Santo Agostinho: enredo histórico e providencialismo. Revista de Teologia e Ciências da Religião (UNICAP). Recife, vol. 1, n.1, 2011.

ROLLEMBERG, Denise. Resistência: memória da ocupação nazista na França e na Itália. São Paulo: Alameda, 2016.

ROUSSEL, Patrick. Le « mythe » du Barbare. Déchéance d’un concept: époque contemporaine et Antiquité. Association Francophone pour le Savoir. Sherbrook (Canadá), 2011. Disponível em: https://www.academia.edu/6470387/Le_mythe_du_Barbare._Déchéance_d_un_concept_ époque_contemporaine_et_Antiquité?auto=download.

ROUSSO, Henry. Le syndrome de Vichy de 1944 à nos jours. 2aed. Paris: Seuil, 1990.

VIDAL-NAQUET, Pierre. Thèses sur le “révisionnisme”. Les assassins de la mémoire. In: Un Eichmann de papier et autres essais sur le révisionnisme. Paris: La Découverte, Poche/Essais, 2005.

VIEIRA, Antônio. História do Futuro. Lisboa: Imprensa Nacional, 1982.

WHELING, Arno. Em torno de Ranke: a questão da objetividade histórica. Revista de História (USP), São Paulo, v.46, n.93, 1973. Disponível em: http://www.revistas.usp. br/revhistoria/article/view/131940.

WIEDER, Thomas. La France de Vichy. Le Monde, 08.08.2008. Disponível em: http//www.lemonde.fr/livres/article/2008/08/08/la-france-de-vichy-par-thomas wieder_10815 86_ 3260.html.

YAMASHITA, Jougi Guimarães. As guerras de Marc Bloch: nacionalismo, memória e construção da subjetividade. Tese de Doutorado em História Social. Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2015.

Publicado

2020-07-31

Cómo citar

ROLLEMBERG, D. .; VAINFAS, R. Juízo e verdade histórica no discurso historiográfico. Revista de Teoria da História, Goiânia, v. 23, n. 1, p. 13–44, 2020. DOI: 10.5216/rth.v23i1.64710. Disponível em: https://revistas.ufg.br/teoria/article/view/64710. Acesso em: 22 nov. 2024.