“Não matou ninguém, mas deixou todo mundo meio torto”: trabalho, educação e infância desde a vitivinicultura de Videira, Santa Catarina, Brasil
DOI:
https://doi.org/10.5216/rp.v32i2.70891Resumo
Este artigo tem como foco o trabalho realizado por crianças ítalo-descendentes em pequenas propriedades rurais familiares, no Município de Videira, SC. O objetivo é refletir sobre a relação entre o trabalho infantil na vitivinicultura e a educação. Foram desenvolvidas entrevistas semiestruturadas com seis idosos, com idade entre 58 e 102 anos, cujas infâncias estiveram atreladas à produção de uvas e vinhos artesanais nas pequenas propriedades de suas famílias. Também foi desempenhada investigação documental e bibliográfica no Museu do Vinho Mário de Pellegrin. Os dados foram analisados a partir dos pressupostos do materialismo dialético e da Teoria Histórico-Cultural (MARX, 2017; THOMPSON, 1987; VYGOTSKY, 1991, 2004). A pesquisa revela que as crianças estavam inseridas em diversas fases do processo produtivo vitivinícola nas pequenas propriedades. As crianças trabalhavam junto aos seus familiares em longas jornadas semanais. O trabalho infantil extrapolava o parreiral e se fazia presente nas tarefas domésticas, no cuidado com os animais e no manejo dos demais cultivos da propriedade. A atividade de trabalho era prioritária e competia com o tempo de escola, contribuindo significativamente para a evasão escolar. O tempo de brincadeiras também era limitado, configurando-se como exceção na vida das crianças.