Teria o Oriente inventado a democracia?
Abstract
Simon-Nicolas-Henri Linguet, autor da Teoria das leis civis ou princípios fundamentais da sociedade, escreve nesta obra, em 1767: a Ásia é “a verdadeira escola, onde devemos buscar todos os nossos conhecimentos em política”. A afirmação podia parecer paradoxal, no mundo da ilustração. Linguet era um defensor sui generis do despotismo, forma ideal de organização do poder político, dada a incapacidade humana de se governar. A partir desta posição, aderiu aos apelos revolucionários, com a esperança de que os mais fracos entre os cidadãos fossem melhor protegidos por um governo despótico e paterno. Revolucionário convicto, Linguet morreu guilhotinado, em 1794, por sua glorificação do despotismo. Com sua afirmação sobre a Ásia escola de política, Linguet oferece uma veste moderna para um paradoxo antigo. Pois também no mundo das poleis – o mundo no qual se forma a palavra tà politiká, as coisas que dizem respeito à cidade, e em que os homens tomam consciência de que existe um saber próprio a estas coisas, uma episteme ou uma tekhne da política –, também aí se olhava para o Oriente, para um mundo sem poleis, para poder falar de tà politiká. Que a reflexão política grega nascesse no Oriente – não por contraste, mas por transposição – podia parecer um paradoxo para os gregos antigos, mas não era sem fundamento nas suas obras principais. Não se tratava, neste caso, somente da consideração das formas despóticas de dominação: mesmo o que parecia ser propriamente grego – a teorização do governo popular – pôde ser “observado” na Pérsia. Em tal modo, lendo as fontes antigas, podemos perguntar: teria o Oriente inventado a democracia? (Continua...)Downloads
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