A Furiosa vai à forra!
Abstract
Quem nunca ouviu falar nas famosas Furiosas ou Serafinas, aquelas bandinhas do interior que animam as tardes de domingo em cima dos coretos? Apesar do tom bemhumorado com que muitos se referem a eles, estes conjuntos de sopros são remanescentes de uma refinada tradição musical centenária brasileira. Nos dias de hoje, as bandas de música estão quase que invariavelmente ligadas a eventos cívicos. Engalanados em seu fardamento reluzente, músicos militares executam os hinos pátrios e alguns dobrados para animar o público, antes que as autoridades presentes assumam o comando da solenidade. Ou então, nos desfiles e paradas, o ritmar das fanfarras de escolas públicas mantém disciplinados os estudantes que marcham pelas ruas da cidade. Pelo país afora, existem, sim, algumas bandas sinfônicas profissionais – poucas, mas de significativa atuação cultural –, mantidas pelo Estado ou pela iniciativa privada, e que se dedicam quase exclusivamente a um repertório de concerto mais sério e elaborado, com músicos altamente preparados. Mas, a grande maioria das bandas ainda é constituída pelas militares e escolares, e todas são importantes núcleos de iniciação musical da juventude. Outros tempos, outras práticas. Se recuarmos cem ou 150 anos em direção ao passado, encontraremos um cenário completamente diferente. A partir da segunda metade do século XIX, as bandas de música passaram a ser a principal atração musical das cidades do interior do Brasil. Afastada das comodidades sociais e culturais dos grandes centros – casas de ópera, teatros, orquestras sinfônicas profissionais – a boa sociedade interiorana via na prática musical doméstica dos saraus e nas apresentações das bandas de música um paliativo para seu isolamento em relação ao resto do mundo. E a Província de Goyaz não era exceção. As bandas, civis ou militares, tocavam de tudo e em todo lugar: no coreto, no baile, no teatro, na procissão, na igreja, nas festas das irmandades. Nas missas solenes cantadas por coro e orquestra, os sopros muitas vezes substituíam ou dobravam as poucas cordas existentes. É comum encontrarmos partituras daquela época grafadas “Primeiro violino em si bemol”, prova inconteste de que a parte seria executada por uma clarineta. Até nos recitais de canto, em que árias de ópera eram a tônica do programa, a banda tocava melodias consagradas e aberturas no intervalo do concerto. Na virada do século XX, quando o cinema chega a Vila Boa, as bandas preenchiam com música o mutismo da película (Continua...)
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