Quatro negros, dois ou três problemas

Autores

  • Manoel de Souza e Silva

Resumo

1. linhas soltas? Quatro Negros, de Luís Augusto Fischer, recebe a designação de novela – termo marcado por certa  indefinição no tocante à sua configuração no campo das  obras de  ficção. Tal indefinição talvez se converta, afinal, em força estruturante da obra. Desde o princípio, o narrador faz questão de afirmar­se como alguém identificado com o métier.  “Eu escrevi muita  coisa, tu sabes, mas tem uma que eu deveria ter escrito e não tive  talento,  ou paciência, ou sabedoria  suficiente.”  O  domínio técnico da escrita surge,  como se percebe, mesclado a alguma amargura, resultante da frustração e da falha por não ter escrito “a única história que valia a pena”. A única história que valia a pena é a trajetória de quatro pessoas, cujos destinos  estão impressos, a priori, na  cor da pele  – os  quatro negros  do título.  O  enredo da  novela desenvolve­se  na tentativa  de  entretecer tais  destinos.  Para tanto,  torna­se  necessário fazer o recorte  da  especificidade  do homem negro do pampa,  mais precisamente da região de Caçapava, ou Caçapava do Sul – o que, registre­se,  é feito com rigor e competência. A história dos quatro negros tem seu fio puxado a partir de Janéti, desde o seu nascimento e sua inserção em “família pobre, de negros pequenos proprietários que não cultivavam sua sobrevivência, no meio de um mar de latifúndios de criação de gado”. Na história de Janéti, as carências despontam já no nome, estropiado pela escrita  semi­analfabeta do pai, que acaba transformando Janete em Janéti, em clara vitória da  fala sobre a escrita. Tal traço aparecerá também em seu irmão, auto­nomeado Jorge – em sua recusa do nome “original”, Airton – e com a  caçula, Rosi, identificada como Rosa, o que não lhe causava, aliás, zanga ou preocupação. O quarto negro, Seu Sinhô,  nem nome, propriamente, ostenta, o que o erige numa espécie de símbolo dos sobejos  da memória da escravidão. (Continua...)

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Publicado

28-07-2017

Como Citar

E SILVA, M. de S. Quatro negros, dois ou três problemas. Revista UFG, Goiânia, v. 8, n. 2, 2017. Disponível em: https://revistas.ufg.br/revistaufg/article/view/48110. Acesso em: 23 abr. 2024.

Edição

Seção

Críticas e Resenhas