Dançar a pesquisa

escrita e movimento na prática acadêmica indígena

Autores

  • Amilton Pelegrino de Mattos Universidade Federal do Acre (UFAC), Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil

Palavras-chave:

Pesquisadores indígenas, Corporalidade, Dança, Regimes de conhecimento

Resumo

O texto trata da importância da dança no processo de definição de procedimentos de pesquisa e escrita de acadêmicos da Licenciatura Indígena da Universidade Federal do Acre – Campus Floresta. A partir do relato de três experiências de orientação e colaboração em pesquisas, no caso, duas monografias de conclusão de curso e um projeto de pesquisa, busco refletir sobre a relação entre regimes de conhecimento distintos e suas práticas de linguagem. Em contraste com o pensamento moderno, para o saber e as práticas indígenas, o “corpo” ocupa lugar privilegiado, o que permite problematizar esse encontro de regimes de conhecimento e o modo como ele é elaborado por esses pesquisadores e suas comunidades em práticas de pesquisa e escrita. O texto busca contribuir para o debate em torno da revisão de pressupostos e paradigmas de herança moderna que fecham a Universidade e seus procedimentos para outras concepções de conhecimento e suas práticas.

Referências

CARNEIRO DA CUNHA, M. Apresentação. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 55, n. 1, p. 1-7, 2012.

CARNEIRO DA CUNHA, M. Antidomestication in the Amazon: Swidden and its foes. HAU: Journal of Ethnographic Theory Contact, v. 9, n. 1, p. 126-136, 2019.

CLASTRES, P. A Sociedade contra o Estado. Pesquisas de antropologia política. Tradução de Theo Santiago. Prefácio de Tania Stolze Lima e Marcio Goldman. São Paulo, Cosac Naify, 2003.

COLLET, C. L. G. Ritos de civilização e cultura: a escola bakairi. Tese (Doutorado em Antropologia) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil Platôs: Capitalismo e esquizofrenia 2. Vol. 5. Tradução Peter Pal Pelbart e Janice Caiafa. São Paulo: Editora 34, 1997.

IBÃ, I. S. Nixi pae, O espírito da floresta. Rio Branco: OPIAC/CPI, 2006.

IBÃ, I. S. et al. (Orgs.) Huni meka: Os cantos do cipó. Rio Branco: IPHAN/CPI, 2007.

KENSINGER, K. A body of knowledge, or, the body knows. Expedition (Penn Museum), vol. 33, issue 3, 1991. Disponível em: https://www.penn.museum/sites/expedition/a-body-of-knowledge-or-the-body-knows/ Acesso em: 10 nov. 2020.

KENSINGER, K. How Real People Ought to Live: The Cashinahua of Eastern Peru. Prospect Heights: Waveland Press. 1995.

KOPENAWA, D.; ALBERT, B. A queda do céu. Palavras de um xamã yanomami. Tradução Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

LAGROU, E. M. A fluidez da forma: arte, alteridade e agência em uma sociedade amazônica (Kaxinawa, Acre). Rio de Janeiro: Topbooks, 2007.

LAGROU, E. M. Existiria uma arte das sociedades contra o Estado? Revista de Antropologia, São Paulo, v. 54, n. 2, p. 745-780, 2011.

LAGROU, E. M. Copernicus in the Amazon: ontological turnings from the perspective of amerindian ethnologies. Sociologia & Antropologia, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 133-167, 2018a.

LAGROU, E. M. Copernicus in the Amazon: ontological turnings from the perspective of amerindian ethnologies. Sociologia & Antropologia, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 133-167, 2018a.

LAGROU, E. M. Anaconda-becoming: Huni Kuin image-songs, an Amerindian relational aesthetics. Horizontes antropológicos, Porto Alegre, ano 24, n. 51, p. 17-49, 2018b.

LASSIBILLE, M. Escrever “a dança” em antropologia: a violência da pesquisa na ponta da caneta. Trad. Joana Ribeiro da Silva Tavares e Marito Olsson-Forsberg. Art Research Journal, v. 3, n. 2, p. 27-43, 2016.

LÉVI-STRAUSS, C. O cru e o cozido. Mitológicas I. Tradução Beatriz Perrone-Moisés. Rio de Janeiro: Cosac & Naify, 2004.

LÉVI-STRAUSS, C. História de Lince. Tradução Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

LIMA, D. F. Produção de cartilha com ilustrações da cultura material do povo Puyanawa. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) em Licenciatura Indígena, Universidade Federal do Acre, Cruzeiro do Sul, 2013.

LIMA, T. S. O dois e seu múltiplo: reflexões sobre o perspectivismo em uma cosmologia tupi. Mana, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 21-47, 1996.

LIMA, T. S. A planta redescoberta: um relato do encontro da ayahuasca com o povo Yudjá. Rev. Inst. Estud. Bras., São Paulo, n. 69, p. 118-136, 2018.

MANÁ, J. P. A. K. Músicas do Katxanawa: Ritual da fertilidade do povo Huni Kuin. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) em Licenciatura Indígena, Universidade Federal do Acre, Cruzeiro do Sul, 2013.

MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. Avenida Paulista. Catálogo da exposição. São Paulo: MASP, 2017.

MATTOS, A. P. de. Entre imagens, corpos e terra: transformações do MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin. ClimaCom, Campinas, v. 4, n. 10, 2017. Disponível em: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/entre-imagens-corpos-e-terra-transformacoes-do-mahku-movimento-dos-artistas-huni-kuin/ Acesso em: 10 nov. 2020.

MATTOS, A. P. de. Máquinas de visão: O MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin em suas práticas de experimentação visual. Metamorfose: arte, ciência e tecnologia, Salvador, v. 3, n. 1, p. 49-72, 2018.

MATTOS, A. P. de. Os brancos ouvem a fala da terra? A escuta na pesquisa acadêmica indígena. Eutomia, Revista de Literatura e Linguística, Recife, v. 1, n. 25, p. 17-40, 2019a.

MATTOS, A. P. de. The Visionary Art of Mahku – Huni Kuin Artist Movement. Chacruna, 2019b. Disponível em: https://chacruna.net/the-visionary-art-of-mahku-huni-kuin-artist-movement/ Acesso em: 10 nov. 2020.

MATTOS, A. P.; IBÃ, I. S. O sonho do nixi pae. A arte do MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin. Revista ACENO, Cuiabá, v. 2, n. 3, p. 59-77, 2015.

MATTOS, A. P.; IBÃ, I. S. A Política dos artistas na Pedagogia huni kuin. In: ALBUQUERQUE, G. R. (Org.). Das Margens. Rio Branco: Nepan Editora, 2016a. p. 77-90.

MATTOS, A. P.; IBÃ, I. S. O MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin e outros devires-huni kuin da Universidade. Indisciplinar, v. 2, n. 2. Belo Horizonte: Fluxos, 2016b. p. 53-76.

MATTOS, A. P.; IBÃ, I. S. Why Mahku – Movimento Dos Artistas Huni Kuin – Sing? Tradução de Justyn Robert Grove. GIS – Gesto, Imagem e Som – Revista de Antropologia, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 61-82, 2017a.

MATTOS, A. P. de; IBÃ, I. S.; VALIN, R. P. Sonhar é sentir – Através da Poética do Mahku – Movimento dos Artistas Huni Kuin. ClimaCom, Campinas, ano 6, n. 16, 2019. Disponível em: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/iba-huni-kuin-roberta-paredes-valin-e-amilton-pelegrino-de-mattos-sonhar-e-sentir-atraves-da-poetica-do-mahku-movimento-dos-artistas-huni-kuin/ Acesso em: 10 nov. 2020.

MCCALLUM, C. O corpo que sabe da epistemologia kaxinawá para uma antropologia médica das terras baixas sul-americanas. In: ALVES, P. C.; RABELO, M. C. (orgs.). Antropologia da saúde: traçando identidade e explorando fronteiras. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ/Editora Relume Dumará, 1998. p. 215-245.

OVERING KAPLAN, J. (org.). Social Time and Social Space in Lowland Southamerican Societies. In: Actes du XLIIe Congres International des Americanistes, 1977.

PECHINCHA, M. Teoria na cabeça versus teoria no papel: reflexões sobre conhecimento, oralidade e escrita na escola krahô. Tellus, Campo Grande, ano 11, n. 20, p. 189-213, 2011.

PECHINCHA, M. Performance e educação: uma reflexão de professores krahô sobre a incorporação de ritos e cantos na prática da educação escolar indígena. Inter-ação, Goiânia, v. 41, p. 373-398, 2016.

SEEGER, A.; MATTA, R. da; VIVEIROS DE CASTRO, E. A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras. In: OLIVEIRA FILHO, J. P. Sociedades Indígenas e Indigenismo. Rio de Janeiro: UFRJ/Marco Zero, p. 11-29, 1987 [1979].

SEEGER, A. Por que cantam os Kisêdjê. Tradução Guilherme Werlang. São Paulo: Cosac Naify, 2015.

SEEGER, A. Por que os índios Suya cantam para suas irmãs? In: VELHO, G. Arte e Sociedade: ensaios de sociologia da arte. Tradução Ilana Strozenberg. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977. p. 39-63.

SIÃ, T. M. K. Cantos de Yube Kene: A malha da Jiboia no desenho e na música huni kuin. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) em Licenciatura Indígena, Universidade Federal do Acre, Cruzeiro do Sul, 2013.

SZTUTMAN, R. Perspectivismo Contra o Estado. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 63, n. 1, p. 185-213, 2020.

TAYLOR, A. C.; VIVEIROS DE CASTRO, E. Um corpo feito de olhares. Tradução Daniel Calazans Pierri. Revista de antropologia, São Paulo, v. 62, n. 3, p. 769-818, 2019.

TENE, N. S. K. Nixpu pima: O ritual de passagem do povo Huni Kuin. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) em Licenciatura Indígena, Universidade Federal do Acre, Cruzeiro do Sul, 2013.

VILAÇA, A. Making kin out of others in Amazonia. Journal of the Royal Anthropological Institute, n. 8, p. 346-365, 2002.

VILAÇA, A. Chronically Unstable Bodies: Reflections on Amazonian Corporalities. Journal of the Royal Anthropological Institute, v. 11, n. 3, p. 445-464, 2005.

VIVEIROS DE CASTRO, E. A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.

VIVEIROS DE CASTRO, E. Perspectival Anthropology and the Method of Controlled Equivocation. Tipití, v. 2, n. 1, p. 3-22, 2004. Disponível em: https://digitalcommons.trinity.edu/tipiti/vol2/iss1/1/ Acesso em: 10 nov. 2020.

VIVEIROS DE CASTRO, E. Posfácio: o intempestivo, ainda. In: CLASTRES, P. Arqueologia da violência: investigações de antropologia política. São Paulo: Cosac Naify, 2011.

VIVEIROS DE CASTRO, E. Metafísicas canibais: Elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2015.

Downloads

Publicado

2021-01-21

Como Citar

MATTOS, A. P. de. Dançar a pesquisa: escrita e movimento na prática acadêmica indígena. Hawò, Goiânia, v. 1, p. 1–43, 2021. Disponível em: https://revistas.ufg.br/hawo/article/view/65685. Acesso em: 16 abr. 2024.

Edição

Seção

Dossiê Corpo em Dança: transformações, ritmos e lugares