Indignação e brio: o discurso sobre a improdutividade do trabalhador brasileiro na Folha de S. Paulo
DOI :
https://doi.org/10.5216/ci.v21i3.45353Mots-clés :
Comunicação. Mídia.Résumé
Este artigo consiste em uma análise dialógica do discurso (ADD) que se volta para a construção discursiva sobre a improdutividade do trabalhador brasileiro presente em editorial publicado pela Folha de S. Paulo no mês de abril de 2014. O texto “Brasil improdutivo” recupera enunciações da revista britânica The Economist – que, por sua vez, constrói discursivamente os brasileiros como “gloriosamente improdutivos”. Obliterando vozes dissonantes, o jornal defende as premissas macroeconômicas da ideologia neoliberal e se contrapõe a medidas heterodoxas (keynesianas) que até então eram sustentadas pelos governos petistas. Posicionando-se a favor do capital, a publicação brasileira não apenas assume, mas intensifica a crítica estrangeira, reforçando a utilização do estereótipo cultural, de longa duração, que remete à imagem do brasileiro ocioso. No que diz respeito às noções de produtividade e trabalho, a análise identifica uma compreensão ideologicamente orientada para a lógica da acumulação de riquezas para poucos à custa da exploração de muitos. Quando se diz, então, que o trabalhador brasileiro ou que o Brasil é improdutivo, faz-se alusão à ideia de que ambos (país e trabalhador) deveriam produzir mais, gerar mais lucro. Tal denúncia é importante, haja vista que esses enunciados não se restringem às páginas opinativas dos jornais, mas permanecem em circulação, influenciando ideologias cristalizadas e também práticas do cotidiano, interferindo na constituição de uma consciência de si dos brasileiros, bem como na imagem que os outros (o mundo) têm deles (de nós).
Palavras-chave: Neoliberalismo e keynesianismo. Trabalhador brasileiro. Trabalhador improdutivo. Análise dialógica de discursos jornalísticos.
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