Mídia, UPPs e megaeventos: estratégias discursivas de legitimação de uma política de segurança pública
DOI :
https://doi.org/10.5216/38758Mots-clés :
Mídia. Segurança. Favela. Cidade.Résumé
Entre 2007 e 2016, o Rio de Janeiro ingressou no circuito dos megaeventos esportivos internacionais. A partir de então, as três esferas governamentais vêm promovendo uma série de políticas públicas de modo a reconfigurar estética e urbanisticamente a cidade. Discursivamente, a estratégia envolve a refundação da “Cidade Maravilhosa” e a exaltação dos aludidos atributos pitorescos do carioca, tais como simpatia, irreverência e hospitalidade. Além dos já conhecidos ícones, que remetem a uma cultura do hedonismo, como samba, carnaval e futebol, a favela torna-se outro elemento a ser incorporado ao branding carioca. Para atrair turistas, investidores e atender às demandas de lei e ordem da elite carioca, contudo, o projeto em curso conta, fundamentalmente, com a ocupação policial dessas mesmas favelas: as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que, ao mesmo tempo em que permitem o acesso das elites a áreas até então consideradas violentas, promovem a migração dos moradores de menor poder aquisitivo para bairros mais afastados e precários. A lógica em vigor passa a ser então a do consumo como pré-requisito da cidadania: o acesso à “Cidade Maravilhosa”, tão cobiçada por todo o mundo, fica restrito a uma pequena parcela da população.
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