Acerca do estatuto da imagem nas redes digitais

notas a partir de um levante político

Autores

  • Eli Borges Júnior Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil, ridolfi.eli@gmail.com

DOI:

https://doi.org/10.5216/ci.v23.66000

Palavras-chave:

Imagem, Redes digitais, Sentir, Percepção, Neda Agha-Soltan.

Resumo

O presente artigo decorre de um projeto de pesquisa em que se pretendeu formular uma proposição teórica sobre os modos e meios de operação das imagens em contextos digitais. Procurando trilhar um caminho fenomenológico de reflexão, o artigo debruça-se sobre o caso Neda Agha-Soltan, jovem assassinada no Irã durante um protesto político no ano de 2009. As imagens de sua morte ganhariam vasta repercussão, reaparecendo inclusive em manifestações posteriores, sobretudo da chamada Primavera Árabe. A partir desse caso – sem, no entanto, qualquer pretensão de generalizar nossas proposições –, buscamos abrir uma possível chave por meio da qual possamos identificar certos aspectos particulares a um tipo de imagem gerada e disseminada a partir do elemento digital. Em certa medida legatária da eletricidade e da reprodutibilidade técnica (W. Benjamin), essa imagem, reformulada, a penetrar as mais variadas esferas da vida com a explosão das tecnologias digitais, sugere reverberar – de modo ainda mais extremo – ecos de uma crise da percepção já anunciada pelo filósofo alemão. Diante disso, indagamos: em que medida a hipertrofia dessas imagens digitais abrir-nos-ia um flanco para vislumbrar mesmo uma relação outra com as imagens, um novo modo de acessá-las e percebê-las? Como poderíamos descrever seus modos de operação sobre nós? Reconhecendo a vastidão do tema e de caminhos possíveis para uma abordagem do mesmo, este texto procura, atravessando noções congruentes de outros autores, problematizar essas questões dilemáticas a partir, sobretudo, da noção de imagem digital como uma espécie de “superfície” comum, território de compartilhamento do sentir.

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Biografia do Autor

Eli Borges Júnior, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil, ridolfi.eli@gmail.com

Bacharel em Comunicação Social e em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Doutor e mestre em Ciências da Comunicação pela mesma instituição. Foi bolsista de doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP): Processo n. 2016/03588-7.

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Publicado

2020-12-09

Como Citar

BORGES JÚNIOR, E. Acerca do estatuto da imagem nas redes digitais: notas a partir de um levante político. Comunicação & Informação, Goiânia, Goiás, v. 23, 2020. DOI: 10.5216/ci.v23.66000. Disponível em: https://revistas.ufg.br/ci/article/view/66000. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Dossiê Cinema, Mídia e Tecnologia – narrativas e linguagens nas paisagens