Mídia, UPPs e megaeventos: estratégias discursivas de legitimação de uma política de segurança pública

Autores

  • Pedro Barreto Pereira Universidade Federal do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.5216/38758

Palavras-chave:

Mídia. Segurança. Favela. Cidade.

Resumo

Entre 2007 e 2016, o Rio de Janeiro ingressou no circuito dos megaeventos esportivos internacionais. A partir de então, as três esferas governamentais vêm promovendo uma série de políticas públicas de modo a reconfigurar estética e urbanisticamente a cidade. Discursivamente, a estratégia envolve a refundação da “Cidade Maravilhosa” e a exaltação dos aludidos atributos pitorescos do carioca, tais como simpatia, irreverência e hospitalidade. Além dos já conhecidos ícones, que remetem a uma cultura do hedonismo, como samba, carnaval e futebol, a favela torna-se outro elemento a ser incorporado ao branding carioca. Para atrair turistas, investidores e atender às demandas de lei e ordem da elite carioca, contudo, o projeto em curso conta, fundamentalmente, com a ocupação policial dessas mesmas favelas: as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que, ao mesmo tempo em que permitem o acesso das elites a áreas até então consideradas violentas, promovem a migração dos moradores de menor poder aquisitivo para bairros mais afastados e precários. A lógica em vigor passa a ser então a do consumo como pré-requisito da cidadania: o acesso à “Cidade Maravilhosa”, tão cobiçada por todo o mundo, fica restrito a uma pequena parcela da população.

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Biografia do Autor

Pedro Barreto Pereira, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, vinculado à linha de pesquisa Mídias e Mediações Socioculturais, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil, Rio de Janeiro. Mestre em Comunicação e Cultura pelo mesmo programa e linha de pesquisa.

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Publicado

2015-12-04

Como Citar

PEREIRA, P. B. Mídia, UPPs e megaeventos: estratégias discursivas de legitimação de uma política de segurança pública. Comunicação & Informação, Goiânia, Goiás, v. 18, n. 2, p. 180–197, 2015. DOI: 10.5216/38758. Disponível em: https://revistas.ufg.br/ci/article/view/38758. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Caderno Casadinho Procad UFG - UFRJ