Batuque: um grito de resistência - gestos, sons e identidades afro-diaspóricas no Brasil, Portugal e Cabo Verde

Resumo

O artigo investiga o batuque nos contextos brasileiro e português, buscando compreender sua relevância como símbolo de resistência e identidade cultural. A partir do corpo humano como eixo, são analisadas as dimensões musical-coreográfica, social, religiosa e comunicacional em manifestações afro-brasileiras –  Maculelê, Tambor de Crioula, Coco de Zambê, Samba de Roda, Jongo, Candomblé, Umbanda e Capoeira – e na tradição cabo-verdiana do Batuko, atualmente presente em Portugal. A análise se apoia no conceito de “Motrizes Culturais” (Ligiéro, 2011), que considera a presença do trio cantar-dançar-batucar; a organização do espaço performativo; a figura do mestre; a simultaneidade entre ritual e jogo; a sacralidade do espaço e o transe. Foram incorporadas entrevistas realizadas com o musicólogo Jorge Castro Ribeiro (Portugal, 2023) e com o pesquisador e dançarino Mestre Petchu (Portugal, 2021). Os resultados revelam que o batuque, mais do que um ritmo ou dança coletiva, é um impulso vital inscrito no corpo; um modo de vida, uma crença, um meio expressivo e comunicacional; uma inspiração e uma arma simbólica contra o preconceito e a dominação colonial. Trata-se, enfim, de uma prática que se afirma como gesto de resistência e de reafirmação identitária nos contextos contemporâneos.