Sustentabilidade

sobre o quê estamos falando?

Autores

  • Romênia Oliveira de Souza Universidade Federal do Cariri (UFCA), Juazeiro do Norte, Ceará. romenia.o.de.souza@gmail.com

DOI:

https://doi.org/10.5216/teri.v11i1.69755

Palavras-chave:

sustentabilidade; desenvolvimento sustentável; racionalidade econômica e instrumental; racionalidade ambiental.

Resumo

Na língua portuguesa, coisas diferentes estão contempladas no conceito de desenvolvimento sustentável. A discussão sobre desenvolvimento, em si, há muito tempo, levanta questionamentos críticos sobre sua impossibilidade, dada a estrutura inerente ao capitalismo e às desigualdades que o sustentam. Com o qualificativo sustentável, o que deveria ser a solução para problemas provocados pela busca do desenvolvimento a qualquer custo, torna-se uma imensa contradição. A publicidade, os governos, as empresas se apropriam deste termo com a intenção de disseminar uma imagem pública de atores comprometidos com tal desenvolvimento. Contudo, não raras vezes, seus porta-vozes falam, por exemplo, em exploração sustentável da natureza, algo expressamente impossível. Se há exploração, não pode ser sustentável. Estes atores são conscientes disto. Escrever um artigo para esclarecer sobre o assunto é oportuno. E eu penso, principalmente, em estudantes, pesquisadores, atores sociais que, verdadeiramente, desconhecem as nuances e críticas existentes no debate corrente. Que se encontram confusos, como um dia eu estive quando comecei a estudar sobre o assunto. Após pesquisa bibliográfica, reuni seis modelos de desenvolvimento sustentável a partir de racionalidade econômica-teórica-instrumental-tecnológica, da economia ambiental neoliberal e da geopolítica do desenvolvimento, analisando-os criticamente: a sustentabilidade retórica; ao anterior, outro modelo com acréscimo de ‘melhorias’ culturais e neuroplástica; o neocapitalista; do capitalismo natural; a economia verde; e o ecossocialismo. Todos eles são contraditórios, embora bastante difundidos. Em contraposição, sob a chamada racionalidade ambiental, compilei as contribuições de seis cosmologias e de dois modelos de sustentabilidade, há muito praticados, embora não o sejam contemplados sob esta perspectiva: o zen budismo; o taoísmo; o confucionismo; as filosofias africanas (destaque para categoria ontológica do ubuntu); o sufismo; as filosofias do bem-viver; a bioeconomia e o ecodensenvolvimento; e a economia solidária. Seguindo Enrique Leff, utilizo apenas o substantivo sustentabilidade para diferenciá-lo de desenvolvimento sustentável, evidenciando o comprometimento com valores outros que não são contemplados pelo conceito economicista. E rompendo, sempre que possível, com as conotações negativas que o nome desenvolvimento traz consigo. Ao final, acredito ter elucidado e desmistificado o que é a tal sustentabilidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Romênia Oliveira de Souza, Universidade Federal do Cariri (UFCA), Juazeiro do Norte, Ceará. romenia.o.de.souza@gmail.com

Mestra em Desenvolvimento regional sustentável (Universidade Federal do Ceará), especialista em Administração financeira e bacharela em Ciências Econômicas (Universidade Regional do Cariri). Pesquisadora do Observatório das Migrações no Estado do Ceará (OMEC-URCA) e do Laboratório de Estudos Urbanos, Sustentabilidade e Políticas Públicas (LAURBS-UFCA).

Referências

ACOSTA, Alberto. O Buen Vivir: Uma oportunidade de imaginar outro mundo. In: BARTELT, Dawid Danilo (org.). Um campeão visto de perto: Uma análise do modelo de desenvolvimento brasileiro. Série Democracia. Rio de Janeiro: Heinrich Böll Foundation, 2012.

BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é, o que não é. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2012.

BOUDON, Raymond; BESNARD, Philippe; CHERKAOUI, Mohamed; LÉCUYER, Bernard-Pierre. Dicionário de sociologia. Trad. de António J. Pinto Ribeiro. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1990.

CHIANG, Alpha C.; WAINWRIGHT, Kevin. Matemática para economistas. Trad. de Fundamental methods of mathematical economics de Arlete Simille Marques. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. 6ª reimpressão.

COEN, Monja. 108 contos e parábolas orientais. São Paulo: Planeta, 2015.

FOLTER, Regiane. Ecofeminismo: você sabe o que é? In: Politize! Publicado em 23/01/2020. Disponível em:< https://www.politize.com.br/o-que-e-ecofeminismo/> Acesso em 19/07/2021.

FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si’ do Santo Padre Francisco sobre o cuidado da casa comum. Documentos do magistério. São Paulo: Paulos Editora; Loyola Jesuítas, 2015.

GUJARATI, Damodar. Econometria básica. Trad. de Basic econometrics, 4th ed, de Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006 – 4ª reimpressão.

HERZFELD, Michael. Antropologia: prática teórica na cultura e na sociedade. Trad. de Noéli Correia de Melo Sobrinho de Anthropology: theoretical practice in culture and society. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

LATOUCHE, Serge. Pequeno tratado do decrescimento sereno. Trad. de Claudia Berliner de Petit traité de la décroissance sereine. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.

LEFF, Enrique. Ecologia, capital e cultura. A territorialização da racionalidade ambiental. Trad. de Jorge E. Silva de Ecología y capital. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

LOPES, Alice Casimiro; MACEDO, Elizabeth. Teorias de currículo. São Paulo: Cortez, 2011.

LÓPEZ AREU, Mario. Gandhi, 150 anos depois. “Minha vida é minha mensagem”. Artigo originalmente publicado por El Diario, 25/07/2019 e traduzido pelo Cepat. In: Revista IHU on-line. Disponível em: < Gandhi, 150 anos depois. "Minha vida é minha mensagem" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU> Acesso em: 16/07/2021.

MORAES, Orozimbo José de. Economia ambiental. Instrumentos econômicos para o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Centauro, 2009.

OSHO. Confiança: a arte de se entregar à vida e confiar em si mesmo. Trad. de Denise de Carvalho Rocha de Trust – living your life spontaneously and open. São Paulo: Cultrix, 2016.

OSHO. Tao: sua história e seus ensinamentos. Trad. de Leonardo Freire de Tao: its history and teachings. São Paulo: Cultrix, 2014.

OTSU, Roberto. A sabedoria da natureza. Taoísmo, I Ching, Zen e os ensinamentos essênios. São Paulo: Ágora, 2006.

PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 5ª ed. Trad. de Microeconomics – fifth editions de Eleutério Prado. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

POCHMANN, Marcio. Desenvolvimento sustentável na transição da sociedade urbano-industrial. In: VELLOSO, João Paulo dos Reis (org.). Brasil, novas oportunidades: economia verde, pré-sal, carro elétrico, Copa e Olimpíadas. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010.

RAMOSE, Mogobe B. Globalização e Ubuntu. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (org.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010.

ROHDEN, Huberto. O espírito da filosofia oriental. São Paulo: Martin Claret, 2008.

SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.

SANDRONI, Paulo. Novíssimo dicionário de economia. 12ª ed. São Paulo: Editora Best Seller, 2003.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. In: ____; MENESES, Maria Paula (org.). Epistemologias do sul. São Paulo: Cortez, 2010.

SANTOS, Delano de Jesus Silva. O sufismo na Índia Medieval. In: Sacrilegens – Revista dos alunos do programa de pós-graduação em Ciência da Religião – UFJF. Juiz de Fora, v.10, n.2, pp. 81-95, jul.-dez./2013. Disponível em: <http://www.ufjf.br/sacrilegens/files/2014/07/10-2-7.pdf> Acesso em: 16/07/2021.

SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2002.

SOUZA, Romênia Oliveira de. Por outros modos de perceber a pobreza: Narrativas imagéticas de moradores do bairro Alto da Penha, em Crato-Ceará. (Dissertação de mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentável). Juazeiro do Norte, CE: UFCA, 2014.

SUZUKI, Daisetz Teitaro. Uma introdução ao zen-budismo. Trad. de Eloise de Vylder de Na introduction to Zen Buddhism. Apresentação de Monja Coen. São Paulo: Mantra, 2017.

Downloads

Publicado

2021-12-28 — Atualizado em 2021-12-29

Como Citar

OLIVEIRA DE SOUZA, R. Sustentabilidade : sobre o quê estamos falando?. Revista Terceiro Incluído, Goiânia, v. 11, n. 1, 2021. DOI: 10.5216/teri.v11i1.69755. Disponível em: https://revistas.ufg.br/teri/article/view/69755. Acesso em: 18 abr. 2024.

Edição

Seção

ARTIGOS