Que humano é esse das humanidades digitais?

Por uma crítica hacker-fanoniana ao fardo do nerd branco

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.5216/rth.v26i1.76256

Palabras clave:

humanidades digitais, colonialismo digital, eurocentrismo, racialização codificada, Frantz Fanon

Resumen

Neste artigo propomos um diálogo entre as teorias antirracistas e o campo das humanidades digitais, fundamentado no pensamento de Frantz Fanon e nas produções teóricas do hacktivismo. Abordamos algumas possibilidades da história em uma sociedade digitalizada, mas também as contradições que se manifestam no fenômeno. As relações entre capitalismo, colonialismo e racismo são fundamentais para as pesquisas calcadas nas humanidades digitais. Embora o colonialismo, em Fanon, seja, antes de mais nada, uma forma particular de exploração econômica, a sua reprodução seria inviável sem o recurso a formas particulares de dominação e soberania onde os quais o racismo se apresenta como elemento fundamental. No artigo, partindo do método fanoniano da sociogênia, buscamos articular esses saberes com o campo das humanidades e história digital. No entanto, a natureza e a profundidade das violências que acompanharam o advento da modernidade e mesmo do humanismo ocidental, mas também a sua crítica nos permitem levantar as seguintes perguntas: que humano é esse das humanidades digitais? Quais possibilidades de contribuição teórica para a História emergem do entrecruzamento entre a crítica hacker-fanoniana e as humanidades digitais? O colonialismo está plasmado na teoria da história, sob a égide da ideologia do eurocentrismo, ocultando produções teóricas africanas e afrodiaspóricas, desdenhando das ferramentas intelectuais, métodos e conceitos cruciais para a compreensão de nossa sociedade. Assim como na cibercultura, o colonialismo digital projeta a ideologia californiana com a reabilitação do fardo do homem branco, agora reelaborado sob a égide do fardo do nerd branco. Aqui se projeta o horizonte dos Estudos Hacker-Fanonianos, o uso das tecnologias digitais na pesquisa e docência, deve acompanhar a compreensão de que modo eles são possíveis, quais relações de produção ocultam, como se realizam.

Biografía del autor/a

Deivison Mendes Faustino, Universidade Federal de São Paulo, Santo André, São Paulo, Brasil, deivison.faustino@unifesp.br

Currículo: http://lattes.cnpq.br/1381425552378145

Walter Lippold, Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil, prof.walter@proton.me

Currículo: http://lattes.cnpq.br/9363438914171650

Citas

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Publicado

2023-07-27

Cómo citar

MENDES FAUSTINO, D.; LIPPOLD, W. Que humano é esse das humanidades digitais? Por uma crítica hacker-fanoniana ao fardo do nerd branco. Revista de Teoria da História, Goiânia, v. 26, n. 1, p. 120–143, 2023. DOI: 10.5216/rth.v26i1.76256. Disponível em: https://revistas.ufg.br/teoria/article/view/76256. Acesso em: 17 jul. 2024.