Outros modos de pensar e sonhar

A experiência onírica em Reinhart Koselleck, Ailton Krenak e Davi Kopenawa

Autor/innen

  • Thamara de Oliveira Rodrigues Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Divinópolis, Minas Gerais, Brasil, thamara_rodrigues@yahoo.com.br

DOI:

https://doi.org/10.5216/rth.v23i1.62894

Schlagworte:

Sonhos/experiência onírica; Ailton Krenak; Davi Kopenawa; filosofias ameríndias; Reinhart Koselleck

Abstract

A partir de uma prática epistêmica que procura assegurar a diferença, este trabalho se constitui em um diálogo necessário entre a Teoria da História e áreas afins, a saber: a Filosofia e a Antropologia, e integra uma pesquisa que investiga as reflexões de Reinhart Koselleck, Ailton Krenak e Davi Kopenawa sobre a experiência onírica. Neste artigo, procuro destacar que as abordagens dos autores sobre os sonhos oferecem aberturas críticas aos modos de vida e de pensar ocidental, impactando nossa relação com o conhecimento e também com os desafios sócio-políticos atuais. O artigo realiza, inicialmente, um breve panorama do que seria a atividade onírica no interior da tradição ocidental. Em seguida, na contramão dessa trajetória, são apresentadas as reflexões de Koselleck e dos autores ameríndios. Na última seção, justifica-se a escolha epistemológica, ética e política pelos autores e pelo tema junto à perspectiva da “história dos vencidos” (dos silenciados) proposta por Koselleck, buscando contribuir para os exercícios de desconstrução da colonialidade.

Autor/innen-Biografie

Thamara de Oliveira Rodrigues, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Divinópolis, Minas Gerais, Brasil, thamara_rodrigues@yahoo.com.br

Professora da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Licenciada (2011), mestre (2014) e doutora (2019) em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Realizou estágio durante o mestrado e o doutorado no Departamento de Literatura Comparada da Universidade de Stanford (2014/2017-2018). Possui pesquisas ligadas à Teoria da História, à História da Historiografia Brasileira, às Epistemologias Populares e à História do Brasil Imperial e Contemporâneo. É uma das editoras responsáveis pelo portal HH Magazine: Humanidades em rede, voltado para divulgação pública do conhecimento relacionado às Ciências Humanas. Integra a huManas: pesquisadoras em rede e o Laboratório X de Encruzilhadas Filosóficas (UFRJ). Entre seus projetos atuais dedica-se à investigação do pensamento onírico e sua relação com a experiência histórica e com a temporalidade contemporânea. Também investiga formas de experiência estética da cultura cotidiana brasileira dos anos 1970. Foi professora substituta de História do Brasil Contemporâneo na UFOP (2019) e professora do curso de Especialização Lato Sensu em História do Brasil da Universidade Católica de Petrópolis (2013-2014).

Literaturhinweise

ARAUJO, Valdei. História da historiografia como analítica da historicidade. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, v. 6, n. 12, p. 34-44, 2013.

ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Antissemitismo, imperialismo, totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

AUERBACH, Erich. Mimeses. A representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Perspectiva, 2011.

BERADT, Charlotte. Sonhos do Terceiro Reich. Com o que sonhavam os alemães depois da ascensão de Hitler. São Paulo: Três estrelas, 2017.

BIANCHI, Guilherme. Arquivo histórico e diferença indígena: repensando os outros da imaginação histórica ocidental. In.: Revista de Teoria da História, v. 2, n. 0, p. 264-296, 2019.

BRASIL. Lei nº 11.645 de 10 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Brasília, 2008.

CHAKRABARTY, Dipesh. Provincializing Europe: Postcolonial thought and historical difference. Princeton University Press, 2008.

COSTA LIMA, Luiz. O Controle do Imaginário. Razão e imaginação nos tempos modernos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989.

DERRIDA, Jacques. Mitologia branca. In: Margens da Filosofia. Campinas: Papirus, 1991, p. 249-314.

DESCARTES, René. Meditações metafísicas. Coleção “Os pensadores”. São Paulo: Editora Abril, 1973, p. 81-152.

DOMANSKA, Ewa. El “viarajeperformativo” en la humanística actual. Criterios, La Habana. N. 37, p. 125-142, 2011.

DOMANSKA, Ewa. The Material Presence of the Past. History and Theory, n. 45, p. 337-348, October 2006.

DOMANSKA, Ewa. “Affirmative Humanities”. In.: History-theory-criticism, n. 1, p. 9-26, 2018.

FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação. Cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Unesp, 2000.

FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Rio de Janeiro: Imago editora, 1999.

FREUD, Sigmund. Revisão da teoria onírica. In. Obras completas (1930-1936), v. 18. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 126-157.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis: Vozes, 1997.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Nosso amplo presente. O tempo e a cultura contemporânea. São Paulo: Ed. Unesp, 2015.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Atmosfera, ambiência, Stimmung. Sobre um potencial oculto na literatura. Rio de Janeiro: Contraponto/PUC-RJ, 2014.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de Presença. O que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto/PUC-RJ, 2010.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Pirâmides do espírito. Sobre a rápida ascensão, as dimensões invisíveis e o súbito esmorecimento do movimento da história dos conceitos. In.: Graciosidade e Estagnação – Ensaios escolhidos. Rio de Janeiro: Contraponto/PUC-Rio, 2012, p. 15-59.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Da hermenêutica edipiana à filosofia da presença. [Uma fantasia autobiográfica]. In.: Serenidade, presença e poesia. Belo Horizonte: Relicário, 2016, p. 131-158.

HADDOCK-LOBO, Rafael. Os fantasmas da colônia. Notas de Desconstrução e Filosofia Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Ape’Ku, 2020.

HADDOCK-LOBO, Rafael. Por que Filosofia popular brasileira? In.: HH Magazine: humanidades em rede. 22 de janeiro de 2020. Disponível em: https://hhmagazine.com.br/por-que-filosofia-popular-brasileira/. Último acesso em: 02/02/2020.

HADDOCK-LOBO, Rafael. Por uma filosofia das matas. HH Magazine: humanidades em rede. 12/06/2019. Disponível em: http://hhmagazine.com.br/809-2/. Último acesso em: 05/02/2020.

HADOT, Pierre. Reflexões sobre a noção de “cultura de si”. In.: Revista Filosófica de Coimbra, n. 51, p. 183-204, 2017.

HEIDEGGER, Martin. A questão da Técnica. In: scientiæ zudia, São Paulo, v. 5, n. 3, p. 375-98, 2007.

HOFFMANN, Stefan-Ludwig. Koselleck, Arendt, and the Anthropology of Historical Experience. History and Theory, n. 49, p. 212-236, 2010.

HUSSERL, Edmund. Meditações Cartesianas: uma introdução à fenomenologia. Porto: Rés, s.d.

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu. Palavras de um xamã Yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado. Contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto, PUC-Rio, 2006.

KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise. Uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Rio de Janeiro: Ed. UERJ/Contraponto, 1999.

KOSELLECK, Reinhart. Posfácio. In.: Sonhos do Terceiro Reich. Com o que sonhavam os alemães depois da ascensão de Hitler. São Paulo: Três estrelas, 2017, p. 163-182.

KOSELLECK, Reinhart. The practice of conceptual history: timing history, spacing concepts. Stanford: Stanford University Press, 2002.

KOSELLECK, Reinhart. Estratos de tempo. Estudos sobre História. Rio de Janeiro: Contraponto/PUC-RIO, 2014, p. 229-246.

KRENAK, Ailton. Antes, o mundo não existia. In.: NOVAES, Adauto. Tempo e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 201-204.

KRENAK, Ailton. Ideais para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das letras, 2019.

KRENAK, Ailton. O tradutor do pensamento mágico. Entrevista. Revista Cult, ano 22, edição 251, 2019, p. 10-17.

LIBRANDI-ROCHA, Marília. A Carta Guarani Kaiowá e o direito a uma literatura com terra e das gentes. In.: Estudos de literatura brasileira contemporânea, n. 44, p. 165-191, 2014.

LIBRANDI-ROCHA, Marília. Escutar a escrita: por uma teoria literária ameríndia. O eixo e a roda, v. 21, p. 179-202 n. 2, 2012.

LÖWITH, Karl. Meaning in History. Chicago and London: The University of Chicago Press, 1949.

MBEMBE, Achille. Crítica da Razão Negra. Lisboa: Antígona, 2014.

RANGEL, Marcelo; ARAUJO, Valdei. Introduction - Theory and History of Historiography: from the Linguistic Turn to the Ethical-Political Turn. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, v. 8, n. 17, p. 333-346, 2015.

RANGEL, Marcelo. The urgency of the ethical: the ethical-political turn in the theory of history and in the history of historiography. Ponta de lança (UFS), v. 13, p. 27-46, 2019.

RIBEIRO, Sidarta. O oráculo da noite. A história e a ciência do sonho. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

RODRIGUES, Thamara de Oliveira. Theory of history and history of historiography: Openings for unconventional histories. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, v. 12, n. 29, p. 96-123, 2019.

RUFINO, Luiz; SIMAS, Luiz Antonio. Fogo no mato: A ciência encantada das macumbas. Rio de Janeiro: Mórula, 2018.

RUFINO, Luiz; SIMAS, Luiz Antonio. Flecha no tempo. Rio de Janeiro: Mórula, 2019.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. In: SANTOS, Boaventura de Sousa. (Org.). Conhecimento prudente para uma vida decente. Um discurso sobre as ciências revisitado. São Paulo: Cortez, 2004, p. 735-768.

SCHMITT, Jean-Claude. Os vivos e os mortos na sociedade medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

SCHMITT, Jean-Claude. Corpo, os ritos, os sonhos, o tempo: Ensaios de antropologia medieval. Petrópolis: Editora Vozes: 2018.

SEBASTIÁN, Javiér Fernández; FUENTES, Juan Francisco. Conceptual history, memory, and identity: an interview with Reinhart Koselleck. In.: Contributions to the History of Concepts, v. 2, 2006, p. 99-127.

OLSEN, Niklas. History in the plural – An introduction to the work of Reinhart Koselleck. New York/Oxford: Berghahn, 2012.

TAYLOR, Charles. As fontes do “self”: a construção da identidade moderna. São Paulo: Loyola, 2010.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas canibais. Elementos para uma antropologia pós-estruturais. São Paulo: Ubu, 2009a.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. The gift and the given: Threenano-essays on kinship and magic. In.: BAMFORD, Sandra; LEACH, James (Ed.). Kinship and beyond: the genealogical model reconsidered. New York: Berghahn Books, 2009b, p.237-268.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Prefácio – O recado da mata. In.: A queda do céu. Palavras de um xamã Yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 11-41.

Veröffentlicht

2020-07-31

Zitationsvorschlag

DE OLIVEIRA RODRIGUES, T. Outros modos de pensar e sonhar: A experiência onírica em Reinhart Koselleck, Ailton Krenak e Davi Kopenawa. Revista de Teoria da História, Goiânia, v. 23, n. 1, p. 152 – 177; 178 , 2020. DOI: 10.5216/rth.v23i1.62894. Disponível em: https://revistas.ufg.br/teoria/article/view/62894. Acesso em: 25 nov. 2024.