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A angústia de Adão na América

Autores

  • Maria Bernardete Ramos Flores Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, mbernaramos@gmail.com

DOI:

https://doi.org/10.5216/rth.v23i2.65405

Palavras-chave:

angústia, arte metafísica, Kierkegaard

Resumo

A viagem metafísica de Adán Buenosayres, protagonista da novela de mesmo nome, escrita pelo poeta argentino Leopoldo Marechal, provocou o encontro com Xul Solar e Ismael Nery, o primeiro, argentino e o segundo, brasileiro. A tônica do encontro fundou-se na arte marcada pela estética da angústia, de raiz cristã-adâmica-kierkegaardiana, própria da linguagem dos poetas e pintores que comunicaram o desassossego no mundo contingente, e desejaram transcender o tempo e o espaço, à busca do Paraíso perdido ou da infância da humanidade. A arte metafísica foi a linguagem estética que ajudou o artista agônico a reconectar-se com o infinito e a encontrar a essência da humanidade. O afeto agônico que irrigou a arte de Leopoldo, Xul e Ismael, alçados aqui a signos da angústia na América, é parte da ansiedade cultural que se dá no plano psíquico no quadro da civilização ocidental. Portanto, a arte metafísica de traço agônico, praticada na América, vem da mesma fonte, a fonte bíblica, que irrigou a angústia na metrópole, a Europa.

Biografia do Autor

Maria Bernardete Ramos Flores, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, mbernaramos@gmail.com

Professora Titular Aposentada do Departamento de História da UFSC. Graduada em História pela Universidade do Vale do Itajaí (1973), Mestre em História - UFSC (19790), Doutora em História - PUC/SP (1991), Pós-Doutorado - Universidade Nova de Lisboa/University of Maryland (1999-2000), Pós-Doutorado - IDAES - Universidad de San Martín (2009-2010). Professora visitante na Universidade de Salamanca (2003). Ano Sabático na University of California - Campus Davis (1994). Prêmio Destaque de Pesquisa - Centro de Filosofia e Ciência Humanas (2010). Dedica-se à pesquisa de História e Arte, Modernidade e Estética, Teoria da Imagem e Teoria da História. Atua na Linha de Pesquisa História da Historiografia, Arte, Memória e Patrimônio, do Programa de Pós-Graduação em História da UFSC. Entre diversos artigos e livros publicados, destacam-se as obras Tecnologia e Estética do Racismo. Ciência e Arte na Política da Beleza (2007), pela Argos Editora, e Xul Solar e Ismael Nery entre outros Místicos Modernos. Sobre o revival espiritual, 2017, pela editora Mercado de Letras (http://lattes.cnpq.br/5420701895494855).

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Publicado

2020-12-22

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Como Citar

RAMOS FLORES, M. B. A angústia de Adão na América. Revista de Teoria da História, Goiânia, v. 23, n. 2, p. 66–92, 2020. DOI: 10.5216/rth.v23i2.65405. Disponível em: https://revistas.ufg.br/teoria/article/view/65405. Acesso em: 24 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos de dossiê