O inesgotável e elegante trabalho da memória, que reconstrói, performa e elabora

Autores

  • Ronaldo Filho Manzi Faculdade de Inhumas (FacMais), Inhumas, Goiás, Brasil, manzifilho@hotmail.com
  • Maria Letícia Reis Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, São Paulo, Brasil, marileoliveira@hotmail.com

DOI:

https://doi.org/10.5216/rth.v23i2.65108

Palavras-chave:

memória, autobiografia, diário, reconstrução, perda da experiência

Resumo

O presente texto visa repensar a compreensão da autobiografia e do diário: memória, reconstrução e memória performativa versus instantaneidade e tempo congelado. Articulando a filosofia de Walter Benjamin, no que concerne à perda de experiência do sujeito moderno e sua incapacidade de narrar, trazemos ao debate a acepção de memória em psicanálise e sua relação ao esquecimento e à elaboração. A forma diário que domina as redes sociais nos mostra uma mudança significativa de nossa forma de ser (de nossa forma de lidar com nossa própria história), em que a “sinceridade”, a exigência do imediato, seja o “mais real”. O que está em jogo nessa mudança – de uma escrita de si que era guardada à sete chaves à exposição de si diária nas redes sociais?

Biografia do Autor

Ronaldo Filho Manzi, Faculdade de Inhumas (FacMais), Inhumas, Goiás, Brasil, manzifilho@hotmail.com

Graduado em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (UCG, 2004) e formado em psicanálise pelo Centro de Estudos Psicanalíticos (CEP, 2012). Possui mestrado em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP, 2007). Doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP, 2013) e pela Radboud Universiteit Nijmegen (RUN, 2013) (co-tutela). Pós-doutor em filosofia (USP, 2017) e em Psicologia Social (USP, 2019). Publicou os livros: Quand les corps s?envahissent ? Merleau-Ponty face à la psychanalyse (EUE, 2018); Memória, ato performativo e patologia do social ? de permeio com a filosofia, a psicanálise e a literatura (Kotter, 2019); Complexo de Édipo em Freud e Lacan ? Uma introdução à fobia do pequeno Hans (Via Lettera, 2019); Exemplos, exceções, metáforas... ? Um estudo epistemológico da psicanálise (Clube de Autores, 2019); A ordem das razões e a desconstrução - Formas de pensar a história da filosofia (Clube de Autores, 2019); Uma leitura sobre ideologia, mídia e educação - o que é ficção e o que é real? (Brazil Publishing, 2020); Quando os corpos se invadem - Merleau-Ponty face à psicanálise (Brazil Publishing, 2020); ?Uma fera sempre à espreita? ? o que é fantasia em Freud? (Brazil Publishing, 2020 (no prelo)); Conversas com Husserl ? Não exatamente contra, mas a partir de... (Brazil Publishing, 2020 (no prelo)) Co-organizou os livros A filosofia após Freud (Humanitas, 2008) e Paisagens da Fenomenologia francesa (UFPR, 2011). Publicou artigos em periódicos especializados, além de diversas traduções de artigos e revisões de livros. Atua principalmente nas áreas da Filosofia da Educação, Fenomenologia francesa, Psicanálise e da Epistemologia da Psicanálise. É membro executivo do grupo de pesquisa do Laboratório de Estudos em Teoria Social, Filosofia e Psicanálise (USP). É membro do grupo de pesquisa do Laboratório de Estudos em Teoria Social, Filosofia e Psicanálise do Centro-Oeste. É membro da International Society of Psychoanalysis and Philosophy (ISPP). Artista Plástico. Psicanalista. Professor no Programa de Pós-Graduação em Educação na Faculdade de Inhumas (FacMais) (http://lattes.cnpq.br/9039680215578737).

Maria Letícia Reis, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, São Paulo, Brasil, marileoliveira@hotmail.com

Possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2000), mestrado em Psicologia pela Universidade São Marcos (2005). Doutorado em Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP (2015). Tem experiência na área de Psicologia, atuando principalmente nos seguintes temas: psicanálise, infância, experiência, clínica, memória e narrativa (http://lattes.cnpq.br/2424725665371899).

Referências

AGAMBEN, Giorgio. O sacramento da linguagem – Arqueologia do juramento (Homo Sacer II, 3). Trad. Selvino José Assmann. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

AGAMBEN, Giorgio. Infância e história. Trad. Silvio Mattoni. Buenos Aires: Adriana Hidalgo editora, 2007.

BENJAMIN, Walter. Documentos de cultura, documentos de barbárie: escritos esco-lhidos. Trad. Celeste H. M. Ribeiro de Sousa (Et al.). São Paulo: Cultrix: Editora da USP, 1986.

BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas I – Magia e técnica, arte e política. Trad. Sér-gio Paulo Rounanet. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas II – Rua de mão única. Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho e José Carlos Martins Barbosa. São Paulo: Brasiliense, 1987.

BUCCI, Eugênio; KEHL, Maria Rita. Videologias. São Paulo: Boitempo, 2004.

DAMIÃO, Carla Milani. Sobre o declínio da “sinceridade” – Filosofia e autobiografia de Jean-Jacques Rousseau a Walter Benjamin. São Paulo: Loyola, 2006.

DEBORD, Guy. La Société du spectacle. Paris: Gallimard, 1992.

DUNKER, Christian I.L. Estrutura e constituição da clínica psicanalítica. São Paulo: Annablume, 2011.

DUNKER, Christian I.L. Christian I. L. Mal-estar, sofrimento e sintoma. São Paulo: Boitempo, 2015.

EHRENBERG, Alain. O culto da performance – Da Aventura empreendedora à de-pressão nervosa. Trad. Pedro Bendassolli. Aparecida: Ideias & Letras, 2010.

EHRENBERG, Alain. La fatigue d’être soi – Dépression et société. Paris: Odile Jacob, 1998.

FREUD, Sigmund. Moisés e o Monoteísmo, Compêndio de psicanálise e outros textos (1937-1939) – Vol. 19. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das letras, 2018.

FREUD, Sigmund. Primeiras publicações psicanalíticas (1893-1899) – Vol. III. Trad. sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, Análise fragmentaria de uma histérica (“O caso Dora”) e outros textos (1901-1905) – Vol. 6. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das letras, 2016.

FREUD, Sigmund; BREUER, Josef. Estudos sobre a histeria (1893-1895) – Vol. 2. Trad. Laura Barreto. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

GABBI JR., Osmyr Faria. Notas a projeto de uma psicologia – As origens utilitaristas da psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 2003.

GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2009.

GINZBURG, Natalia. Léxico familiar. Trad. Homero Freitas São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

GINZBURG, Natalia. As pequenas virtudes. Trad. Maurício Santana Dias. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

HANSEN, Marise. Os laços que unem Clarice e Carolina. In: HANSEN, Marise. Revis-ta Quatro cinco um (Folha de São Paulo). São Paulo, agosto de 2020.

GOETHE, Johann W. von. Memórias: poesia e verdade. Trad. Leonel Vallandro. Bra-sília: Editora Universidade de Brasília, 1999.

HARVEY, David. Condição Pós-moderna – Uma pesquisa sobre as origens da mudan-ça cultural. Trad. Adail Sobral; Maria Gonçalves. São Paulo: Loyola, 2001.

JESUS, Carolina Maria. Quarto de despejo. São Paulo: Ática, 2014.

KEHL, Maria Rita. Ressentimento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

KEHL, Maria Rita. Maria Rita. História e Repetição. In: Os paradoxos da repetição. Organizadora: Dominique Finguermann. São Paulo: Annablume, 2014.

LACAN, Jacques. A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud. In: Escritos. Trad. Vera Ribeiro. São Paulo: JZE, 1998.

LACAN, Jacques. Le Séminaire I – Les Écrits Techniques de Freud (1953-1954). Paris: Seuil, 1975.

LACAN, Jacques. Le Séminaire XVI – D’un Autre à l’autre (1968-1969). Paris: Seuil, 2006.

LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes. Trad. Luiz Sérgio Henriques. São Paulo: Paz e Terra, 2004.

MANZI, Ronaldo. Uma leitura sobre ideologia, mídia e educação – O que é real e o que é ficção? Curitiba: Brazil Publishing, 2020.

MANZI, Ronaldo. Memória, ato performativo e patologia do social – De permeio com a filosofia, a psicanálise e a literatura. Curitiba: Kotter, 2019.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Phénoménologie de la Perception. Paris: Gallimard, 1967.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Signes. Paris: Gallimard, 2000.

NIETZSCHE, Friedrich. Segunda consideração intempestiva – Da utilidade e desvan-tagem da história para a vida. Trad. Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003.

REIS, Maria L. de O. Infância e memória. Histórias de psicanálise com crianças. Curi-tiba: Editora CRV, 2016.

REIS, Maria L. de O. Da experiência de perda à perda de experiência: um estudo so-bre a Erfahrung na teoria psicanalítica, na filosofia e na clínica. 2015. Tese (Douto-rado em Psicologia Clínica) - Instituto de Psicologia, University of São Paulo, São Paulo, 2015. doi:10.11606/T.47.2015.tde-29092015-165550. Acesso em: 16 ago. 2020.

SAFATLE, Vladimir; MANZI, Ronaldo (Orgs.). A filosofia após Freud. São Paulo: Humanitas, 2008.

SIBILIA, Paula. O show do Eu – A intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Con-traponto, 2016.

TATIT e ROSA. Pra não dizer que Freud e Lacan não falaram de solidão. Revista Psi-cologia e Saúde. São Paulo, v. 5, n. 2, p. 136-143, jul./dez. 2013.

Filmografia:

ETERNAL Sunshine of The Spotless Mind (2004). Direção: Michael Gondry. Roteiro: Charlie Kaufman.

Downloads

Publicado

2020-12-13 — Atualizado em 2021-05-27

Versões

Como Citar

MANZI, R. F.; REIS, M. L. . O inesgotável e elegante trabalho da memória, que reconstrói, performa e elabora. Revista de Teoria da História, Goiânia, v. 23, n. 2, p. 41–65, 2021. DOI: 10.5216/rth.v23i2.65108. Disponível em: https://revistas.ufg.br/teoria/article/view/65108. Acesso em: 13 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos de dossiê