ARQUIVO HISTÓRICO E DIFERENÇA INDÍGENA:

REPENSANDO OS OUTROS DA IMAGINAÇÃO HISTÓRICA OCIDENTAL

Autores

Palavras-chave:

Teoria da História, Povos Indígenas, Amazônia, Modernidade, Alteridade

Resumo

Partindo da relação entre a história disciplinar, a prática historiográfica e a enunciação de um tipo de alteridade concebida como a-histórica, o texto pretende servir de introdução ao problema da diferença indígena a partir das lacunas existentes entre a linguagem conceitual do discurso histórico moderno e o universo existencial e cosmológico dessas sociedades “outras”. Para tanto, busca-se demonstrar de que maneira a alteridade evocada pelas sociedades indígenas da Amazônia institui a exigência (e a oportunidade), para o pensamento histórico, de uma abertura para a desestabilização de seu próprio repertório conceitual. Esse movimento será efetivado a partir da comparação entre um certo ramo da moderna tradição histórico-filosófica e recentes contribuições de intelectuais indígenas e dos estudos antropológicos. Conclui-se que, se a questão da diferença indígena dificilmente pode ser suficientemente respondida no interior da perspectiva histórica tal como a concebemos (ou seja, de forma imanente à historiografia moderna), então urge a necessidade de uma abertura do pensamento histórico rumo a um desentendimento produtivo entre a identidade disciplinar e essa diferença que a tensiona.

Biografia do Autor

Guilherme Bianchi, Universidade Federal de Ouro Preto

Graduado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. Mestre em História pela Universidade Federal do Paraná. Doutorando em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. Desenvolve estudos na área de estudos pós-coloniais, história indígena e teoria da história.

Referências

ANDRADE, Oswald de. Revista de Antropofagia: 1ª e 2ª dentições. (fac-símile). São Paulo: Abril, Metal Leve, 1975.

ARAUJO, Valdei Lopes de. História da historiografia como analítica da historicidade. In: História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, 6, no. 12, 2013.

BERGER, Stefan & LORENZ, Chris (eds.) Nationalizing the past: historians as nation builders in modern Europe. Springer, 2016.

BEVERNAGE, Berber. History, memory, and state-sponsored violence: Time and justice. Routledge, 2012.

BLUMENBERG, Hans. To Bring Myth to an End. New German Critique, 32, 1984.

BOONE, Elizabeth Hill, and Gary URTON. Their way of writing: Scripts, signs, and pictographies in Pre-Columbian America. Washington, DC: Dumbarton Oaks Research Library and Collection, 2011.

CASTRO, Eduardo Viveiros. O mármore e a murta: sobre a inconstância da alma selvagem.Revista de antropologia, p. 21-74, 1992.

CERTEAU, M. A escrita da história. Forense: Rio de Janeiro, 1982.

CHAKRABARTY, Dipesh. Provincializing Europe: Postcolonial thought and historical difference. Princeton University Press, 2008.

CLASTRES, Helene. De que falam os Índios. Cadernos de Campo, 25, São Paulo, 1991.

CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o estado: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac & Naify, 2013.

COLLINGWOOD, R.G. The idea of history. Oxford University Press, 1994COMAROFF, Jean. Body of power, spirit of resistance: The culture and history of a South African people. University of Chicago Press, 2013.

DANTO, Arthur C. Historical language and historical reality. In: The Review of Metaphysics, Washington, v. 27, n. 2, 1973.

DESCOLA, Philippe. Além de natureza e cultura. In: Tessituras: Revista de Antropologia e Arqueologia, no. 1, 2015.

DESCOLA, Philippe. Beyond nature and culture. University of Chicago Press, 2013.

DUMONT, Louis. Essays on individualism: Modern ideology in anthropological perspective. University of Chicago Press, 1992.

DUSSEL, Enrique. 1492: o encobrimento do outro; a origem do Mito da modernidade; conferências de Frankfurt. Vozes, 1993.

FABIAN, Johannes. Time and the other: How anthropology makes its object. Columbia University Press, 2014.

FROEYMAN, Anton. Never the Twain Shall Meet? How Narrativism and Experience Can Be Reconciled by Dialogical Ethics. In: History and Theory 54, no. 2, 2015.

GOW, Peter. O parentesco como consciência humana: o caso dos piro. Mana. vol.3, n.2, 1997.

GRAEBER, David. Radical alterity is just another way of saying reality: A reply to Eduardo Viveiros de Castro. HAU: Journal of Ethnographic Theory,5, no. 2, 2015.

GRAF, F. W. de. The Stubborn Persistence of Religion: Some Post-Secular Reflections. In: The Future of the Study of Religion, pp. 23-42. BRILL, 2004.

GREENBLATT, Stephen.Marvelous possessions: The wonder of the New World. OUP Oxford, 1991.

GREENHOUSE, Carol J. A moment's notice: time politics across cultures. NY: Cornell University Press, 1996.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Production of presence: What meaning cannot convey. Stanford University Press, 2004GUTIÉRREZ, Jorge Luís. Aristóteles em Valladolid. São Paulo: Editora Mackenzie, 2007.

HEGEL, G.W. Philosophy of History. Batoche Books, 2001.

HEIDEGGER, M. “Vom Wesen des Grundes”. In: Wegmarken. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann-Seminar, 2004. Citado por Valentim, Marco A. Fora do mundo: lugar e sentido da não-humanidade na ontologia fundamental. In: discurso 46, no. 2, 2016.

HILL, Jonathan David. Rethinking history and myth: Indigenous South American perspectives on the past. Univ. of Illinois,1988.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Companhia das Letras: São Paulo, 1995.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do Paraíso. Os Motivos Edênicos no Descobrimento e Colonização do Brasil. São Paulo, Companhia Editora Nacional/Editora da Universidade de São Paulo, 1969.

HUSSERL, E. Phenomenology and the crisis of philosophy: Philosophy as a rigorous science, and philosophy and the crisis of European man. Harper & Row: New York, 1965.

IGGERS, Georg G. The German conception of history: The national tradition of historical thought from Herder to the present. Wesleyan University Press, 2012.

INGOLD, Tim. The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling and skill. Routledge, 2000.

KOPENAWA, Davi & ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Companhia das Letras, 2016.

KOSELLECK, Reinhart. Critique and crisis: Enlightenment and the pathogenesis of modern society. MIT Press: Cambridge, 1988.

KOSELLECK, Reinhart. The practice of conceptual history: timing history, spacing concepts. 2002.

STANFORD UNIVERSITY PRESS STANFORD, CALIFORNIA. KOSELLECK, Reinhart; GADAMER, Hans Georg.Historia y hermenêutica. Barcelona: Paidos, 1997.

LEFORT, C. Sociedades “sem história” e historicidade. In: As formas da História, Editora Brasiliense, 1990.

LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento Selvagem(o). Papirus Editora, 1989.

LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia Estrutural II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993.

LÉVI-STRAUSS, C. História de lince. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

LÉVI-STRAUSS, C. O cru e o cozido: Mitológicas 1. Editora Cosac Naify, 2004.

LÉVI-STRAUSS, C; ERIBON, Didier. De perto e de longe. São Paulo: Cosac & Naify, 2005.

MARX, Karl. O Capital –crítica da economia política, vol. 1, tomo 2. São Paulo: Abril Cultural, 1984.

MCDOWELL, John. From "Perspectives" on "What is Myth". In: Folklore Forum, vol. 29, no. 2, 1998.

MIGNOLO, W. Local histories/global designs: Coloniality, subaltern knowledges, and border thinking. Princeton University Press, 2012.

NIMUENDAJÚ, Curt. As lendas da criação e destruição do mundo como fundamentos da religião dos Apapocúva-Guaraní. Editora Hucitec, 1987.

OLSEN, Niklas. History in the Plural: an introduction to the work of Reinhart Koselleck. Berghahn Books, 2012.

OSBORNE, Peter. The politics of time: modernity and avant-garde. Verso Trade, 1995.

OVERING, J. The Role of Myth: An Anthropological Perspective, or: “The Reality of the Really Made-up’. In: HOSKING, G. & Schöpflin, G. (eds.), Myths and Nationhood, London,1997.

OVERING, Joanna. The role of myth: An anthropological perspective, or: “The reality of the really made-up”. In: Hosking, Geoffrey A.; Schöpflin, George. Myths and nationhood. Taylor & Francis, 1997.

RAJAGOPALAN, Angela Herren. Portraying the Aztec Past: The Codices Boturini, Azcatitlan, and Aubin. University of Texas Press, 2018.

RAMA, Angel. A cidade das letras. Editora Brasiliense, 1985.

RANCIÈRE, Jacques. O desentendimento. Editora 34, 1996.

RIVIÈRE, Peter. WYSINWYG in Amazonia. Journal of the Anthropological Society of Oxford, v. 25, no. 3, 1994, p. 256. Rivière, 1993.

RÜSEN, Jörn (ed.) Western historical thinking: An intercultural debate. Vol. 1. Berghahn Books, 2002.

SÁEZ, Oscar Calavia. O nome e o tempo dos Yaminawa: etnologia e história dos Yaminawa do rio Acre. Unesp, 2006.

SANTOS-GRANERO, Fernando. Vitalidades sensuais: modos não corpóreos de sentir e conhecer na Amazônia indígena. Revista de Antropologia 49, no. 1, 2006.

SEEGER, Anthony; Da Matta, Roberto; Viveiros de Castro, Eeduardo. A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras. Boletim do Museu Nacional, n. 32, 1979.

SEPÚLVEDA, Juan Ginés de. Tratado sobre las justas causas de la guerra contra los indios. México: Fondo de Cultura Economica, 1941 [1547].

SOURIAU, Etienne. Lesdifférents modes d'existence. Suivi de « l'Oeuvre à faire », PUF, Paris, 2009 (1943).

TAYLOR, Anne Christine. Remembering to Forget: Identity, Mourning and Memory Among the Jivaro. Man 28(4):653-678, 1993.TAYLOR, Diana. The archive and the repertoire. Duke University Press, 2003.

TODOROV, Tzvetan. A Conquista da América: a questão do Outro. São Paulo, Ed. Martins Fonte, 1983.

VIEIRA, Padre Antônio. Sermão do Espírito Santo, capítulo III, 1657.

VILAÇA, Aparecida. Fazendo corpos: reflexões sobre morte e canibalismo entre os Wari' à luz do perspectivismo. In: Revista de Antropologia, São Paulo, v. 41, n. 1, 1998.

VILAÇA, Aparecida. Humanity in Amazonia: Christianity and Change. In: BODDY, Janice Patricia; LAMBEK, Michael (Ed.). A Companion to the Anthropology of Religion. Wiley Blackwell, 2013.

VILAÇA, Aparecida. Quem somos nós: os Wari' encontram os brancos. Editora UFRJ, 2006.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. N-1 Editora, 2016.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Perspectival anthropology and the method of controlled equivocation. In: Tipití: Journal of the Society for the Anthropology of Lowland South America,2, no. 1, 2004.

WHITE, Hayden. The Westernization of World. In: RÜSEN, Jörn(ed.) Western historical thinking: An intercultural debate. Vol. 1. Berghahn Books, 2002.

WHITE, Hayden. Meta-história: a imaginação histórica do século XIX. São Paulo: Edusp, 1992.

WHITE, Hayden. Trópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura. Edusp, 1994.

Downloads

Publicado

2019-12-31

Como Citar

BIANCHI, G. ARQUIVO HISTÓRICO E DIFERENÇA INDÍGENA:: REPENSANDO OS OUTROS DA IMAGINAÇÃO HISTÓRICA OCIDENTAL. Revista de Teoria da História, Goiânia, v. 22, n. 2, p. 264–296, 2019. Disponível em: https://revistas.ufg.br/teoria/article/view/57992. Acesso em: 19 abr. 2024.