A Filosofia do Olhar e a Experiência do Pensamento
Resumo
Quando ouvimos falar em filosofia, nossa primeira reação pode ser de estranheza
diante de uma linguagem geralmente distante do nosso dia-a-dia. No entanto, quando
nos aproximamos da filosofia contemporânea, percebemos que isso nem sempre é
verdadeiro. Aliás, isso pode valer, dependendo do ângulo que se toma, para a filosofia
em geral. Não podemos negar, contudo, que o pensamento contemporâneo, perante os
paradoxos criados pela tradição filosófica, reluta-se constantemente em não permanecer
simplesmente preso em simples “vôos metafísicos”. Pensar a filosofia, nesse horizonte,
exige uma ruptura com os véus que podem cobrir o nosso olhar, os quais podem nos
tornar míopes em nossa leitura filosófica que, acima de tudo, encontra-se na relação que
estabelecemos com um texto.
Nesse sentido, ler a obra de um pensador é, antes de tudo, colocar-se na dinâmica
de reflexão na qual ele mesmo se colocara quando ousara ensaiar suas primeiras linhas.
Homenagear um filósofo não é lhe render adjetivos, fazer de seu nome o nome de uma
rua ou de uma praça deserta nos labirintos inóspitos de uma cidade. Pelo contrário, é
ouvir novamente a sua voz e fazer do ato de pensar um percurso não mais solitário, mas
acompanhado pelas questões filosóficas enfrentadas por um determinado autor. É assim
que nos voltamos para a Fenomenologia da percepção (1945), uma obra que, emergindo no
cenário contemporâneo, mais do que nos apontar para as peripécias teóricas de seu autor,
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), transporta-nos para uma “paisagem de pensamento”
na qual a experiência humana adquire um estatuto ontológico. Que perspectivas são
abertas grosso modo por esse texto? Que trilhas podemos vislumbrar? (Continua...)
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