Corpos lícitos e ilícitos no espaço do trabalho em Lisboa nos séculos XIV e XV
uma análise da experiência feminina e dos papéis de gênero
DOI :
https://doi.org/10.5216/hr.v30i1.82003Mots-clés :
Lisboa medieval, gênero, trabalhoRésumé
Este artigo analisa a relação entre moralidade cristã e normas de gênero na Lisboa medieval dos séculos XIV e XV, destacando como a regulação régia e concelhia moldou a experiência feminina no trabalho e na vida social. A partir do exame de fontes como as chancelarias de D. Duarte e D. João I, as Ordenações régias e registros de perdão régio, a pesquisa evidencia os limites impostos às mulheres—particularmente viúvas, solteiras e trabalhadoras—e suas estratégias para garantir espaço na economia urbana. Dialogando com autores como Judith Butler, Jacques Le Goff, Jean-Claude Schmitt e Sophie Cassagnes Brouquet, o estudo revela como as normas cristãs estruturaram a domesticidade e a exclusão social feminina. Conclui-se que, apesar da forte vigilância sobre seus corpos e condutas, as mulheres negociaram constantemente sua posição, demonstrando a fluidez das categorias de gênero na sociedade tardo-medieval portuguesa.
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