“Ficar velho é uma vitória da eugenia e da raça”

a difusão da eugenia no jornal Letras da Província (1951-1982)

Auteurs-es

  • Guilherme Prado Roitberg Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, guilhermeroitberg@gmail.com https://orcid.org/0000-0003-0338-2270

DOI :

https://doi.org/10.5216/hr.v30i1.81952

Mots-clés :

Eugenia, Letras da Província, Empresa Gráfica Editorial Paulista (EGEPSA), Racismo científico

Résumé

O artigo investiga a difusão da eugenia no jornal Letras da Província após 1945. A partir de uma pesquisa documental, amparada pela bibliografia especializada, objetiva-se analisar as formas de divulgação, as teses defendidas e os intelectuais envolvidos nesse processo. Verifica-se que o jornal limeirense e, por extensão, a Empresa Gráfica Editorial Paulista (EGEPSA), foram fundamentais para a continuidade da campanha eugênica promovida tanto pelos ex-diretores do Boletim de Eugenia, a dizer, Renato Kehl e Toledo Piza Júnior, quanto por autores incógnitos na historiografia. Constata-se que, em um contexto menos propício à defesa explícita da eugenia em comparação ao período entreguerras, o jornal e a editora viabilizaram a propagação das teses radicais da eugenia “negativa”, como a reprovação dos casamentos entre brancos e negros e a conceituação da “inferioridade biológica” dos “mulatos”. Conclui-se que a pesquisa documental baseada em textos publicados em jornais locais, de tiragem e circulação reduzidas, pode contribuir significativamente para os estudos sobre a difusão da eugenia na segunda metade do século XX.

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Guilherme Prado Roitberg, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, guilhermeroitberg@gmail.com

Doutor em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Doutorado sanduíche na University of Groningen (RUG, Países Baixos) e pós-doutorado em História das Ciências na Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). Mestre em Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), bacharel e licenciado em História pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e licenciado em Pedagogia pela Universidade Cidade de São Paulo (Unicid). Tem como foco as áreas de História da Educação e História das Ciências, desenvolvendo pesquisas sobre eugenia, educação eugênica, racismo científico, darwinismo social, antissemitismo, nazismo e teoria crítica. Investiga prioritariamente os fundamentos históricos e epistemológicos da eugenia e seus impactos na educação. Coordenou uma pesquisa sobre a eugenia nazista no Herinneringscentrum Kamp Westerbork (Países Baixos), investigando a seleção eugênica no campo de transição (Durchgangslager) para os campos de concentração e extermínio de Theresienstadt, Bergen-Belsen, Sobibor e Auschwitz-Birkenau. Tem experiência como professor, orientador pedagógico e assessor pedagógico no ensino básico, professor nos cursos de graduação em Pedagogia e Psicologia da Faculdade de Americana (FAM) e editor da Revista Eletrônica de Educação (Reveduc) da UFSCar. Atua como pedagogo no Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG).

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Publié-e

2025-11-29

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PRADO ROITBERG, Guilherme. “Ficar velho é uma vitória da eugenia e da raça”: a difusão da eugenia no jornal Letras da Província (1951-1982). História Revista, Goiânia, v. 30, n. 1, p. 351–370, 2025. DOI: 10.5216/hr.v30i1.81952. Disponível em: https://revistas.ufg.br/historia/article/view/81952. Acesso em: 5 déc. 2025.