Machado de Assis e a virada sócio-histórica

entre a interpretação crítica e os limites da instrumentalização da ficção

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5216/hr.v29i2.80089

Palavras-chave:

Machado de Assis., Crítica Literária., História Social.

Resumo

O artigo examina a constituição de um Machado de Assis realista, conforme interpretado de maneiras distintas por críticos como José Veríssimo, Lúcia Miguel Pereira, Alfredo Bosi, Roberto Schwarz e John Gledson. Esses críticos fazem parte de um amplo grupo de estudiosos voltados à produção machadiana e sua relação com o Brasil. Em vez de uma abordagem sequencial dos principais críticos e correntes, amplamente já explorada, este artigo destaca a virada crítica em direção às leituras sócio-históricas sobre a produção de Machado de Assis. Essa abordagem, especialmente sob as óticas de Schwarz e Gledson, tornou-se canônica, passando a exercer influência nas pesquisas históricas que adotam a perspectiva do literário como um acesso privilegiado ao passado. Dentro da alternativa epistemológica que considera a literatura como meio para "revelar" a História, Sidney Chalhoub é o historiador que melhor representa essa perspectiva de análise, estabelecendo um vínculo da produção ficcional machadiana com o contexto social e histórico.

 

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Biografia do Autor

Carlos Eduardo Millen Grosso, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, cmillengrosso@gmail.com

Possui graduação em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2005), mestrado em História pela mesma Instituição (2007) e doutorado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (2014). Atualmente, realiza estágio de Pós-Doutorado no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina. Pesquisador colaborador do Laboratório de Estudos da Contemporaneidade (LEC/PPGH/UDESC). Realizou estágio de Pós-Doutorado no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná (2019-2020). Integrou o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Sexualidades e Direito - Maria Ninguém, inscrito no CNPq e vinculado à UniSociesc, entre 2018 e 2020. Foi professor preceptor no Programa de Residência Pedagógica do curso de licenciatura em História da Univille (2023). Tem experiência na área de História do Brasil República, atuando principalmente nos seguintes temas: sistemas de justiça criminal, práticas de justiça, criminalidade, violências de gênero, formas de sociabilidade urbana, história da literatura, literatura e usos do passado, literatura e escritoras mulheres, modernismos na literatura brasileira.

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Publicado

2025-04-07 — Atualizado em 2025-04-15

Versões

Como Citar

GROSSO, C. E. M. Machado de Assis e a virada sócio-histórica: entre a interpretação crítica e os limites da instrumentalização da ficção . História Revista, Goiânia, v. 29, n. 2, p. 194–211, 2025. DOI: 10.5216/hr.v29i2.80089. Disponível em: https://revistas.ufg.br/historia/article/view/80089. Acesso em: 21 abr. 2025.