Machado de Assis e a virada sócio-histórica
entre a interpretação crítica e os limites da instrumentalização da ficção
DOI:
https://doi.org/10.5216/hr.v29i2.80089Palavras-chave:
Machado de Assis., Crítica Literária., História Social.Resumo
O artigo examina a constituição de um Machado de Assis realista, conforme interpretado de maneiras distintas por críticos como José Veríssimo, Lúcia Miguel Pereira, Alfredo Bosi, Roberto Schwarz e John Gledson. Esses críticos fazem parte de um amplo grupo de estudiosos voltados à produção machadiana e sua relação com o Brasil. Em vez de uma abordagem sequencial dos principais críticos e correntes, amplamente já explorada, este artigo destaca a virada crítica em direção às leituras sócio-históricas sobre a produção de Machado de Assis. Essa abordagem, especialmente sob as óticas de Schwarz e Gledson, tornou-se canônica, passando a exercer influência nas pesquisas históricas que adotam a perspectiva do literário como um acesso privilegiado ao passado. Dentro da alternativa epistemológica que considera a literatura como meio para "revelar" a História, Sidney Chalhoub é o historiador que melhor representa essa perspectiva de análise, estabelecendo um vínculo da produção ficcional machadiana com o contexto social e histórico.
Downloads
Referências
ALBERTI, Verena. Literatura e autobiografia: a questão do sujeito na narrativa. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.4, n.7, p.66-81, 1991.
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. História: a arte de inventar o passado. Bauru: Edusc, 2007.
BARTHES, Roland. Elementos de semiologia. São Paulo: Cultrix, 1979.
_________. A morte do autor. In: O rumor da língua. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988.
_________. O efeito do real. In: Vários autores. Literatura e semiologia: pesquisas semiológicas. Petrópolis: Vozes, 1972, p.35-44.
BERNARDO, Gustavo. O problema do realismo de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.
BORBA, Maria Antonieta Jordão de Oliveira. Mutações recepcionais da estética machadiana: teoria do efeito e realismo na leitura de O Alienista. Soletras, n.29, p.33-47, jan.-jun., 2015.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura. São Paulo: Cultrix, 1994.
_________. Machado de Assis: o enigma do olhar. 4º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
BRESCIANI, Stella (Org.). Imagens da cidade: séculos XIX e XX. São Paulo: Marco Zero/ANPUH, 1994.
_________. Literatura e cidade. In: CARDOSO, Selma Passos; PINHEIRO, Eloísa Petti; CORRÊA, Elyane Lins (Orgs.). Arte e cidades: imagens, discursos e representações. Salvador: Ed. UFBA, 2008, p.9-40.
_________. O charme da ciência e a sedução da objetividade: Oliveira Vianna entre os intérpretes do Brasil. São Paulo: Editora Unesp, 2005.
CALDWELL, Helen. O Otelo brasileiro de Machado de Assis: um estudo de Dom Casmurro. Cotia: Ateliê Editorial, 2002.
CAMILOTTI, Virgínia; NAXARA, Márcia Regina C. História e literatura: fontes literárias na produção historiográfica recente no Brasil. História: Questões & Debates, Curitiba, n.50, p.15-49, jan/jun. 2009.
CANDIDO, Antonio. Esquema de Machado de Assis. In: Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995, p.17-37.
_________. Formação da literatura brasileira. v.2. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1975.
_________. Literatura e sociedade. São Paulo: Companhia Nacional, 1965.
CERTEAU, Michel de. História e psicanálise entre ciência e ficção. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
CHALHOUB, Sidney; NEVES, Margarida de Souza; PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda (Orgs.). História em cousas miúdas. Campinas: Ed. Unicamp, 2011.
CHALHOUB, Sidney; PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. A história contada: capítulos de história social da literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1998.
CHARTIER, Roger. A história ou a leitura do tempo. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
COSTA LIMA, Luiz. A metamorfose do silêncio. Rio de Janeiro: Eldorado, 1974.
_________. História. Ficção. Literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
_________. Mímesis: desafio ao pensamento. Florianópolis, 2014.
_________. Machado dribla o veto. In: Trilogia do controle – parte 1: O controle do imaginário. 3º ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2007.
_________. Sociedade e discurso ficcional. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
FAORO, Raymundo. Machdo de Assis: a pirâmide e o trapézio. 3 ed. Rio de Janeiro: Globo, 1988.
FERREIRA, Gabriela Manduca. Interpretações do realismo na obra de Machado de Assis: realidade, política e crítica nos regimes autoritários brasileiros. Tese (Doutorado em Letras) – Programa de Pós-graduação em Literatura Brasileira, Universidade de São Paulo, 2016.
GAGLIARDI, Caio. O problema da autoria na teoria literária: apagamentos, retomadas e revisões. Estudos Avançados, v. 24, n.69, p.285-299, 2010.
GINZBURG, Jaime. Crítica em tempos de violência. São Paulo: Edusp, 2012.
GLEDSON, John. Machado de Assis: ficção e história. São Paulo: Paz e Terra, 1986.
_________. Machado de Assis: impostura e realismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Machado de Assis, o escritor que nos lê. São Paulo: UNESP, 2017.
_________. Romero, Araripe, Veríssimo e a recepção crítica do romance machadiano. Estudos Avançados. São Paulo, v.18, n.51, p.269-298, 2004.
ISER, Wolfgang. Os atos de fingir ou o que é fictício no texto ficcional. In: COSTA LIMA, Luiz (Org.). Teoria da literatura em suas fontes. 2º ed. V.2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, p.955-985.
_________. O fictício e o imaginário: perspectivas de antropologia literária. 2 ed. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013.
LUKÁCS, Georg. Arte e sociedade: escritos estéticos (1932-1967). Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009.
MAYA, Alcides. Machado de Assis: algumas notas sobre o humour. Porto Alegre: Movimento, 2007.
MEYER, Augusto. Machado de Assis. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro; Corag, 2005.
PELLEGRINI, Tânia. Realismo: postura e método. Letras de Hoje. Porto Alegre, v.42, n.4, p.137-155, dezembro 2007.
PEREIRA, Astrojildo. Machado de Assis: ensaios e apontamentos. 2º ed. Rio de Janeiro: São José, 1959.
PEREIRA, Lúcia Miguel. A escritora e seus personagens. Rio de Janeiro: Graphia, 2005.
_________. Machado de Assis: estudo crítico e biográfico. 4º ed. São Paulo: Gráfica Editora Brasileira Ltda., 1949.
_________. Prosa de ficção: 1870 a 1920. Rio de Janeiro: José Olympio, 1957.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e Literatura: uma velha-nova história. Nuevo Mundo Mundos Nuevos, n.6, 2006.
Disponível em: http://nuevomundo.revues.org/document1560.html. Acesso em 10 de março de 2012.
_________. O imaginário da cidade: visões literárias do urbano. 2º ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Ed.Unicamp, 2007.
_________. A metáfora viva. 2º ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
SANTIAGO, Silviano. Para além da história social. In: RIEDEL, Dirce Côrtes (Org.). Narrativa: ficção e história. Rio de Janeiro: Imago, 1988, p.241-256.
SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2000.
_________. Entrevista Lilia Schwarcz e André Botelho. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.23, n.67, p.148-160, jun. 2008.
_________. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. 2º ed. São Paulo: Duas Cidades, 1992.
SHOWALTER, Elaine. A crítica feminista no território selvagem. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (Org.). Tendências e impasses. Rio de Janeiro: Rocco, 1994, p.23-57.
SILVA, Daniel Pinha. Apropriação e recusa: Machado de Assis e o debate sobre a modernidade brasileira na década de 1870. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-graduação em História Social da Cultura, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2016.
SUSSEKIND, Flora. Tal Brasil, qual romance? Uma ideologia estética e sua história: o naturalismo. Rio de Janeiro: Achiamé, 1994.
_________. O Brasil não é longe daqui: o narrador, a viagem. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
VERÍSSIMO, José. História da Literatura Brasileira. 5º ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1969.
ZILBERMAN, Regina. História da Literatura e Identidade Nacional. In: JOBIM, José Luíz (Org.). Literatura e Identidades. Rio de Janeiro: J. L. J. S. Fonseca, 1999, p.23-55.
Downloads
Publicado
Versões
- 2025-04-15 (2)
- 2025-04-07 (1)
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 História Revista

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Declaração de Direito Autoral
Concedo à História Revista o direito de primeira publicação da versão revisada do meu artigo, licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Afirmo ainda que meu artigo não está sendo submetido a outra publicação e não foi publicado na íntegra em outro periódico, assumindo total responsabilidade por sua originalidade, podendo incidir sobre mim eventuais encargos decorrentes de reivindicação, por parte de terceiros, em relação à autoria do mesmo.