“Isolamento voluntário” e protagonismo do povo Javaé, da Ilha do Bananal, atual estado do Tocantins-Brasil (1896-1923)

Autores

  • Ordália Cristina Gonçalves Araújo Universidade Estadual de Goiás - UEG; Universidade Federal de Goiás - UFG, Goiânia, Goiás, Brasil, ordalia_c@hotmail.com
  • Elias Nazareno Universidade Federal de Goiás https://orcid.org/0000-0002-9689-9721

Palavras-chave:

Protagonismo Javaé, interculturalidade crítica, autodesignação

Resumo

Pretende-se analisar, nos relatos de viagem de missionários protestantes, em viagem pelo Vale do Araguaia, no limiar dos séculos XIX e XX, a prevalência de noções sobre o povo Javaé como um subgrupo Karajá e, a partir dessas análises, (1) visibilizar o protagonismo Javaé nas inúmeras estratégias utilizadas para manter os invasores longe de suas aldeias, primando pelo “isolamento voluntário” e (2) o reverberar deste protagonismo na atualidade, por meio de práticas reivindicatórias dos representantes Javaé, com vistas ao reconhecimento da autodeterminação não derivada. Sob o aporte teórico-metodológico das categorias do coletivo de pesquisadores da Modernidade / Colonialidade / Decolonialidade, analisa-se os relatos de viagem escritos pelos missionários - amparados por fontes históricas diversas e bibliografia especializada - sem pretender uma análise linear da trajetória histórica Javaé, entre 1896 e 1923, subsidiada por eventos anteriores e posteriores. Percebe-se que o povo Javaé vem exercendo uma mobilização acadêmica e política de contestação à atribuição imposta.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ordália Cristina Gonçalves Araújo, Universidade Estadual de Goiás - UEG; Universidade Federal de Goiás - UFG, Goiânia, Goiás, Brasil, ordalia_c@hotmail.com

Professora de Didática e Metodologia do Ensino de História da Universidade Estadual de Goiás. Doutoranda pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Federal de Goiás.

Elias Nazareno, Universidade Federal de Goiás

Membro da rede de pesquisa CREA Community of Research on Excellence for All - CREA, na Universidade de Barcelona, Espanha. Integrante do GT índios na História John Monteiro da ANPUH. Pós-doutorado em sociologia com bolsa do CNPq pela Universidade de Barcelona - UB (2009), Pós-doutorado no PPGAS/UnB (2018) e Pós-Doutorado no Centro de Estudos Sociais - CES da Universidade de Coimbra, Portuga (2020). Graduado em História pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC-Goiás (1989), mestrado em História pela Universidade de Brasília - UnB (1995) e doutorado em Sociologia - Universidade de Barcelona - UB (2003). Atualmente é professor Associado III da Universidade Federal de Goiás é Coordenador do Programa de Pós-graduação em História - PPGH/UFG, professor do Curso de Educação Intercultural para formação de Professores Indígenas da UFG e Coordenador do Grupo de Pesquisa do DGP/CNPq, História indígena e História ambiental: interculturalidade crítica e decolonialidade da UFG. Professor da Universidade de Brasília no Departamento de História (1996-1998) e no Instituto de Relações Internacionais- IREL (2004-2005). Tem experiência nas áreas de História indígena, História do Brasil, Sociologia e em Relações Internacionais, atuando principalmente nos seguintes temas: educação intercultural indígena, história indígena e educação quilombola. 

Referências

ALENCASTRE, J. P. M. de. Anais da Província de Goiás-1863. Convênio

SUDECO/Governo de Goiás, Goiânia, 1979.

ALMEIDA, M. C. de. Os índios na história do Brasil. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2010.

AMARAL, A. M. Topa e a tentativa missionária de inserir o Deus cristão ao

contexto Maxakali: análise do contato inter-religioso entre missionários cristãos e índios.

(Dissertação de Mestrado) Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, 2007.

ARAÚJO, O. C. G. Os Javaé e o protestantismo: salvação e resistência (1896-1937) (Tese de doutorado) Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, Brasil, 2019.

CANDAU, V. M. F. Educacion intercultural en America Latina: distintas concepciones y tensiones actuales. Estudios Pedagógicos. 36, Nº 2: 343-352, 2010.

CASTRO-GÓMEZ, S. Lugares de la ilustración. Discurso colonial y geopolíticas del conocimiento em el siglo de las luces. In: La hybris del punto cero: ciencia, raza e ilustración en la Nueva Granada (1750-1816) (pp. 11-64). 1a ed. Bogotá: Editorial Pontificia, Universidad Javeriana, 2005.

CASTRO-GOMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. El giro decolonial: reflexiones para uma diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar, 2007.

CASTRO-GOMEZ, S. Decolonizar a universidade: la hybris del punto cero y el diálogo de saberes. In: Castro-Gomez, S.; Grosfoguel, R. El giro decolonial: reflexiones para uma diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar, p. 79-91, 2007.

CLARK, R. B. Among pagan indians in Brasil. São Paulo: Imprensa Methodista, 1923.

COOK, W. A. By horse, canoe and float: through the wildernesses of Brazil. Ohio, EUA: The Werner Company, 1909.

CORREIO OFFICIAL DE GOYAZ, 21 de janeiro de 1880, ano 43, n. 6, p. 2-3. (Continuação) Viagem de S. Leopoldina a S. Maria (Exposição do Major de Engenheiros Dr. Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim sobre sua viagem ao Araguaia).

CORREIO OFFICIAL DE GOYAZ, 21 de maio de 1879, ano 42, n. 27, p. 3-4. A pedido. Exploração do braço oriental do Araguaya. Por José Manuel da Silva Marques, Gerente da Empresa da Navegação a vapor do Araguaya, comunicando ao Empresário (João José Corrêa de Moraes) o resultado de uma exploração no braço oriental do Araguaia.

CORREIO OFFICIAL DE GOYAZ, 24 de janeiro de 1880, ano 43, n. 7, p. 2-3. (Continuação) Viagem de S. Leopoldina a S. Maria (Exposição do Major de Engenheiros Dr. Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim sobre sua viagem ao Araguaia).

CUNHA, M. C. “Introdução a uma história indígena”. In: CUNHA, M. C. da. (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

DIAS, T. C. O língua e as línguas: aldeamentos e mestiçagens entre manejos de

mundo indígenas em Goiás (1721-1832). (Tese de doutorado). Universidade Federal de Goiás,

Faculdade de História (FH), Programa de Pós-Graduação em História, Goiânia, 2017.

EHRENREICH, P. Divisão e distribuição das tribus do Brasil segundo o estado actual dos nossos conhecimentos. (Traduzido do original alemão por João Capistrano de Abreu.) Revista da Sociedade de Geographia do Rio de Janeiro, T. VIII, 1º. Boletim, p. 3-55. Rio de Janeiro: Typ. de G. Leuzinger & Filhos, 1892.

EHRENREICH, P. A ethnographia da America do Sul ao começar o século XX. Revista do Instituto Historico e Geographico de São Paulo, v. XI, 280-305, 1906.

Disponível em: http://biblio.etnolinguistica.org/ehrenreich_1906_ethnographia. Acesso: 19/08/2016.

EHRENREICH, P. Contribuições para a etnologia do Brasil. Revista do Museu Paulista, v. 2, 7-135, 1948.

ESTADO DE GOYAZ – Orgam do Partido Republicano Federal. Correspondencia. Viagem Episcopal (Continuação). 27 de março de 1986, ano 4, n. 179, p. 4.

GLASS, F. C. Aventuras com a Bíblia no Brasil. Rio de Janeiro: Livraria Evangélica Limitada, s.d.

GLASS, F. C. Through Brazilian junglelands with the book. Londres: Pickering & Inglis, s/d.

GLASS, F. C. A thousand miles in a dug-out; being the narrative of a journey of investigation among thered-skin Indians of central Brazil. Londres: South American Evangelical Mission, 1911.

GOYAZ: Órgão do Partido Liberal (GO), 18 de maio de 1888, Ano 3, n. 139, capa. Exploração scientifica. Relatório da viagem do Vapor Araguaya de regresso do Presidio de Santa Maria, passando pelo braço direito da Ilha do Bananal, Cidade de Goiás.

HABER, A. Nometodología payanesa: Notas de metodologia

indisciplinada. Revista de Antropología, 23, 9-49, 2011.

KRAUSE, F. Nos sertões do Brasil. Revista do Arquivo Municipal. (73-4), 274-5, 1940-43.

KRAUSE, F. Nos sertões do Brasil. Revista do Arquivo Municipal. São Paulo: Arquivo Municipal, (74), 299-319, 1941.

KRAUSE, F. Nos Sertões do Brasil. Revista do Arquivo Municipal. São Paulo: Arquivo Municipal, (80), 187-207, 1941.

JUNQUEIRA, M. A. Elementos para uma discussão metodológica dos relatos de viagem

como fonte para o historiador. In: Junqueira, M. A; Franco, S. M. (Orgs) Cadernos de

Seminários de Pesquisa. São Paulo: Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras

e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo/Humanitas, 2011.

LANDER, E. Ciências sociais: saberes coloniais e eurocêntricos. In: Lander, E. (Org.) Colonialidade do saber: eurocentrismo e Ciências Sociais. Perspectivas latino-americanas (pp. 8-23). Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina: CLACSO, 2005.

MACINTYRE, A. Descendo o rio Araguaia. Contagem-MG: AME Menor, 2000.

MALDONADO TORRES, N. Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo

de un concepto. In: Castro-Gomez, S. Santiago; Grosfoguel, R. El giro decolonial: reflexiones para una diversidade epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar, p. 127-167, 2005.

MARQUES, J. M. da S. Correio Official de Goyaz, 21 de maio de 1789, Cidade de Goiás, ano 42, n. 27, p. 3-4. A pedido. Exploração do braço oriental do Araguaya.

MIGNOLO, W. Histórias locais / projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Tradução de Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2003.

MIGNOLO, W. El pensamento decolonial: desprendimento y apertura. Un manifiesto. In: Castro-Gomez, S.; Grosfoguel, R. (2007). El giro decolonial: reflexiones para uma diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar, p. 25-46, 2007.

NASCIMENTO, P. E. Protagonismo indígena na capitania de Goiás e suas estratégias e atuações frente às políticas indigenistas no século XVIII. (Tese de doutorado). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, 2019.

NAZARENO, E. História, tempo e lugar entre o povo indígena Bero Biawa Mahãdu (Javaé): a partir da interculturalidade crítica, da decolonialidade e do enfoque enactivo. In: Oliveira, M. J. (Org). Direitos humanos e pluriversalidade: conexões temáticas. 01ed.Curitiba:

Editora Prismas Ltda, 01, 85-118, 2017.

NAZARENO, E. História, tempo, lugar e corpo: produção de conhecimentos desde a experiência no curso de Educação Intercultural Indígena da Universidade Federal de Goiás UFG. In: Schmidt, M. A. M. S.; Silva, M. da C.; Cainelli, M. (Orgs.) (2019). Formação e aprendizagem: caminhos e desafios para a pesquisa em educação histórica e o ensino de história. (1ed.). Goiânia: Trilhas Urbanas, (1), 207-230, 2019.

O ESTANDARTE, São Paulo, 19 de dezembro de 1901, ano 9, n. 51.

PALACIN, L. Política pombalina em Goiás – contrastes. Revista do ICHL. Goiânia, Ed. Da UFG, p. 271-290, 1982.

PEREIRA, T. M. G. Saberes e fazeres Javaé: estudo das práticas tradicionais alimentares indígenas, da década de 1990 a 2020 9. 2020. 382 f. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Goiás. Faculdade de História, Goiânia, 2020.

PIMENTEL DA SILVA, M. do S. Fronteiras etnoculturais: educação bilíngue

intercultural e suas implicações. In: Rocha, L. M; Baines, S. G.

Fronteiras e espaços interculturais: transnacionalidade, etnicidade e identidade em regiões de

fronteira. Goiânia, Ed. da UCG, p. 107-117, 2008.

QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: Lander, R, E. (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Colección Sur Sur, CLACSO, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina. Setembro, pp.227-278, 2005.

QUIJANO, A. Colonialidad del poder y clasificación social. In: Castro-Gomez, S. Santiago; Grosfoguel, R. El giro decolonial: reflexiones para una diversidade epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar, p. 93-126, 2007.

ROCHA, L. M. A política indigenista no Brasil: 1930-1967. Goiânia: Ed. UFG, 2003.

RODRIGUES, P. de M. A caminhada de Tanyxiwé: uma teoria Javaé da História. (Tese de doutorado). Chicago, Estados Unidos, 2008.

SABURUA JAVAÉ, S. Hetohoky: a grande festa do povo Javaé. In: Nazareno, E., & Ribeiro, J. P. M. (Org) (2017). Coleção Conhecimentos indígenas na UFG: Povo Indígena Berò Biawa Mahadu Javaé, v. 9 (pp. 85-143). Goiânia: Editora Imprensa Universitária, 2017.

STAUFFER, D. H. Origem e fundação do Serviço de Proteção aos índios. Revista de História, 18(37), 73-95, 1959.

STAUFFER, D. H. Origem e fundação do Serviço de Proteção aos índios. A reação contra o extermínio dos índios. Publicidade danosa no estrangeiro. Revista de História, 21(43), 165-183, 1960.

TORAL, A. Relatório sobre a situação dos Javaé de Barreira da Cruz (Cristalândia-GO), Brasília-DF: Acervo da FUNAI, 1983.

TORAL, A. Cosmologia e sociedade Karajá. (Dissertação de mestrado). Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, 1992.

WALSH, C.; Viaña J.; Tapia, L. Interculturalidad crítica y educación

intercultural. Instituto Internacional de Integración, Bolívia, p. 75-96, 2010.

WALSH, C. Interculturalidade crítica e pedagogia Decolonial: in-surgir, re-surgir e reviver. In: Educação intercultural na America Latina: entre concepções, tensões e propostas. In: Candau, V. M. (org). Educação Intercultural na América Latina: entre concepções,

tensões e propostas. Rio de janeiro: 7 letras, p. 12-42, 2009.

WALSH, C. Interculturalidad e colonialidad del poder: un pensamento y posicionamento “outro” desde la diferencia colonial. In: Castro-Gomez, S.; Grosfoguel, R. El giro decolonial: reflexiones para uma diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto Pensar, p. 47-63, 2007.

Downloads

Publicado

2023-08-24

Como Citar

ARAÚJO, O. C. G.; NAZARENO, E. “Isolamento voluntário” e protagonismo do povo Javaé, da Ilha do Bananal, atual estado do Tocantins-Brasil (1896-1923). História Revista, Goiânia, v. 27, n. 2, p. 26–48, 2023. Disponível em: https://revistas.ufg.br/historia/article/view/74191. Acesso em: 27 abr. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: Estética, Educação E Interculturalidade