Dupla clausura
os discursos disciplinares e a imanência do trabalho como construção da identidade das mulheres reclusas portuguesas
DOI:
https://doi.org/10.5216/hr.v27i1.74074Palavras-chave:
Prisão, Mulheres, TrabalhoResumo
Através dos dispositivos disciplinares, há uma tentativa, nos sistemas prisionais femininos, de punir as reclusas, não somente por serem transgressoras, mas também por serem mulheres que se desviam do senso normativo do que é ser mulher. Assim, o trabalho nas prisões, atua como mecanismo de duplo assujeitamento. Com o objetivo de compreender o significado que as reclusas atribuem às questões laborais em reclusão foram realizadas 14 entrevistas a mulheres que trabalham num Estabelecimento Prisional em Portugal. As entrevistas foram analisadas com recurso à análise foucaultiniana do discurso e as participantes revelaram, por um lado, uma vertente positiva e de reeducação do trabalho, bem como benefícios econômicos (embora questionáveis) mas também uma forma subversiva de resistência ao sistema prisional e ao trabalho.
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