Entre técnica e política

arqueogenealogia do discurso da dignidade salarial

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5216/ci.v28.83855

Palavras-chave:

discurso, arqueogenealogia, salário mínimo, dignidade, Neoliberalismo

Resumo

O presente artigo investiga as relações de saber-poder inscritas no discurso jornalístico presente na notícia “Palmas precisa de um salário mínimo de R$ 6.200 para garantir padrão digno de vida, aponta levantamento com base no custo da cesta básica” (Cappellesso, 2025). A problemática ultrapassa a dimensão econômica e revela um campo de disputas discursivas em que técnicas estatísticas, saberes especializados e narrativas midiáticas produzem verdades, moldam subjetividades e legitimam racionalidades políticas. O objetivo central é examinar como a notícia veiculada pelo Diário Tocantinense opera como dispositivo de poder, articulando dimensões técnicas e políticas na definição de parâmetros de dignidade. Para tanto, adota-se o método arqueogenealógico da Análise do Discurso, mobilizando os conceitos de subjetivação, objetivação e governamentalidade. A investigação demonstra que a subjetivação manifesta-se pela constituição do trabalhador como sujeito carente, cuja experiência é traduzida em diagnósticos técnicos por especialistas; a objetivação aparece na redução da vida a indicadores econômicos, como horas de trabalho e custo da cesta básica; e a governamentalidade revela-se na pedagogia do cálculo técnico, que naturaliza a equivalência entre vida e mercado. Os resultados indicam que, embora a cifra de R$ 6.200 denuncie a defasagem salarial, também atua como operador político de manutenção da racionalidade neoliberal, reforçando a monocultura do saber econômico e confinando o imaginário político ao ajuste técnico. Portanto a arqueogenealogia do salário mínimo palmense compreende não apenas um déficit material, mas uma crise de imaginário, na qual a dignidade humana é capturada por métricas monetárias.

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Biografia do Autor

Thiago Barbosa Soares, Universidade Federal do Tocantins (UFT), Palmas, Tocantins, Brasil, thiago.soares@uft.edu.br

Possui graduação em Letras, português/inglês, pela Universidade do Vale do Sapucaí (2009), em Psicologia pela Universidade Paulista (2014), em Filosofia pela Universidade de Franca (2014) e em Ciências Humanas pela Universidade Estácio de Sá (2023), especialização em Estudos Literários pela Faculdade Comunitária de Campinas (2013), mestrado em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (2015) e doutorado em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (2018). É líder do Grupo de Estudo de Análise do Discurso (GEsTADI - UFT) e membro pesquisador do Grupo de Estudos em Análise do discurso e História das ideias linguísticas (VOX - UFSCar). É editor-chefe das revistas Porto das Letras (ISSN - 2448-0819), vinculada ao programa de pós-graduação em Letras da UFT, Acta Semiótica et Lingvistica (ISSN - 2446-7006), fundada na USP de São Paulo, em 1977, e da revista do Grupo de Estudo de Análise do Discurso, GEsTADI, (ISSN - 2965-4440). Atua como professor nos cursos de graduação em Letras e de pós-graduação stricto sensu em Letras da Universidade Federal do Tocantins no campus de Porto Nacional. Coordenou o Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Letras (PPGLetras) da Universidade Federal do Tocantins (UFT) de janeiro de 2022 a janeiro de 2023. Atualmente é vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Letras (PPGLetras) da Universidade Federal do Tocantins (UFT). É pesquisador bolsista de produtividade do CNPq (PQ-2), com experiência de pesquisa na área de Linguística, com ênfase em Análise do Discurso. atuando principalmente nos seguintes temas: mídia, sucesso, teoria e análise do texto.

 

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Publicado

2025-12-10

Como Citar

SOARES, Thiago Barbosa. Entre técnica e política: arqueogenealogia do discurso da dignidade salarial. Comunicação & Informação, Goiânia, Goiás, v. 28, p. 51–69, 2025. DOI: 10.5216/ci.v28.83855. Disponível em: https://revistas.ufg.br/ci/article/view/83855. Acesso em: 13 dez. 2025.