Das fontes às evidências
ensino de História e a disputa de narrativas sobre o passado
DOI:
https://doi.org/10.5216/rth.v27i2.80945Palavras-chave:
Ensino de História, fonte histórica, evidência, verdade, narrativaResumo
O artigo tem como objetivo problematizar os usos de fontes históricas e a construção de evidências no ensino de História (Ashby, 2001; Ginzburg, 2002; Hartog, 2013). Para essa problematização, trazemos um conjunto empírico que consiste em observações de aulas de História e entrevista com uma professora do ensino básico, em contexto de pesquisa, bem como pesquisa bibliográfica. Compreendemos que, no tempo presente, quando testemunhamos o recrudescimento da extrema direita e da polarização política no debate público, a mobilização de fontes para a produção de evidências deve ser problematizada por estar numa região de disputa dos envolvidos nesse processo, que se encontram em campos diversos de conhecimentos e crenças. Chamamos a atenção para as justificativas que pesquisadores e professores têm mobilizado para a apresentação da História, destacando como o uso de fontes e o destaque de evidências confluem para afirmar a "vontade de verdade" (Chartier, 2022) das explicações históricas. Mobilizamos a noção de "fantasias conspiratórias" (Demuru, 2024) de modo a chamar atenção não somente para o conteúdo dessas narrativas, mas também para suas formas e os efeitos que produzem sobre os sujeitos e grupos que nelas creem. Dentre eles, certa produção de sentido sobre o passado, especialmente sobre temas sensíveis em disputa como a Escravidão no Brasil e a Ditadura Civil-Militar. Ao fim, propomos o esboço de um caminho para práticas docentes, apostando na construção de narrativas sensíveis, capazes de compartilhar experiências e de humanizar sujeitos cujas violências sofridas no passado têm sido insistentemente negadas ou amenizadas.
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