Call for Papers 2-2021 • Walter Benjamin historiador | Walter Benjamin historian
Hoje se dá com a obra de Walter Benjamin o que outrora se deu com Foucault: historiadores debruçam-se sobre seus escritos com um misto de fascínio e desconfiança. Fascínio pelo sofisticado teórico da cultura que propõe, a partir da literatura e da arte, uma nova metodologia para a História. Desconfiança em relação ao filósofo e ao esteta que, oriundo de lugares acadêmicos alheios à formação do historiador, traz consigo a marca do estrangeirismo metodológico, da dubiedade de interesses que marca a fronteira entre a Filosofia e a História. A questão não é inédita, mas se coloca de modo incontornável: pode o filósofo, munido de interesses tão peculiares, prover o historiador com considerações teóricas e metodológicas de natureza mais formal que especulativa, munindo a prática historiográfica de instrumentos adequados ao estudo do passado? Benjamin é certamente o filósofo a partir do qual podemos responder positivamente à indagação, tanto mais na medida em que a crítica do horizonte especulativo em sua forma tipicamente moderna, qual seja, aquela da ideologia do progresso, consistiu no objeto máximo de suas investigações. E foi a partir de uma atenção detida sobre os aspectos formais da História que ele buscou elevá-la, a pesquisa histórica, a um novo patamar ético, de onde sua teorização assume a forma de um delicadíssimo esforço em aproximar política epistemologia.
Sim, uma Teoria da História, podemos dizer, mesmo que aqui tenhamos um crítico severo do Historicismo e da Escola Histórica Alemã, e alguém que tampouco se aproximou da Escola dos Annales, formada por historiadores seus contemporâneos e com quem guardava mais de um ponto de convergência. Uma Teoria da História que articulou Romantismo, Messianismo, Marxismo e Psicanálise, tendo sempre a arte e a literatura como matéria prima incontornável. Foi sempre a partir da Literatura que Benjamin procurou fazer História. Seja na medida em que toma emprestadas a Bauldeaire as lentes com as quais verá a Paris do séc. XIX, seja na medida em que formula, a partir de Proust e Freud, o conceito de rememoração histórica, central em sua obra.
Benjamin coloca à sua maneira muitas das questões que se mostraram cruciais para a Teoria da História no séc. XX, e às responde de modo inovador. Sobre o estatuto da História, desde o séc. XIX polemicamente posicionada entre a Ciência e a Arte, Benjamin ressalta sua dimensão ética e política, insistindo em que, para além da Ciência e da Arte, a História é também um modo de fazer justiça. Mas fazer justiça a quem? Aos mortos que, segundo o autor, dirigem ao presente um apelo em nome de passados silenciados.
O debate sobre as relações entre linguagem e História, bem como a crítica do realismo, são constantes em Benjamin, mas ele se dá de modo diverso daquele que predominantemente ocorre entre historiadores, que têm por hábito se fiarem na tradição hermenêutica ou na filosofia analítica para examinar tais questões. Benjamin, de modo muito singular, conduz a filosofia da linguagem à uma virada imagética, onde a visualidade ganha precedência em relação ao texto, e onde o papel do historiador torna-se menos o de dizer, mais o de mostrar.
Para refletir sobre as relações possíveis entre o pensamento de Walter Benjamin e a Teoria da História foi que idealizamos o dossiê Walter Benjamin Historiador, que pretende abrigar trabalhos focados no exame da concepção benjaminiana da História.
Data final para envio | 1 de setembro de 2021 Publicação em | dezembro de 2021
Submissões via website | https://www.revistas.ufg.br/teoria/about/submissions
Organizadores | Manoel Gustavo de Souza Neto | U E G & Marcos Antônio de Menezes | U F J