Call for Papers 2-2023 • Pensamento Latino-Americano: intelectuais, historiografia e produção de conhecimento | Pensamiento latinoamericano: intelectuales, historiografía y producción de conocimiento
Pensamento Latino-Americano: intelectuais, historiografia e produção de conhecimento
Há um pensamento latino-americano? Em caso de resposta positiva, o que o constitui e como concebê-lo no tempo? As possíveis respostas a essas perguntas levam ainda ao questionamento sobre o que é, afinal, a América Latina, e como a ideia/conceito alterou-se ao longo da história. Ademais, essas indagações propõem tensões sobre o campo historiográfico brasileiro: entre historiadores/as é comum a existência de certa dualidade que leva, ao mesmo tempo, ao reconhecimento do Brasil como parte daquilo que se convencionou chamar América Latina e à separação da escrita de sua história daquela de seus vizinhos. Isso ocorre, em grande medida, graças às escolhas presentes nas elaborações de histórias pátrias, ou seja, em marcos estritamente nacionais, e nas necessidades da historiografia profissional em delinear um campo autônomo (História das Américas), algo não exclusivo à academia brasileira. Entretanto, há de se reconhecer que tal perspectiva é também permeada por uma certa ideia de excepcionalidade histórica utilizada por alguns grupos para pensar e inventar a identidade nacional desde o século XIX e que continua a exercer sua influência no imaginário brasileiro. Nesse sentido, cabe ainda ao pesquisador brasileiro perguntar-se sobre o lugar do Brasil na América Latina.
A discussão sobre o conceito e a ideia de América Latina não é uma novidade. Políticos apropriaram-se desse construto ainda no século XIX, pouco após a sua criação, não apenas para diferenciar-se de seu outro vizinho ao Norte, os Estados Unidos, mas também para condenar seus desígnios e práticas imperialistas. O conceito como objeto de investigação também foi abordado há décadas por intelectuais como Arturo Ardao (1980; 1987) e Miguel Rojas Mix (1991; 1992) sobretudo em relação à sua origem e ao imaginário ao seu redor.
No Brasil, a reflexão ganhou algum fôlego há alguns anos com a publicação de um artigo de Leslie Bethell (2009) sobre o Brasil e a ideia de América Latina. Bethell, organizador de uma coleção exaustiva e referência sobre a História da América Latina, termina o artigo em questão com a breve conclusão de que “é chegada a hora de o mundo parar de considerar o Brasil como parte daquilo que, na segunda metade do século XX, foi chamado de América Latina, um conceito que seguramente perdeu a utilidade que talvez tenha tido alguma vez” (Bethell 2009, 314). A existência dos inúmeros institutos que, internacionalmente, ainda se dedicam ao estudo da América Latina e toda a produção acadêmica realizada no século XXI sobre a América Latina já são indícios suficientes para contrariar o decreto de Bethell, mas, mais do que isso, apontam para a existência de um debate sobre uma suposta identidade latino-americana.
O tema da identidade cultural, aliás, é o que atravessa a reflexão de todos aqueles autores que representam correntes importantes do que poderíamos denominar correntes intelectuais na América Latina (arielismo, indigenismos etc) e perpassam, quase sempre, os debates sobre tradição e os imaginários e propostas de modernização (Devés Valdés 2000, 15-21), além de incorporarem, na historiografia, a busca pelo caráter nacional e as origens das nações em meio a instabilidades políticas diversas e uma população de composição múltipla. Um vínculo intelectual possível, portanto, entre os países latino-americanos pode estar justamente na busca por traçar identidades possíveis e nas “redes intelectuais” (Wasserman 2004, 52) criadas a partir da colocação de tais problemas.
Outra possibilidade para se pensar tal vínculo foi aberta pelos estudos “decoloniais”, especialmente a partir da emergência da corrente autodenominada “Modernidade/Colonialidade” e dos estudos a respeito da colonialidade do poder que perpassa a construção - material e simbólica - das nações latinoamericanas à imagem e semelhança do colonizador. Autores como Walter Mignolo (2003), Aníbal Quijano (2005) e Maria Lugones (2008) colocaram em perspectiva as dinâmicas de dominação social, racial e de gênero que atravessaram a construção da América Latina, encontrando ecos, no Brasil, na obra de Lélia Gonzalez, Ailton Krenak (2019; 2020; 2022) e Davi Kopenawa (2015), dentre outros, que implodem as fronteiras nacionais e defendem uma visada mais ampla para os processos ocorridos na Latinoamérica a partir de sua conquista pelos europeus. Emergem desse pensamento identidades insurgentes, comprometidas com pautas do tempo presente e questionadoras dos símbolos nacionais, em movimento que redunda, contemporaneamente, na derrubada e nas intervenções de/em monumentos oficiais em busca de reparação histórica no âmbito das políticas de memória.
Se o pensamento latino-americano está ligado a uma identidade (ou à busca por uma identidade) latino-americana podemos nos perguntar como essa conexão reverbera no campo historiográfico. É possível falar em uma teoria da história latino-americana ou uma teoria da história a partir da América Latina? Quais elementos desse pensamento latino-americano contribuiriam para a formação de uma filosofia da história latino-americana? Para este dossiê esperamos textos que tratem da produção (com foco na produção historiográfica) e repercussão do conhecimento na América Latina, sobre o vínculo intelectual entre países latino-americanos, o percurso intelectual de autores latino-americanos, os usos e transformações de ideias e conceitos na América Latina, além de artigos sobre a contribuição da reflexão de autores latino-americanos para determinados tópicos caros à teoria da história.
Data final para envio | 1 de setembro de 2023 Publicação em | dezembro de 2023
Submissões via website | https://www.revistas.ufg.br/teoria/about/submissions
Organizadores | Sabrina Costa Braga [UFG] Thiago Prates [Universität Hamburg] Raul Lanari [UFG]
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Pensamiento latinoamericano: intelectuales, historiografía y producción de conocimiento
¿Existe un pensamiento latinoamericano? Si la respuesta es positiva, ¿qué lo constituye y cómo concebirlo en el tiempo? Las posibles respuestas a estas preguntas llevan también al cuestionamiento sobre qué es América Latina y cómo ha cambiado la idea/el concepto a lo largo de la historia. Además, estas cuestiones plantean tensiones en el campo historiográfico brasileño: entre los historiadores y las historiadoras, es común que exista cierta dualidad que lleva, al mismo tiempo, al reconocimiento de Brasil como parte de lo que convencionalmente se llama América Latina y a la separación de la escritura de su historia de la de sus vecinos. Esto ocurre, en buena medida, gracias a las elecciones presentes en la elaboración de las historias nacionales, es decir, en marcos estrictamente nacionales, y en las necesidades de la historiografía profesional de delimitar un campo autónomo (Historia de las Américas), algo no exclusivo a la academia brasileña. Sin embargo, hay que reconocer que tal perspectiva también está marcada por cierta idea de excepcionalidad histórica utilizada por algunos grupos para pensar e inventar la identidad nacional desde el siglo XIX y que sigue ejerciendo su influencia en el imaginario brasileño. En ese sentido, aún le corresponde al investigador brasileño preguntarse por el lugar de Brasil en América Latina.
La discusión sobre el concepto y la idea de América Latina no es nueva. Los políticos se apropiaron de este constructo en el siglo XIX, poco después de su creación, no sólo para diferenciarse de su otro, el vecino del Norte, Estados Unidos, sino también para condenar sus designios y prácticas imperialistas. El concepto como objeto de investigación también ha sido abordado durante décadas por intelectuales como Arturo Ardao (1980; 1987) y Miguel Rojas Mix (1991; 1992), especialmente en relación con su origen y el imaginario que lo rodea.
En Brasil, la reflexión cobró cierto impulso hace algunos años con la publicación de un artículo de Leslie Bethell (2009) sobre este país y la idea de América Latina. Bethell, organizador de una exhaustiva recopilación sobre la Historia de América Latina, finaliza el artículo en cuestión con la breve conclusión de que “ha llegado el momento de que el mundo deje de considerar a Brasil como parte de lo que, en la segunda mitad del siglo , XX, se llamó América Latina, concepto que seguramente ha perdido la utilidad que tal vez tuvo alguna vez” (Bethell 2009, 314). La existencia de numerosos institutos que, a nivel internacional, aún se dedican al estudio de América Latina y toda la producción académica realizada en el siglo XXI sobre América Latina son ya pruebas suficientes para contradecir el decreto de Bethell, pero, más que eso, apuntan a la existencia de un debate sobre una supuesta identidad latinoamericana.
El tema de la identidad cultural, por cierto, es el que atraviesa la reflexión de todos aquellos autores que representan tendencias importantes de lo que podríamos llamar corrientes intelectuales en América Latina (arielismo, indigenismos, etc.) y propuestas de modernización (Devés Valdés 2000, 15-21), además de incorporar, en la historiografía, la búsqueda por el carácter nacional y los orígenes de las naciones en medio de diversas inestabilidades políticas y entre una población de composición múltiple. Un posible vínculo intelectual, por lo tanto, entre los países latinoamericanos puede residir precisamente en la búsqueda de identidades posibles y en las “redes intelectuales” (Wasserman 2004, 52) creadas a partir del planteamiento de tales problemas.
Otra posibilidad para pensar tal vínculo la abrieron los estudios “decoloniales”, especialmente a partir del surgimiento de la corriente autodenominada “Modernidad/Colonialidad” y los estudios en torno a la colonialidad del poder que permea la construcción -material y simbólica- de los pueblos latinoamericanos como naciones a imagen y semejanza del colonizador. Autores como Walter Mignolo (2003), Aníbal Quijano (2005) y Maria Lugones (2008) ponen en perspectiva las dinámicas de dominación social, racial y de género que permearon la construcción de América Latina, y encontraron repercusión, en Brasil, en la obra de Lélia Gonzalez, Ailton Krenak (2019; 2020; 2022) y Davi Kopenawa (2015), entre otros, que implosionan las fronteras nacionales y defienden una visión más amplia de los procesos ocurridos en América Latina tras su conquista por los europeos. De este pensamiento emergen identidades insurgentes, comprometidas con las agendas vigentes y que cuestionan los símbolos patrios, en un movimiento que resulta, contemporáneamente, en el derrocamiento de y las intervenciones en monumentos oficiales en busca de una reparación histórica en el ámbito de las políticas de memoria.
Si el pensamiento latinoamericano está asociado a una identidad latinoamericana (o a la búsqueda por una identidad), podemos preguntarnos cómo esta conexión repercute en el campo historiográfico. ¿Se puede hablar de una teoría de la historia latinoamericana o de una teoría de la historia de América Latina? ¿Qué elementos de este pensamiento latinoamericano contribuirían a la formación de una filosofía de la historia latinoamericana? Para este dossier esperamos textos que aborden la producción (con foco en la producción historiográfica) y la repercusión del saber en América Latina, sobre el vínculo intelectual entre los países latinoamericanos, la trayectoria intelectual de los autores latinoamericanos, los usos y transformaciones de ideas y conceptos en América Latina, así como artículos sobre el aporte de la reflexión de autores latinoamericanos a ciertos temas caros a la teoría de la historia.
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Referências Bibliográficas
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