Chamada para os dossiês de Estudos Linguísticos (Volumes 38 e 39)

2025-10-27

Dossiê: Os estudos enunciativos do discurso do Brasil: heranças, deslocamentos e novas cenas de enunciação

Organizadores/as:

Lígia Mara Boin Menossi de Araújo (UFSCar)

Marco Antonio Almeida Ruiz (UFG)

Edna Silva Faria (UFG)

Os estudos discursivos no e do Brasil constituem uma trajetória singular marcada por um intenso diálogo com as tradições teóricas francesas e por uma reelaboração crítica profundamente enraizada em nossa realidade sociocultural. Desde a década de 1980, a recepção de autores como Michel Pêcheux, Michel Foucault, Mikhail Bakhtin e Dominique Maingueneau impulsionou um movimento de deslocamentos epistemológicos na linguística brasileira, ampliando os modos de compreender as práticas discursivas que se materializam nas diversas cenas de enunciação que compõem o espaço social brasileiro. Inspirados nos princípios de Maingueneau – que concebe o discurso como um dispositivo de enunciação atravessado por uma cenografia, por um ethos e por regimes de interincompreensão entre diferentes formações discursivas –, os estudos do discurso no Brasil vêm se configurando como um campo em que as materialidades (verbais, visuais, corporais, midiáticas, digitais) são tomadas como lugares privilegiados de constituição do sentido e de inscrição dos sujeitos. Esta chamada convida pesquisadoras e pesquisadores a contribuir com reflexões que aprofundem essa tradição viva dos estudos enunciativos do discurso no Brasil, retomando e reinventando a herança teórica de autoras e autores que consolidaram o campo entre nós, em diálogo com as proposições contemporâneas de Dominique Maingueneau, a chamada Análise do discurso de base enunciativa. Interessa-nos, especialmente, a problematização dos modos de produção discursiva na atualidade, das novas cenografias enunciativas com base nas diferentes materialidades e das formas pelas quais os discursos constroem sentidos, identidades e modos de habitar a linguagem em uma cultura multifacetada e em constante transformação.

Prazo limite para envio de trabalhos: 20/03/2026

Após aprovados e editados, os trabalhos serão publicados ao longo do segundo semestre de 2026.

 

Dossiê: Narrativas Afro-Indígenas nas Ciências da Linguagem

Organizadoras:

Tânia Ferreira Rezende (UFG - Brasil)

Mariana Fernandes dos Santos (IFBA/UFSB - Brasil)

Teresa Maria Alfredo Manjate (UEM - Moçambique)

As narrativas como formas de expressão traduzem um conjunto de sensibilidades e sentidos, através de processos complexos de representação. Considera-se que a construção imaginária de uma identidade implica uma atribuição de significados, não apenas na articulação espaço/tempo, que resgataria as dimensões dos contextos, mas pela possibilidade de exploração de outros vetores de sentido que tornam dinâmicas as leituras e a exposição dos leitores a diversidades e a exploração das textualidades. Nesse contexto, importa referir que as narrativas são manifestações linguísticas da memória. Assim, os povos, em sua diversidade, são povos do narrar, podendo ser do aprender e de inscrever e transmitir conhecimentos em narrativas que, dessa maneira, são compreendidas como modos de significação do mundo, de manutenção e manifestação das memórias e um modo “pelo qual as pessoas organizam suas experiências no mundo social, seu conhecimento sobre ele e as trocas que com ele mantêm” (Bruner, 1997, p. 41). A narrativa oral, a oralitura (Leda Maria Martins, 2003), é um importante modo de afetação pela memória da construção de conhecimentos, através de conexões com o sagrado, manifestações e afetações espirituais e com o mundo, de modos de cura, como as rezas, as benzeções e as encantarias. A narrativa escrita, em geral, são as diversas manifestações escritas de narrativas, em diferentes sistemas e repertórios escritos, é conhecimento, é memória e é registro de memória e de conhecimento e, nesse sistema binário hierarquizado em que vivemos, é um importante espaço de inscrição de um conhecimento, até muito recentemente marginalizado. A narrativa sinalizada, a sinalitura, na diversidade das línguas de sinais, é um despertar para outros registros de conhecimento, de memória e de manifestação epistemológica e memorialística. Nossa proposta, com este dossiê, é reunir trabalhos que tomem a narrativa – oral, a oralitura, sinalizada, a sinalitura, e escrita – como central na confluência entre dizer, saber e fazer pela linguagem, e na confluência afro-indígena. Em ouras palavras, esperamos discussões focadas nas narrativas como loci epistemológico e pedagógico, de registro de memória, como construção de sentido e de significação de múltiplos universos (os pluriversos), como instrumentos que educam para um modo outro de viver em biointeração com o planeta.

Prazo limite para envio de trabalhos: 10/08/2026

Após aprovados e editados, os trabalhos serão publicados ao longo do primeiro semestre de 2027.