DIANTE DA QUEDA DO CÉU, “ENDIREITAR” O DIREITO AMBIENTAL À LUZ DO PENSAMENTO DOS POVOS INDÍGENAS

BEFORE THE FALL OF THE SKY, “STRAIGTEN UP” ENVIRONMENTAL LAW IN THE LIGHT OF INDIGENOUS PEOPLES’ THINKING

Autores

  • Joaquim Shiraishi UFMA

Palavras-chave:

modernidade, direito ambiental, pandemia, agenciamento

Resumo

O Direito, incluindo o Direito Ambiental, está ligado à constituição do projeto da Modernidade, operando segundo uma lógica econômica, fundada nas garantias do livre trânsito do sujeito e dos bens e serviços. A pandemia de covid-19, por sua vez, pôs em questão esse modelo depurado, que fragmenta, distingue e separa o sujeito da Natureza para operar. Este artigo objetiva refletir sobre as possibilidades de “endireitar” o pensamento jurídico ambiental à luz do pensamento dos povos indígenas para repensar a construção de um sistema jurídico capaz de assegurar as condições efetivas de vida no planeta Terra (há aqui uma certa dose de idealismo jurídico). O estudo é pertinente, já que se propõe a problematizar as reflexões jurídicas baseadas em um único ponto de vista. A metodologia circunscreve-se ao pensamento dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais, que
questionam a forma como se concebe o Direito Ambiental.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALLIEZ, Éric; LAZZARATO, Mauricio. Guerras e capital. São Paulo: UBU Editora, 2021.

ALONSO, Angela; COSTA, Valeriano; MACIEL, Débora. Identidade e estratégia na formação do movimento ambientalista brasileiro. Novos Estudos, São Paulo, n. 79, p. 151-167, nov. 2007.

ÁVILA SANTAMARIA, Ramiro. El derecho de la naturaleza: fundamentos. In: ACOSTA, Alberto; MARTÍNEZ, Esperanza (comp.). La naturaleza con derechos: De la filosofía a la política. Quito: Abya-Yala, 2011. p. 173-238.

BENATTI, José Heder. Posse agroecológica & manejo florestal. Curitiba: Juruá, 2003.

BENJAMIN, Herman. Direito constitucional ambiental brasileiro. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito Constitucional Ambiental brasileiro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 83-155.

BERCOVICI, Gilberto. Constituição e Estado de Exceção Permanente. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2004.

BERCOVICI, Gilberto. Soberania e Constituição: para uma crítica do constitucionalismo. São Paulo: Quartier Latin, 2008.

BRONZATTO, Thiago. Elas fizeram o rapa: uma leva de escritórios que acabam de chegar ao país já contratou mais de 60 advogados de bancas tradicionais. Revista Exame, São Paulo, n. 12, ano 44, p. 60-63, 30 jun. 2010.

CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Meio ambiente y desarrollo: formulación e implementación del derecho al desarrollo como un derecho humano. San Jose, CR: IIDH, 1993 (Para ONG, 8).

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional Ambiental português: tentativa de compreensão de 30 anos das gerações ambientais no direito constitucional português. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito Constitucional Ambiental brasileiro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 23-33.

CHADE, Jamil. Painel mundial de cientistas detona tese negacionista de clima. 3 ago. 2021a. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2021/08/03/painel-mundial-de-cientistas-detona-tese-negacionista-de-clima-de-bolsonaro.htm. Acesso em: 19 ago. 2021.

CHADE, Jamil. Desmatamento aumentará frequência de novas pandemias, diz painel da ONU. 14 ago. 2021b. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2021/08/14/desmatamento-aumentara-frequencia-de-novas-pandemias-diz-painel-da-onu.htm. Acesso em: 19 ago. 2021.

CORONIL, Fernando. Naturaleza del poscolonialismo: del eurocentrismo al globocentrismo. In: LANDER, Edgardo (comp.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas latinoamericanas. 2. ed. Buenos Aires: Fundación CICCUS, 2016. p. 105-129.

DAVID Choquehuanca: “sabemos que unidos valemos más”. Palabras del vicepresidente electo David Choquehuanca en ceremonia de toma de posesión de Luis Arce como presidente de Bolivia. TeleSUR. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=JmAFKehPY-M&t=528s. Acesso em: 8 nov. 2020.

DELAZAY, Yves; GARTH, Bryant G. Legitimating the new legal orthodoxy. In: DELAZAY, Yves; GARTH, Bryant G. (ed.). Global Prescriptions: The Production, Exportation, and Importation of a New Legal Orthodoxy. Ann Arbor, MI: University of Michigan, 2005. p. 306-334.

ESCOBAR, Arturo. Sentipensar con la tierra: nuevas lecturas sobre desarrollo, territorio y diferencia. Medellin: Universidad Autónoma Latinoamericana, 2014.

ESCOBAR, Arturo. El lugar de la naturaleza y la naturaleza del lugar: ¿globalización o postdesarrollo? In: LANDER, Edgardo (comp.). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas latinoamericanas. 2. ed. Buenos Aires: Fundación CICCUS, 2016. p. 131-161.

GUDYNAS, Eduardo. Derechos de la Naturaleza: ética biocéntrica y políticas ambientales. La Paz: Plural Editores, 2014.

HÄBERLE, Peter. Dignidad humana y democracia. In: HÄBERLE, Peter. Constitución como cultura. Bogotá: Instituto de Estudios Constitucionales Carlos Restrepo Piedrahita, 2002. p. 15-40.

INGOLD, Tim. Estar vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis: Vozes, 2019.

KOPENAWA, Davi. Hutukara: grito da terra. Belo Horizonte: Edições Chão da Feira, 2021. (Cadernos de Leituras, 130).

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomani. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

LAGROU, Els. Nisun: a vingança do povo morcego e o que ele pode nos ensinar sobre o novo coronavirus. Jornalistas Livres, 14 abr. 2020. Disponível em: https://jornalistaslivres.org/nisun-a-vinganca-do-povo-morcego-e-o-que-ele-pode-nos-ensinar-sobre-o-novo-coronavirus/. Acesso em: 14 abr. 2021.

LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994.

LATOUR, Bruno. Onde aterrar? Como se orientar politicamente no Antropoceno. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020a.

LATOUR, Bruno. Prefácio à edição brasileira. In: LATOUR, Bruno. Diante de Gaia: oito conferências sobre a natureza no Antropoceno. São Paulo: Ubu Editora, 2020b. p. 9-11.

LEFF, Enrique. A cada quien su virus: la pregunta por la vida y el porvenir de una democracia viral. HALAC: Historia Ambiental, Latinoamericana y Caribeña, [s.l.], v. 10, supl. 1, p. 139-175, 2020. Disponível em: https://www.halacsolcha.org/index.php/halac/issue/view/40/v.%2010%20Edici%C3%B3n%20Suplementaria%201%20%282020%29. Acesso em: 14 abr. 2021.

LEITE, José Rubens Morato. Sociedade de risco e Estado. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.). Direito Constitucional Ambiental brasileiro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 157-232.

LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Estado de Direito Ambiental e sensibilidade ecológica: os novos desafios à proteção da natureza em um Direito Ambiental de segunda geração. In: WOLKMER, Antônio Carlos; LEITE, José Rubens Morato. Os “novos” direitos no Brasil: natureza e perspectivas – uma visão básica das novas conflituosidades jurídicas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 219-256.

“NÓS nos tornamos um vírus para o planeta”. Entrevistado: Philippe Descolla. Entrevistador: Nicolas Truong. Instituto Humanitas Unisinos, 23 maio 2020. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/599262-nos-nos-tornamos-um-virus-para-o-planeta-entrevista-com-philippe-descola. Acesso em: 12 jul. 2021.

OBSERVATÓRIO DO CLIMA. “Passando a boiada”: o segundo ano de desmonte ambiental sob Jair Bolsonaro. 2021. Disponível em: https://www.oc.eco.br/wp-content/uploads/2021/01/Passando-a-boiada-1.pdf. Acesso em: 12 jul. 2021.

OLIVEIRA, Francisco de. Crítica à razão dualista. O ornitorrinco. São Paulo: Boitempo, 2003.

SALLES diz que governo deve aproveitar pandemia e “ir passando a boiada” em medidas regulatórias. 22 maio 2020. 1 vídeo (2:44). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HeQYIbMXbXQ. Acesso em: 19 jun. 2021.

SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e novos direitos: proteção jurídica à diversidade biológica e cultural. Brasília, DF: IEB: ISA, 2005.

SARLET, Ingo Wolfgang. As dimensões da dignidade da pessoa humana: construindo uma compreensão jurídico-constitucional necessária e possível. In: SARLET, Ingo Wolfgang (org.). Dimensões da dignidade: ensaios de Filosofia do Direito e Direito Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 13-43.

SHIRAISHI NETO, Joaquim. Leis do Babaçu Livre: práticas jurídicas das quebradeiras de coco babaçu e normas correlatas. Manaus: PPGSCA-UFAM; Fundação Ford, 2006.

SHIRAISHI NETO, Joaquim. Direito dos povos e das comunidades tradicionais: declarações, convenções internacionais e dispositivos jurídicos definidores de uma política. 2. ed. Manaus: PPGAS-UFAM: NSCA-CEST-UEA, 2010.

SHIRAISHI NETO, Joaquim. Globalização do direito: novos conteúdos à natureza. Revista Internacional de Direito Ambiental, Caxias do Sul, v. 6, n. 17, p. 117-140, maio/ago. 2017a.

SHIRAISHI NETO, Joaquim. Xangô! Livre-nos do governo ilegítimo de Temer! O direito das comunidades quilombolas à mercê das conveniências do poder. Combate Racismo Ambiental, 21 ago. 2017b. Disponível em: https://racismoambiental.net.br/2017/08/21/xango-livre-nos-do-governo-ilegitimo-de-temer-o-direito-das-comunidades-quilombolas-a-merce-das-conveniencias-do-poder/. Acesso em: 18 ago. 2021.

SHIRAISHI NETO, Joaquim. A proteção do conhecimento tradicional no contexto da globalização do direito. REPOCS, São Luís, v.16, n. 31, p. 209-228, jan./jul. 2019.

SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2002.

SILVA, José Afonso da. Teoria do conhecimento constitucional. São Paulo: Malheiros, 2014.

SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. O renascer dos povos indígenas para o direito. Curitiba: Juruá, 1999.

SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. A essência socioambiental do constitucionalismo americano. Revista da Faculdade de Direito da UFG, Goiânia, v. 41, n. 1, p. 197-215, jan./jun. 2017a.

SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. De como a natureza foi expulsa da modernidade. Revista de Direitos Difusos, São Paulo, v. 68, n. 2, p. 15-40, jul./dez. 2017b.

STENGERS, Isabelle. No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. São Paulo: Cosac Naify, 2015.

SVAMPA, Maristella. As fronteiras do neoextrativismo na América Latina: conflitos socioambientais, giro ecoterritorial e novas dependências. São Paulo: Elefante, 2019.

SVAMPA, Maristella. Reflexiones para un mundo post-coronavirus. Nueva Sociedad, abr. 2020. Disponível em: https://nuso.org/articulo/reflexiones-para-un-mundo-post-coronavirus/. Acesso em: 12 jul. 2021.

WALLACE, Rob. Pandemia e agronegócio: doença infecciosas, capitalismo e ciência. São Paulo: Elefante, 2020.

Downloads

Publicado

2023-01-19

Como Citar

SHIRAISHI, J. DIANTE DA QUEDA DO CÉU, “ENDIREITAR” O DIREITO AMBIENTAL À LUZ DO PENSAMENTO DOS POVOS INDÍGENAS : BEFORE THE FALL OF THE SKY, “STRAIGTEN UP” ENVIRONMENTAL LAW IN THE LIGHT OF INDIGENOUS PEOPLES’ THINKING . Revista da Faculdade de Direito da UFG, Goiânia, v. 46, n. 1, 2023. Disponível em: https://revistas.ufg.br/revfd/article/view/72236. Acesso em: 28 mar. 2024.