Timo, Lipotímia

Authors

  • Joffre Marcondes de Rezende IPTSP

DOI:

https://doi.org/10.5216/rpt.v39i4.13070

Abstract

Há em grego duas palavras muito semelhantes, que se diferenciam apenas
pela sílaba tônica: (1)Θ?μος – planta odorífera do gênero Thymus, conhecida
popularmente por tomilho. Θυμ?ς – alma, espírito, ânimo, vida. De ambas procedem termos médicos que se assemelham, gerando certa confusão quanto à sua
origem e significado. Hipócrates e Galeno usaram a palavra thýmos como sinônimo de
excrescência verrucosa, possivelmente por sua semelhança com a inflorescência
do tomilho. No mesmo sentido, Aetius de Amida denominou thýmos um tumor
vulvovaginal com a aparência de amora madura. Rufo de Efesus (séc. I d.C.), em
seu livro Nomes das diferentes partes do corpo humano, referiu-se à glândula, “[...]
também chamada thýmos, que vai da extremidade superior do coração, recobrindo
a sétima vértebra cervical, até a extremidade da traqueia, atrás do pulmão, não sendo
visível em todos os indivíduos”. Supõe-se que a denominação da glândula também
se originou de seu aspecto granuloso (2, 3).
A descrição anatômica completa da glândula foi feita por Berengarius di
Carpi em 1524 e Vesalius, em sua obra memorável De humanis corporis fabrica,
mencionou-a como glândula (2).
O timo é pouco conhecido dos leigos, não tendo recebido nome popular.

Tratando-se de reses, é conhecido nos matadouros por moleja (4), termo que também designa o pâncreas desses animais. Moleja é ainda usado como sinônimo de fressuras e miúdos de animais, especialmente de aves. Em inglês, o timo, assim como o pâncreas de vitela, quando preparado como alimento, é conhecido por sweetbread, (5) sendo considerado fina iguaria. O correspondente em francês a sweetbread é ris de veau e, em alemão, kalbsmilch (6).A função do timo permaneceu desconhecida até a década de 1950,
quando foi reconhecido como um órgão produtor de linfócitos, indispensável para o
desenvolvimento do sistema normal de imunidade (7).
Do nome da glândula formaram-se os cognatos tímico, timoma, timócito,
timina, timosina, timectomia, timopexia, timotrofico etc.
A outra palavra homônima thymós, com acento na última sílaba e
com o sentido de alma, espírito, ânimo, vida, deu origem a vários compostos do
vocabulário médico, como atimia, catatimia, distimia, esquizotimia, eutimia, ,
hipertimia, lipotimia etc.
O dicionário Houaiss (4) registra 16 vocábulos com a terminação em
–timia. Tais termos nada têm a ver com o timo (glândula) e sim com o estado de
ânimo da pessoa.
A confusão entre os dois radicais gregos e a proximidade da glândula com
o coração levou algumas pessoas a pensar que o timo fosse a sede da alma (8).
Lipotimia, no sentido de síncope, desmaio (de leipo, cessar, abandonar),
foi primeiramente empregado por Hipócrates em seu aforismo 1.23 (9). Os léxicos
da língua portuguesa, seguindo a regra da formação das palavras diretamente do
grego, dão lipotimia como paroxítona; todavia, ao contrário dos demais compostos,
lipotimia passou antes pelo latim, tornando-se proparoxítona, o que justifica o uso, já consagrado em nosso idioma, da prosódia latina – lipotímia.
Há ainda outras palavras que se escrevem em nosso idioma com o radical
timo-, de origem diversa dos que foram citadas no início destes comentários, as quais
não serão aqui analisadas por não se relacionarem com o objetivo deste artigo.

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Published

2011-01-31

How to Cite

REZENDE, J. M. de. Timo, Lipotímia. Revista de Patologia Tropical / Journal of Tropical Pathology, Goiânia, v. 39, n. 4, p. 343–344, 2011. DOI: 10.5216/rpt.v39i4.13070. Disponível em: https://revistas.ufg.br/iptsp/article/view/13070. Acesso em: 23 nov. 2024.

Issue

Section

LINGUAGEM MÉDICA / MEDICAL LANGUAGE