Do verossímil ao verdadeiro
a escrita literária como gesto de arquivamento em os anos (2008), de Annie Ernaux
DOI:
https://doi.org/10.5216/hr.v29i2.80518Palavras-chave:
Annie Ernaux, Autobiografia, Temporalidade, ArquivoResumo
A obra da escritora francesa Annie Ernaux (1940) tem gerado crescente interesse editorial e intelectual no Brasil. Ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 2022, tem sido, por óbvio, desde então, intensamente comentada em nossos periódicos especializados. Não obstante se tratar de literatura, tout court, textos impressionantes de Ernaux como O lugar, 1983; O acontecimento, 2000; Os anos, 2008 – podem se converter, para historiadores, em importantes pontos de reflexão teórica, metodológica e temática. A sua maneira refinada de evocar o tempo, as formas de operar o tênue limite entre literatura e factualidade, o pessoal e o coletivo, o estético e o político, não passam despercebido ao olhar atento de quem sabe que as narrativas históricas e literárias, uma vez nascidas gêmeas, deveriam ter sua relação melhor trabalhada. Ao fazer transitar um ‘eu’ e um ‘outro’ do discurso entre a referencialidade histórica e a literatura, a narrativa produzida pela autora francesa gera consequências relevantes para a literatura contemporânea, mas não só. As escolhas literárias da escritora põem em perspectiva problemas não resolvidos nem na teoria literária nem na historiografia. Neste artigo, investigo, o lugar que o hibridismo de gênero assume em sua obra, por um lado, e por outro, como ideias de memória, temporalidade e arquivo são operados e colocados em relação de modo a corroborar a escolha narrativa que ela faz. Ambos os processos são acompanhados em Os anos, 2021(Les anées, 2008) – livro de Ernaux que é fundamental em relação ao diálogo com o campo da história.
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- 2025-04-15 (2)
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