Cultura popular e regionalismo no romance “O Matuto” de Franklin Távora
DOI:
https://doi.org/10.5216/hr.v29i2.79842Palavras-chave:
cultura popular, regionalismo, Franklin TávoraResumo
O presente artigo analisa as noções de povo, popular e região em O matuto (1878), de Franklin Távora, no qual é narrado a Guerra dos Mascates. Numa história que se passa nas fazendas, um tanto distantes dos eventos, o escritor busca descrever os caracteres do matuto do Norte, seu “modus vivendi”, buscando diferenciá-lo dos demais habitantes do sul. O autor faz parte de um contexto em que as tradições indígenas foram sendo substituídas pela cultura popular como símbolo da nacionalidade. Nesse sentido, ele apresenta uma dubiedade: o matuto é forte, é leal, é probo, é verdadeiro, mas é também violento, licencioso, ignorante, bandido. Távora resolve esse problema criando a imagem de um matuto obediente, resignado e trabalhador, à qual o leitor deve nutrir simpatia. Ele está condenando o povo, pois o tinha como muito distante do cidadão da república que desejava instaurar, e idealizando o popular, como o substrato cultural da nação imaginária.
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