Cultura popular e regionalismo no romance “O Matuto” de Franklin Távora

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5216/hr.v29i2.79842

Palavras-chave:

cultura popular, regionalismo, Franklin Távora

Resumo

O presente artigo analisa as noções de povo, popular e região em O matuto (1878), de Franklin Távora, no qual é narrado a Guerra dos Mascates.  Numa história que se passa nas fazendas, um tanto distantes dos eventos, o escritor busca descrever os caracteres do matuto do Norte, seu “modus vivendi”, buscando diferenciá-lo dos demais habitantes do sul. O autor faz parte de um contexto em que as tradições indígenas foram sendo substituídas pela cultura popular como símbolo da nacionalidade. Nesse sentido, ele apresenta uma dubiedade: o matuto é forte, é leal, é probo, é verdadeiro, mas é também violento, licencioso, ignorante, bandido. Távora resolve esse problema criando a imagem de um matuto obediente, resignado e trabalhador, à qual o leitor deve nutrir simpatia. Ele está condenando o povo, pois o tinha como muito distante do cidadão da república que desejava instaurar, e idealizando o popular, como o substrato cultural da nação imaginária. 

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Biografia do Autor

Manoel Carlos Fonseca de Alencar, Universidade Estadual do Ceará (UEC), Fortaleza, Ceará, Brasil, manoel.alencar@uece.br

É professor Adjunto do curso de História da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central (UECE) e membro permanente do Mestrado Interdisciplinar em História e Letras (MIHL), na linha de pesquisa Memórias e Historicidade. Tem experiência na área de História do Brasil, com ênfase em História do Brasil Monárquico, atuando principalmente nos seguintes temas: história e literatura, intelectuais, história do Ceará, cultura popular e nacionalidade.

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Publicado

2025-04-07 — Atualizado em 2025-04-15

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Como Citar

ALENCAR, M. C. F. de. Cultura popular e regionalismo no romance “O Matuto” de Franklin Távora . História Revista, Goiânia, v. 29, n. 2, p. 141–161, 2025. DOI: 10.5216/hr.v29i2.79842. Disponível em: https://revistas.ufg.br/historia/article/view/79842. Acesso em: 21 abr. 2025.