"África sonolenta”

O espetáculo de uma doença colonial

Autores

Palavras-chave:

Tripanossomíase humana, Medicina Tropical, Colonialismo

Resumo

A representação da “África sonolenta” é analisada no entrecruzamento da história das ciências, da saúde e das doenças. O discurso médico sobre a tripanossomíase africana esteve afinado ao diapasão de uma retórica colonial que fez dessa doença tropical o maior obstáculo para o desenvolvimento africano. A biopolítica colonial definiu a gestão territorial e o controle das populações africanas. A África foi um “grande laboratório” para uma medicina tropical em formação no final do século XIX. Imagens da vacinação em massa foram divulgadas na imprensa periódica ilustrada com o fito de confirmar a suposta ação benéfica da “colonização científica” que os impérios deveriam adotar na primeira metade do século XX a fim de reformar o colonialismo. A partir de documentação em grande parte da área da medicina tropical, mostra-se a relação entre o espetáculo de uma doença colonial com a propaganda dos impérios.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Silvio Correa, Universidade Federal de Santa Catarina

Doutor em Sociologia pela Westfälische-Wilhelms-Universität Münster. Professor no Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina.

Referências

AMARAL, Isabel. Bactéria ou parasita? A controvérsia sobre a etiologia da doença do sono e a participação portuguesa, 1898-1904. História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro, v. 19, n. 4, p. 1275-1300, 2012.

ARNOLD, David. Colonizing the body: State medicine and epidemic disease in nineteenth-century India. Berkeley: University of California Press, 1993.

BARLET, Olivier; BLANCHARD, Pascal. Rêver: L’impossible tentation du cinéma colonial. In: BLANCHARD, Pascal; LEMAIRE, Sandrine. Culture coloniale 1871-1931. Paris: Editions Autrement, 2003.

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. A aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

BLANCHARD, Pascal; ARMELLE, Chatelier (orgs.). Images et Colonies. Paris: ACHAC/BDIC, 1993.

BRODEN, Alphonse. Un nouveau cas de trypanosomiase chez l’Européen. Bulletin de la Société d’Etudes coloniales. Paris, p.165-169, 1905.

BUTCHART, Alexander. The anatomy of power: European constructions of the African body. Nova York: Zed Books, 1998.

BUXTON, Patrick A. Trypanosomiasis in Eastern Africa (1947). Londres: Tsetse Fly and Trypanosomiasis Committee, Colonial Office, 1948.

CAMBON, Paul. La maladie du sommeil et son traitement. Thèse présenté et publiquement soutenue devant la Faculté de Médecine de Montpellier. 1908. Tese (Doutorado em Medicina) – Faculdade de Medicina de Montpellier, 1908.

CAMPENHOUT, Emile van. Léthargie d’Afrique. Journ. méd. de Bruxelles, 1900.

CASOS e coisas. A Comedia portuguesa, n. 47, Lisboa, p. 2, 08 dez. 1902.

CASTELO, Cláudia. Ciência, Estado e Desenvolvimento no Colonialismo Português Tardio. In: JERONIMO, Miguel B. (org.). O império colonial em questão (sécs. XIX-XX): poderes, saberes e instituições. Lisboa: Edições 70, 2012, p. 349-387.

CORREA, Sílvio Marcus de Souza. “Hipnóticos” na metrópole: africanos no Hospital Colonial de Lisboa nas primeiras décadas do século XX. História, ciências, Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro, vol. 27, n. 4, p. 1125-1147, 2020.

CORREA, Sílvio Marcus de Souza. Caça e preservação da vida selvagem na África Colonial. Esboços, Florianópolis, v. 18, n. 25, p. 164-183, 2011.

CORREA, Sílvio Marcus de Souza. O “combate” às doenças tropicais na imprensa colonial alemã. História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro, vol. 20, n. 1, p. 69-91, 2013.

DAS INSTITUT für Schiffs und und Tropenkrankheiten zu Hamburg. Kolonie und Heimat. Hamburgo, n. 25, 1919.

DO SUCESSO da exposição: curiosos números estatísticos. Ultramar: órgão oficial da exposição colonial, n. 18, Porto, p. 7, 15 out. 1934.

DUBOIS, A.; DUREN, A. Soixante ans d’organisation médicale au Congo Belge, Annales de la Société Belge de Médecine Tropicale. Bruxelas, vol. 27, n. suppl. Lib. Jub. J. Rodhain, 1947.

ECKART, Wolfgang. Germanin – Fiktion Fiktion und Wirklichkeit in einem nationalsozialistischen Propagandafilm. In: ECKART, Wolfgang; BENZENHÖFER, Udo (orgs.). Medizin im Spielfilm des Nationalsozialismus. Tecklenburg: Burgverlag, 1990, p. 69-83.

ECKART, Wolfgang. The Colony as Laboratory: German Sleeping Sickness Campaigns in German East Africa and in Togo, 1900-1914. History and Philosophy of the Life Sciences. Londres, v. 24, n. 1, p. 69-89, 2002.

EFFEITOS do soro inglez. A Comedia portuguesa, n. 48, Lisboa, p. 4, 15 dez. 1902.

ESNAULT, P.; GAUTIER, G. Le cinéma colonial. Revue du cinema. Paris, n. 394, p. 83-94, 1984.

FORDE, Robert. Some clinical notes on a European patient in whose blood a trypanosoma was observed. Journal of Tropical Medicine and Hygiene. Londres, v. 5, p. 261-263, 1902.

GIDE, André. Voyage au Congo (1926-1927). Paris: Gallimard, 2013.

GUÉRIN. La maladie du sommeil. Thèse présenté et publiquement soutenue devant la Faculté de Médecine de Paris. 1869. Tese (Doutorado em Medicina) – Faculdade de Medicina de Paris, 1869.

INFORMAÇÃO da quinzena: os indígenas na exposição. Ultramar: órgão oficial da exposição colonial, n. 9, Porto, p. 7, 01 jun. 1934b.

INFORMAÇÃO da quinzena: serviços de saúde na exposição. Ultramar: órgão oficial da exposição colonial, n. 9, Porto, p. 7, 01 jun. 1934a.

LACHENAL, Guillaume. Le médecin qui voulut être roi. Médecine coloniale et utopie au Cameroun. Annales. Histoire, Sciences Sociales. Paris, vol. 65, n. 1, p. 121-156, 2010.

LACHENAL, Guillaume. Le médicament qui devait sauver l’Afrique. Un scandale pharmaceutique aux colonies. Paris: La Découverte, 2014.

LE RÉVEIL d’une race. Produção: Les Films Exotiques. Realização: Alfred Chaumel. Paris, 1930.

LEITÃO, Alberto de Souza Maia. Relatório da visita sanitária aos concelhos de Loanda mais vitimados pela doença do sono. Porto: Tipografia a Vapor da Empresa Litografia e Tipografia, 1901.

MARTIN, Gustave et al. Rapport de la Mission d’Etudes de la Maladie du Sommeil au Congo Français, 1906-1908. Paris: Masson & Cie Editeurs, 1909.

MARTIN, L. Maladie du sommeil, cinq nouveaux cas de trypanosomiase chez les blancs. Annales de l’Institut Pasteur. Paris, 1907.

MARTIN, L.; THIROUX, A. La maladie du sommeil au Sénégal. Trois cas traités. Guérison dans un cas. Cinq nouveaux cas de Tryp. chez les blancs. Bull. Ac. de méd. (Rapport de Laveran). Paris, 1907.

MASON, Patrick. Sleeping Sickness and Trypanosomiasis in a European: Death: Preliminary Note. British Medical Journal. Londres, n. 2, p. 1461, 1903.

MITCHELL, Timothy. Colonising Egypt. Berkeley, Los Angeles, Londres: University of California Press, 1991.

MOVIMENTO do posto sanitário nos meses de maio, junho, julho, agosto e setembro de 1934. Ultramar: órgão oficial da exposição colonial, n. 17, Porto, p. 3, 01 out. 1934.

NEGÓCIOS escuros. A Comedia portuguesa, n. 44, Lisboa, p. 4, 17 nov. 1902.

NEVES, Jaime. A doença do sono, uma doença social. Anais da Escola Nacional de Saúde Pública e Medicina Tropical. Lisboa, vol. 1, n. 4, p. 179-184, 1967.

O IMPÉRIO português na Primeira Exposição Colonial Portuguesa: Álbum-Catálogo Oficial. Porto: Tipografia Leitão, 1934.

O MINISTÉRIO da Instrução e a Exposição. Ultramar: órgão oficial da exposição colonial, n. 7, Porto, p. 1, 01 mai. 1934.

O SORO inglez. A Comedia portuguesa, n. 47, Lisboa, p. 8, 08 dez. 1902.

PAULA, Simoni. O colonialismo espelhado nas águas do Cunene (1884 - 1975). 2016. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal de Santa Catarina, 2016.

PINA, Luís de. Ciência e Colonização. Ultramar: órgão oficial da exposição colonial, n. 9, Porto, p. 1-2, 15 abr. 1934.

PROPAGANDA colonial: uma sessão de documentários cinematográficos no S. João Cine, do Pôrto. Ultramar: órgão oficial da exposição colonial, n. 1, Porto, p. 3, 01 fev. 1934.

REYNOLDS, Glenn. Colonial Cinema in Africa: Origins, Images, Audiences. Jefferson: McFarland & Company, 2015.

RIBEIRO, Manuel F. Princípios elementares de higiene colonial ou máximas, sentenças, ditados e indicações práticas sobre o que mais convém fazer para se conservar a saúde para melhor se resistir em qualquer das colónias portuguesas. Lisboa: Minerva Avenida, 1890.

ROCHA, F.; PIRES, F. A. Vinte anos de luta contra à doença do sono 1946-1965. Porto: Tipografia Sequeira, 1966.

ROUJAS, H. La maladie du sommeil. Thèse présenté et publiquement soutenue devant la Faculté de Médecine de Paris. 1904. Tese (Doutorado em Medicina) – Faculdade de Medicina de Paris, 1904.

SARMENTO, Alexandre. História breve de uma grande obra: o combate à doença do sono em Angola. Lisboa: Oficina Gráfica Casa Portuguesa, 1954.

STHOR, F. O. La Maladie du Sommeil au Katanga. Londres: Constable & Co., Ltd. 1912.

STOLER, Ann. Race and the Education of Desire: Foucault's History of Sexuality and the Colonial Order of Things. Durham: Duke University Press, 1995.

STOLER, Ann; COOPER, Frederick. Between Metropole and Colony: Rethinking a Research Agenda. In: STOLER, Ann; COOPER, Frederick (orgs). Tensions of Empire: Colonial Cultures in a Bourgeois World. Berkeley: University of California Press, 1997, p. 1-56.

TILLEY, Helen. Africa as a ‘living laboratory’. The African research survey and the British colonial empire: Consolidating environmental, medical, and anthropological debates, 1920-1940. 2011. Tese (Doutorado em História) – Oxford University, 2011.

WILLEMS, E. La maladie du sommeil chez le blanc. Bulletin de la Société Royale des Sciences Médicales et Naturelles de Bruxelles. Bruxelas, 1908.

YAKAM, Josiane. Eugène Jamot: historiographie et hagiographie d'un médecin colonial. Outre-mers. Revue d’historie. Paris, vol. 95, n. 360-361, p. 169-189, 2008.

Downloads

Publicado

2024-08-08

Como Citar

CORREA, S. "África sonolenta”: O espetáculo de uma doença colonial. História Revista, Goiânia, v. 28, n. 3, p. 28–51, 2024. Disponível em: https://revistas.ufg.br/historia/article/view/76759. Acesso em: 22 dez. 2024.