O Caboclinho como afeto
a presença indígena nas danças populares e tradicionais
Palavras-chave:
Caboclinho, Dança, Guerra, AfetoResumo
Se é possível reconhecer a influência da presença indígena nas danças populares e tradicionais brasileiras, há que se reconhecer que tal influência ainda não foi suficientemente estudada. Poucos trabalhos se dedicaram com profundidade ao tema. O que, possivelmente, decorre da ostensiva política de invisibilização a qual esses povos foram submetidos, gerando a dispersão de muitos de seus elementos e uma dificuldade em caracterizá-los como indígenas, tamanho o impacto que representou torná-los "brasileiros". Ao apontar esta sintomática lacuna, este artigo pretende destacar que essa presença indígena na dança, que envolve imagens, objetos, práticas rituais, dinâmicas relacionais é também reveladora de estratégias de luta pela memória e de uma resistência ao desaparecimento, através de uma história indígena incorporada, onde o confronto como dinâmica relacional é importante chave de entendimento. Afinal, num país com tão pouco apreço pela memória e identidade indígenas, surpreende a definição de Seu Nelson Ferreira, do Caboclinho Sete Flexas de Goiana/Pernambuco de que "o caboclinho é um afeto indígena".
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