Bullying entre pares na escola: desafio aos enfermeiros que atuam na atenção básica à saúde

Autores

  • Marta Angélica Iossi Silva Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto

DOI:

https://doi.org/10.5216/ree.v15i3.24527

Resumo

Não raramente nos deparamos com questionamentos acerca do papel e da pertinência do trabalho do enfermeiro frente à violência escolar. Estaria o enfermeiro preparado para tal? A violência escolar e sua abordagem seriam objeto do cuidado de enfermagem?

Para respondermos a estas questões, entre outros elementos é necessário contextualizarmos a enfermagem enquanto ciência e prática social capaz de dialogar com as necessidades dos sujeitos, seja no contexto individual ou coletivo. Essa enfermagem também capaz de estabelecer o cuidar numa abordagem epistemológica comprometida com a ética, com o verdadeiro encontro relacional entre quem cuida e quem é cuidado, com empoderamento e emancipação humana e evolução das sociedades(1-2).

Portanto há que se considerar sua relação com a sociedade e, neste caso, com a violência em suas mais diversas tipologias e como problema de saúde pública. Ambas as relações se constituem, de fato, em premissas para que possamos agir sem ingenuidade: há uma estreita e íntima vinculação a ser estabelecida. No entanto, ainda percebemos uma lacuna, seja no campo prático, investigativo ou da formação, que viabiliza um agir e um compromisso do enfermeiro diante do quadro de violência cada vez mais frequente e presente no interior das escolas: a violência manifestada por meio de situações de bullying. Esta situação exige que a área da saúde, especialmente a enfermagem, estabeleça uma dimensão cuidadora na perspectiva da promoção à saúde individual e coletiva por meio da prática interdisciplinar e intersetorial.

Sendo assim, a partir de um trabalho articulado e conjugado na atenção básica em saúde, com as competências e especificidades de outras áreas, educação, assistência social, psicologia, referenciado pela promoção da saúde na escola, pelo cuidado integral e educação em saúde o enfermeiro pode estabelecer possibilidades de atuação conjunta na minimização e prevenção do bullying.

Nesse sentido, a atuação da enfermagem se estabelece na ação, na atitude e no envolvimento cotidiano da equipe e dos serviços, considerando a presença do “outro” no espaço assistencial, na otimização e diversificação das formas de interação “eu-outro” e no “enriquecimento dos horizontes de saberes e fazeres” em saúde, numa perspectiva intersetorial e interdisciplinar(3).

O trabalho e papel do enfermeiro na atenção básica frente às situações de bullying se estabelece como um desafio, seja na internalidade das unidades de saúde, no atendimento às crianças e aos adolescentes, seja, também, fora dos muros da unidade de saúde. Esse trabalho demanda ações referenciadas pela promoção da saúde, desenvolvimento de práticas educativas em saúde, identificação de sinais e sintomas de violência e consequentes necessidades de saúde, contribuição na formação de profissionais de educação e saúde, envolver alunos, educadores e famílias e valorização do protagonismo infantil e juvenil.

Destacamos que todo trabalho a ser desenvolvido na escola deve respeitá-la como espaço pedagógico e de formação, que congrega potencialidades para a promoção da saúde e também para a solução de problemas identificados. Portanto, as ações de educação em saúde nesse campo têm potencial para intervenção e prevenção do bullying, o qual se constitui em um problema também da área de enfermagem. Essas têm sido construídas a partir do estabelecimento de vínculos, saberes e dimensões complementares entre a ação de saúde, o pensar e o fazer cotidiano(4).

Para tanto, as práticas de educação em saúde a serem desenvolvidas pelo enfermeiro devem superar as práticas tradicionais presentes neste processo, ainda delineadas por concepções com foco no saber biomédico e em um agir individual, respondendo aos seus discursos, fortalecendo interesses políticos e econômicos em detrimento de um sujeito ativo, partícipe de processos coletivos(5-6).

Em síntese, o modelo de atenção frente às situações de violência e bullying escolar, que a enfermagem, em especial os enfermeiros, devem construir, necessita de profissionais que ampliem seus conhecimentos e contribuam para produção do conhecimento científico na área da violência escolar. Nesse movimento devemos nos apropriar de novas teorias e práticas e, na escola, espaço possível de sua prática profissional, intersetorial e articulada, (re)construir um modelo de atenção à criança e ao adolescente que atue na prevenção e minimização do bullying. Assim, estaríamos atendendo ao desafio e compromisso técnico e ético de garantir a equidade, a proteção e uma melhor qualidade de vida na infância e adolescência.

REFERÊNCIAS

1. Mishima SM, Fortuna CM, Scochi CGS, Pereira MJB, Lima RAG, Matumoto S. Maria Cecília Puntel de Almeida: a trajetória de uma protagonista da enfermagem brasileira. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2009 [acesso em: 30 set 2013];18(4):773-80. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072009000400020.

2. Silva MJP. Nursing Science. Acta paul. enferm. [Internet]. 2012 [acesso em: 30 set 2013];25(4):i-ii. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-21002012000400001.

3. Ayres JRCM. Cuidado e reconstrução das práticas de Saúde. Interface (Botucatu) [Internet]. 2004 [acesso em: 30 set 2013];8(4):73-92. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832004000100005.

4. Vasconcelos EM. Educação popular e a atenção à saúde da família. 3a ed. São Paulo: Hucitec, 2006.

5. Colomé JS, Oliveira DLLC. Educação em saúde: por quem e para quem? A visão de estudantes de graduação em enfermagem. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2012 [acesso em: 30 set 2013];21(1):177-84. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072012000100020.

6. Renovato RD, Bagnato MHS. Práticas educativas em saúde e a constituição de sujeitos ativos. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2010 [acesso em: 30 set 2013];19(3):554-62. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072010000300018.

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Biografia do Autor

Marta Angélica Iossi Silva, Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto

Enfermeira, Doutora em Enfermagem em Saúde Pública. Professora Associada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, SP, Brasil. E-mail: maiossi@eerp.usp.br.

Publicado

30/09/2013

Edição

Seção

Editorial