A ironia do realismo socialista: a Sots Art como um primeiro estágio do pós-modernismo russo

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Palavras-chave:

sots art, realismo socialista, arte soviética, literatura russa, pós-modernismo

Resumo

A arte socialista, conhecida pela expressão sintética Sots Art, é um movimento artístico derivado do realismo socialista do final da década de 1950. O termo foi usado pela primeira vez em 1972 pelos artistas Vitaly Komar e Alexander Melamid para definir a novíssima Arte Pop russa como alternativa ao Pop estadunidense. A Sots Art é uma expressão irônica ao opressivo realismo socialista e, portanto, aborda alegoricamente o totalitarismo soviético usando típicos discursos soviéticos. A Sots relaciona-se profundamente com o Conceitualismo de Moscou, ou seja, compartilha questões similares e, por isso, é frequentemente associada a ele. Podemos dizer, certamente, que ambos compartilham as mesmas visões sobre a arte como a busca por destruir o seu sentido clássico e a criação de uma nova forma de expressão artística. A Sots Art está, também, intimamente relacionada ao pós-modernismo, não apenas em termos de sentido, mas também tecnicamente. O movimento recorre a técnicas valorizadas pelo pós-modernismo como desconstrução, intertextualidade, e outros dispositivos retóricos, para divulgar suas ideias e afirmar-se. Nesse sentido, a Sots é considerada um componente essencial do conceitualismo e do pós-modernismo russos. Considerando que os discursos soviéticos desempenharam um papel crucial na memória da sociedade soviética, os artistas Sots apropriaram-se de sua linguagem simples, embora pitoresca, e converteram-na em uma arte antissoviética, usando os slogans e as expressões inerentes a tais discursos. Enquanto movimento artístico, a Sots Art tende a reconsiderar e a reavaliar o passado soviético por meio da (des)familiarização e do estranhamento dos clichês socialistas. Os reflexos desse estranhamento podem ser vistos tanto na arte quanto na literatura, especialmente nos trabalhos de Ilya Kabakov, Erik Bulatov, Dmitri Prigov, Lev Rubinstein e Vladimir Sorokin. A história do movimento Sots Art, seus mecanismos e correlação com o pós-modernismo russo são examinados e discutidos neste artigo.

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Biografia do Autor

Orçun Alpay, Universidade Técnica de Karadeniz, Trabzon, Turquia, alpay_orcun@hotmail.com

Pesquisador doutor no Departamento de Língua e Literatura Russa na Karadeniz Technical University, localizada em Trebizonda, Turquia.

Almerinda da Silva Lopes, Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Vitória, Espírito Santo, Brasil, almerindalopes579@gmail.com

Professora Titular da Universidade Federal do Espírito Santo. Atua nos cursos de pós-graduação em Artes e em História da mesma Universidade. Possui Bacharelado em Desenho e Plástica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1972), Licenciatura em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1977), graduação em Pedagogia com especialização em Supervisão Escolar e em Administração Educacional, pela Faculdade de Filosofia Ciencias e Letras de Andradina (1980), Mestrado em Artes pela Universidade de São Paulo (1989) e Doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1997), com bolsa sanduíche na Universidade de Paris I (Panthéon Sorbonne). Realizou pós-doutorado em Ciências da Arte na Universidade de Paris I (2002) e Estágio-Pesquisa na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), Paris (2014). Foi membro do comitê área de artes - CA-AC do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (2018-2021). É membro do Comitê Brasileiro de História da Arte (CBHA), da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP), da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), da Associação Brasileira de Críticos de Artes e do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em História da Arte, atuando principalmente nos seguintes temas: arte moderna e contemporânea, arte e política, fotografia, pintura abstrata, gravura, arte e crítica e arte conceitual.

Tamara Silva Chagas, Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Vila Velha, Espírito Santo, Brasil, tamara.chagas1@gmail.com

Pesquisadora em História da Arte. Autora do livro Frederico Morais: a crítica de arte e seus desdobramentos, publicado pela EDUFES (editora da Universidade Federal do Espírito Santo), em 2019. Coorganizadora do livro Representações do Feminino na Antiguidade e no Medievo (Milfontes, 2022). Publicou artigos em revistas científicas nacionais e internacionais. Filiada à ANPUH. Atualmente, é doutoranda em História Social pelo PPGHis da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), desenvolve pesquisa na linha Representações e Ideias Políticas e é bolsista Capes. É mestra em Artes pela UFES e elaborou pesquisa na linha Estudos em História, Teoria e Crítica da Arte do PPGA/UFES. Tal pesquisa resultou na dissertação sobre tema original Da Crítica à Nova Crítica: as múltiplas incursões do crítico-criador Frederico Morais (2012), indicada para publicação em livro pela banca de defesa. O estudo abordou a Nova Crítica como proposta de expansão das atividades do crítico de arte para as funções de artista e curador. Tamara é graduada em Bacharelado em Artes Plásticas pela UFES (2008). É também graduada em Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos pela Universidade Vila Velha (UVV, 2019). Tem experiência na área de Artes, com ênfase em história da arte contemporânea. Interessa-se principalmente pelos seguintes temas: crítica de arte, arte e política, arte dos anos 1960 e 1970, artistas mulheres, arte conceitual, pop art e arte brasileira.

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Publicado

2024-01-15

Como Citar

ALPAY, O.; DA SILVA LOPES, A.; SILVA CHAGAS, T. A ironia do realismo socialista: a Sots Art como um primeiro estágio do pós-modernismo russo. Visualidades, Goiânia, v. 21, 2024. Disponível em: https://revistas.ufg.br/VISUAL/article/view/74428. Acesso em: 5 nov. 2024.