Sociopoética: para uma perspectiva estética do pesquisar/cuidar/educar em enfermagem
DOI:
https://doi.org/10.5216/ree.v15i1.15136Resumo
A criação da sociopoética no Brasil, na década de 90 partiu de uma pesquisa realizada em 1994-95, no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca - Rio de Janeiro (CEFET). Tal investigação foi realizada com estudantes e educadores do Projeto de Educação Popular SERVIR, com o apoio de alunos do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Essa iniciativa causou impacto significativo no desenvolvimento da pesquisa científica nas áreas de enfermagem e de ciências humanas e sociais, sobretudo, por ter possibilitado um novo olhar à abordagem qualitativa de pesquisa. Seu criador, o filósofo e educador francês Jacques Gauthier, assim a definiu no lançamento do primeiro livro sobre esta abordagem, publicado em 1996 pelo Departamento de Extensão Universitária da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (DEPEXT/UERJ): uma revolução epistemológica? Uma tentativa entre outras de responder as perguntas dos pesquisadores de hoje sobre o sentido sociopolítico da produção dos conhecimentos.
Apesar de adolescente em termos de cientificidade, a sociopoética é uma proposta metodológica inovadora, que potencializa os saberes dos sujeitos de pesquisa, transformando-os em co-pesquisadores, conforme prefacia Reinaldo Fleuri, pesquisador internacionalmente conhecido na área de educação, em um dos mais recentes livros sobre esta abordagem.
Analisando-se seus princípios filosóficos, entende-se que o corpo é fonte de conhecimentos, explora o potencial cognitivo das sensações, das emoções e da gestualidade, além da imaginação, intuição e razão. Por essa razão, promove a criatividade artística no aprender, no conhecer, pesquisar e no cuidar humano. Ao entender a Enfermagem como uma ciência do sensível, por lidar com o afeto, as sensações e subjetividades das pessoas, a sociopoética valoriza as culturas dominadas e de resistência e dos conceitos por ela produzidos, alertando que todos os saberes são iguais em direito, e enfatiza a dimensão espiritual, humana e política da construção dos saberes.
A validação da sociopoética como método de pesquisa ocorreu com a defesa da tese de doutorado de Iraci dos Santos - Instituição da cientificidade: análise institucional e sociopoética das relações entre orientadores e orientandos de pesquisa em enfermagem, em 1997, que naquela época já era Livre Docente e Professora Titular em Pesquisa em Enfermagem pela UERJ. Vê-se, portanto, que a citada abordagem no conhecimento do homem como ser político e social teve, ao longo dos anos, um vasto campo para crescer, se reconstruir e avançar no extenso caminho da filosofia, das ciências da saúde, humanas e sociais.
Entretanto, tomar os princípios filosóficos da sociopoética como orientações para pesquisar/cuidar/educar é uma tarefa com consequências éticas e epistemológicas. Se assim for, tal abordagem caracterizará uma forma de resistência na área da produção científica, pois o grupo pesquisador, dispositivo analítico do método sociopoético, se institui de maneira autogerida no processo de pesquisa, tornando-se, então, senhor de si, porque seu desejo e seu trabalho o regeneram continuamente.