"Parirás com Dor": a violência obstétrica revisitada

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5216/sec.v23.60230

Resumo

Diante de um contexto social em que predominam os partos instrumentais, via cirurgia cesariana, nos hospitais particulares, e a “cascata de intervenções” nos partos vaginais dos hospitais públicos brasileiros, o movimento de mulheres marcou o início do século XXI com a nomeação da “violência obstétrica”. A  compreensão da violência obstétrica abarca desde agressões físicas, psicológicas, verbais, simbólicas, sexuais até negligências nas assistências, discriminação, medicalização excessiva e inapropriada, adesão a práticas obstétricas desaconselhadas, dolorosas, prejudiciais e sem embasamento em evidências científicas,
vividas no momento da gestação, parto, nascimento e pós-parto. Os aspectos dessa violência – com imposição de dor, sofrimentos e mortes evitáveis – se encontram legitimados pela ciência obstétrica e
autorizados pelo Estado como assistência à saúde sexual e reprodutiva. Argumentamos que a violência obstétrica é um ato misógino de punição às mulheres, resultado de séculos de negação de sua sexualidade e capacidade de decidir. A proposta do artigo é refletir sobre como se deu tal autorização política para violentar os corpos de mulheres, assim como sua naturalização e invisibilização justificadas pela ciência e por
certas práticas obstétricas. Sendo parte de uma pesquisa mais ampla, foram privilegiadas, aqui, análises históricas de cunho feministas cujo acervo de conhecimentos permitiu rastrear o processo de elaboração do
conceito e mostrar como as relações intrínsecas entre parto e políticas de Estado, via diferentes assistências – pública e privada –, coordenam a disciplina sobre os corpos expropriados das mulheres. 

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Biografia do Autor

Maíra Soares Ferreira, Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Goiás, Brasil, mairacerrado@gmail.com

Doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás. Mestra em Educação pela Universidade de São Paulo. Psicóloga pela Universidade Metodista de Piracicaba, São Paulo. Psicanalista e especialista em Saúde Mental pelo Instituto Sedes Sapientae, São Paulo, Brasil.

Eliane Gonçalves, Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Goiás, Brasil, elianego@ufg.br

Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas. Professora do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil.

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Publicado

2020-11-17

Como Citar

FERREIRA, M. S.; GONÇALVES, E. "Parirás com Dor": a violência obstétrica revisitada. Sociedade e Cultura, Goiânia, v. 23, 2020. DOI: 10.5216/sec.v23.60230. Disponível em: https://revistas.ufg.br/fcs/article/view/60230. Acesso em: 21 dez. 2024.

Edição

Seção

Artigos Livres