Poética de Exu

O mais alegre dos trágicos

Autores

  • Paulo Petronilio Correia Universidade Federal do Rio GRande do Sul, UFRGS, Porto Alegre, Rio GRande do Sul, BRasil, ppetronilio@uol.com.br

DOI:

https://doi.org/10.5216/ac.v8i2.74139

Resumo

Neste artigo faço uma reflexão filosófica sobre Exu, um dos mais complexos deuses da mitologia nagô para deslocar essa ideia demonizadora forjada pela branquidade e descolonizar a ideia que conhecemos de que a mitologia única e verdadeira surgiu na Grécia. Foi todo um processo de apagamento das narrativas e saberes populares que foram subalternizados pela cultura hegemônica, de supremacia branca e euro centrada a ponto de inferiorizar, bestializar e apagar a memória do povo preto, fruto de toda uma negação do pensamento afro-brasileiro como não legítimo, apontando, com isso, uma certa inferiorização epidérmica, ontológica e epistemológica. Para esse movimento, tenho em mãos uma interpretação de Exu como o nascimento da tragédia afro-brasileira propriamente dita, para deslocar a tragédia desse lugar grego que o ocidente privilegiou como o norte, ou lugar legítimo de produção de conhecimento para refletirmos acerca do teatro como encruzilhada da criação, emergindo aí uma poética trágica que se afirma sob o signo não da dor, do negativo, mas da alegria como acontecimento, como força revolucionária e afirmação da vida. Exu, signo trágico por excelência, será desenhado aqui como um giro decolonial que tensiona, por sua vez, o mito branco, grego, hegemonicamente aceito pelo Ocidente.

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Biografia do Autor

Paulo Petronilio Correia, Universidade Federal do Rio GRande do Sul, UFRGS, Porto Alegre, Rio GRande do Sul, BRasil, ppetronilio@uol.com.br

Departamento de Pós graduação em Educação da UFRGS.

Graduado em Filosofia pela UFSC Graduado em Letras pela UCG, Mestre em Letras pela UFSC, Doutor em Educação pela UFRGS. Área: Educação.

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Publicado

2023-06-20

Como Citar

CORREIA, P. P. Poética de Exu : O mais alegre dos trágicos. Arte da Cena (Art on Stage), Goiânia, v. 8, n. 2, p. 247–296, 2023. DOI: 10.5216/ac.v8i2.74139. Disponível em: https://revistas.ufg.br/artce/article/view/74139. Acesso em: 13 maio. 2024.