Segurança do paciente: desafios para a prática e a investigação em Enfermagem

Autores

  • Ana Elisa Bauer de Camargo Silva Universidade Federal de Goiás

DOI:

https://doi.org/10.5216/ree.v12i3.11885

Resumo

doi: 10.5216/ree.v12i3.11885

A preocupação com qualidade do cuidado e com a segurança do paciente nas instituições de saúde tem surgido em âmbito global. O movimento em prol da segurança do paciente teve seu início na última década do século XX, após a publicação do relatório do Institute of Medicine dos EUA que apresentou os resultados de vários estudos que revelaram a crítica situação de assistência à saúde daquele país. Dados apontaram que de 33,6 milhões de internações 44.000 a 98.000 pacientes, aproximadamente, morreram em consequência de eventos adversos(1).

Desde então a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem demonstrado sua preocupação com a segurança do paciente e adotou esta questão como tema de alta prioridade na agenda de políticas dos seus países membros a partir do ano 2000. Em 2004, criou a Aliança Mundial para Segurança do Paciente, visando a socialização dos conhecimentos e das soluções encontradas. Esta aliança tem também o objetivo de conscientizar e conquistar o compromisso político, lançando programas, gerando alertas sobre aspectos sistêmicos e técnicos e realizando campanhas internacionais que reúnem recomendações destinadas a garantir a segurança dos pacientes ao redor do mundo(2) .

Em maio de 2007 foram publicadas as nove soluções para prevenção de evento adverso no cuidado à saúde(3). Os atuais desafios globais incluem "Cuidado Limpo é Cuidado Seguro" visando garantir a melhoria da higienização das mãos dos profissionais que atuam no cuidado, "Cirurgias Seguras Salvam Vidas", visando melhorar a segurança do tratamento cirúrgico em todos os contextos de cuidados de saúde e "Enfrentar a Resistência Antimicrobiana" como uma prioridade e o foco do Dia Mundial da Saúde de 2011(4).

O maior desafio dos especialistas em segurança do paciente, que buscam a redução dos eventos nas instituições de saúde tem sido a assimilação, por parte dos dirigentes, de que a causa dos erros e eventos adversos é multifatorial e que os profissionais de saúde estão suscetíveis a cometer eventos adversos quando os processos técnicos e organizacionais são complexos e mal planejados. Os sistemas fracassam em todo o mundo e desde que a assistência seja prestada por seres humanos há a possibilidade de promoção de riscos e danos aos pacientes, embora o que seja de fato importante neste momento é que esta realidade não seja mais ignorada.

A compreensão de que sistemas falham e permitem que as falhas dos profissionais se propaguem, atingindo os pacientes e causando eventos adversos, permite à organização hospitalar rever os seus processos, estudar e reforçar suas barreiras de defesa e as falhas latentes, que estão presentes nos locais de trabalho e que tornam o sistema frágil e suscetível a erros.

Como resultado dos movimentos globais acerca dessa problemática, investigações científicas tem sido conduzidas para identificação e compreensão dos erros e eventos adversos, adoção de medidas corretivas e pró-ativas, análise das falhas sistêmicas e dos fatores causais, desenvolvimento de estratégias que garantam a prática segura melhorando a qualidade da assistência e, consequentemente, fornecendo maior segurança ao paciente.

Um grave problema encontrado tem sido a falta de informações sobre os eventos adversos que ocorrem e sobre seus fatores causais, impedindo o conhecimento, avaliação e a discussão sobre as consequências destes eventos para os profissionais, usuários e familiares. Esta lacuna prejudica a ação dos gestores para realização do planejamento e desenvolvimento de estratégias organizacionais voltadas para a adoção de práticas seguras, minimização dos eventos e melhoria da assistência, colocando em risco a segurança dos pacientes.

Entre os desafios para a enfermagem quando se trata do assunto estão: a criação de Comitês de Segurança do Paciente nas instituições de saúde constituída por equipe multidisciplinar, visando desenvolver uma cultura de segurança dentro das instituições e o fortalecimento da Rede de Enfermagem e Segurança do Paciente (Internacional, Nacional e Regional) promovendo a comunicação rápida e efetiva das evidências, experiências e recomendações destinadas a garantir a segurança dos pacientes ao redor do mundo.

Outro desafio, não menos importante, está o desenvolvimento de pesquisas científicas que visem minimizar a reconhecida distância que existe entre o que se sabe em teoria e o que se aplica na prática (know-do gap). A enfermagem necessita transformar o discurso da pesquisa sobre segurança existente hoje, em um caminho sólido em direção a uma assistência mais segura no amanhã.

As investigações sobre a segurança do paciente devem subsidiar as tomadas de decisão e as intervenções da gestão modificando a prática do cuidado.  As ações adotadas precisam gerar resultados como práticas confiáveis que façam a diferença na segurança dos pacientes, minimizando os riscos e alterando o quadro atual de eventos indesejáveis.

 

REFERÊNCIAS

1. Kohn LT, Corrignan JM, Donaldson MS, editors. To err is human: building a safer health system. Washington: National Academy Press; 2001.

2. World Health Organization [Internet]. Geneva: World Health Organization (SW) [cited 2010 sep 29]. World Alliance for Patient Safety. Available from: http://www.who.int/patientsafety/worldalliance/en/.

3. World Health Organization [Internet]. Geneva: World Health Organization (SW) [cited 2010 sep 29]. WHO launches. Nine patient safety solutions. Solutions to prevent health care-related harm. Available from: http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2007/pr22/en/index.html

4. World Health Organization [Internet]. Geneva: World Health Organization (SW) [cited 2010 sep 29]. Campaings. WHO Patient Safety campaigns. Available from: http://www.who.int/patientsafety/campaigns/en/.

 

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Biografia do Autor

Ana Elisa Bauer de Camargo Silva, Universidade Federal de Goiás

Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professor Adjunto, Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás. Membro da Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente (REBRAENSP), Coordenadora do Pólo Regional Goiano de Enfermagem e Segurança do Paciente, Membro do Conselho Científico do Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos - ISMP Brasil, Líder do Grupo de Estudos em Gestão de Instituições de Saúde e Segurança do Paciente - CNPq.Goiânia, GO, Brasil. E-mail: anaelisa@terra.com.br.

Publicado

30/09/2010

Edição

Seção

Editorial