DOI: 10.1590/1089-6891v1 8e-41123
ZOOTECNIA
EFICIÊNCIA PRODUTIVA DE OVELHAS COM DIFERENTES CARACTERÍSTICAS CONFORMACIONAIS SOB PASTEJO
PRODUCTIVE EFFICIENCY OF SHEEP WITH DIFFERENT CONFORMATION TRAITS UNDER GRAZING
Verônica Gindri Manzoni1
Ricardo Zambarda Vaz1*
Otoniel Geter Lauz Ferreira1
Olmar Antônio Denardin Costa1
Fernando Amarilho Silveira1
1Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS,
Brasil
*Autor para correspondência – rzvaz@terra.com.br
Resumo
Objetivou-se avaliar a eficiência produtiva de ovelhas Corriedale de
diferentes condições e estruturas corporais ao parto, mantidas em pastagem
natural e/ou cultivada hibernal. Ao parto, as fêmeas foram classificadas
em médias (frame = 50 a 57,5 kg) e grandes (frame = 57,6 a 62 kg) quanto
ao tamanho e em média (2 a 3 pontos) ou alta (3,5 a 4,5 pontos) quanto ao
escore de condição corporal. O delineamento experimental utilizado foi o
inteiramente casualizado em arranjo fatorial 2 x 2 (dois grupos de
estruturas corporais x duas classes de escore de condição corporal).
Ovelhas com frame médio foram mais leves em relação às grandes ao parto
(39,97 vs 48,16 kg, respectivamente) e ao desmame (43,10 vs 50,22 kg,
respectivamente). As eficiências produtivas ao parto e ao desmame não
diferiram entre ovelhas médias (46,91 e 44,24 kg) e grandes (47,83 e 45,69
kg), respectivamente. Ovelhas com condição corporal média ao parto quando
comparadas com ovelhas de condição corporal alta não apresentaram
diferenças significativas para eficiência produtiva ao parto (46,89 vs.
47,82 kg) e ao desmame (44,10 vs. 45,83 kg). O tamanho animal e o escore
de condição corporal ao parto não influenciam a eficiência produtiva dos
rebanhos ovinos sob pastejo.
Palavras-chave: Condição corporal; Corriedale; desmame; frame;
parto.
Abstract
This study was carried out to evaluate the productive efficiency of
Corriedale sheep of different conformation traits, reared on natural
and/or cultivated winter pastures. At calving, the females were classified
as medium (frame = 50 to 57.5 kg) and large (frame = 57.6 to 62 kg)
regarding the size and as average (2 to 3 points) or high (3.5 to 4.5
points) regarding the body condition score. The experimental design was
entirely randomized in a 2 x 2 factorial arrangement (two groups of body
weights x two classes of body condition at calving). Sheep with medium
body structure were lighter compared to large ones at calving (39.97 vs
48.16 kg, respectively) and at weaning (43.10 vs 50.22 kg, respectively).
The production efficiency at calving and at weaning did not differ between
medium (46.91 and 44.24 kg) and large sheep (47.83 and 45.69 kg),
respectively. Sheep with average body condition at calving compared with
sheep with high body condition showed no significant differences for
productive efficiency at calving (46.89 vs. 47.82) and at weaning (44.10
vs. 45.83). The animal size and the body condition score at calving did
not influence the production efficiency of sheep herds on grazing.
Keywords: Body condition; calving; corriedale; frame; weaning.
Recebido em: 04 abril de 2016
Aceito em: 01 novembro de 2016
Introdução
A ovinocultura brasileira vem ganhando destaque com a
ascensão da produção de carne, encaminhando-se à procura de animais mais
eficientes e adaptados, visando maior rentabilidade dos sistemas
produtivos. A base alimentar da ovinocultura no Sul do País ainda são as
pastagens naturais que, devido às condições climáticas e à diversidade de
espécies, oscilam quantitativa e qualitativamente no decorrer dos ciclos
produtivos. Além disso, o mau manejo empregado nas mesmas ocasiona baixas
lotações resultando em queda na produtividade(1), limitando a
produção animal em períodos como final da gestação e início da lactação(2).
O índice mais utilizado para avaliar rebanhos ovinos de cria é a taxa de
desmame; entretanto, somente o percentual de cordeiros desmamados em
relação ao número de ovelhas não tem consistência, pois a quantidade deve
estar associada à qualidade da produção. Desta forma, o peso dos cordeiros
ao desmame e os quilogramas de cordeiros por ovelhas mantidas no rebanho
são indicadores mais eficientes para a avaliação e tomada de decisão nos
sistemas produtivos.
O escore de condição corporal é um dos parâmetros indiretos mais
utilizados para se predizer a quantidade de reservas corporais em
ruminantes, uma vez que possui uma correlação positiva e significativa (r
= 0,20; P <0,05) com o depósito de gordura subcutânea(3).
Estas reservas ao parto são importantes, pois indicam o que o animal
dispõe no momento para manter a lactação em níveis satisfatórios de
produção, refletindo no desenvolvimento e peso dos cordeiros ao nascer e
ao desmame(4). Os baixos escores podem afetar o desenvolvimento
dos animais, bem como o desempenho reprodutivo subsequente.
São escassos os estudos que relatam a influência da estrutura corporal nos
parâmetros de eficiência produtiva do rebanho ovino(5). A
partir daí surge a necessidade de investigações que demonstrem essa
relação, visando adequar os animais ao ambiente, tentando maximizar a
interação genótipo x ambiente.
O objetivo do presente estudo foi avaliar a eficiência produtiva do parto
à desmama de ovelhas cruzas Corriedale sob pastejo com diferentes
estruturas e condições corporais ao parto.
Material e Métodos
O experimento foi desenvolvido no Centro Agropecuário da
Palma - Universidade Federal de Pelotas, localizado na região Sul do
Estado do Rio Grande do Sul. O clima da região e Cfa (subtropical úmido).
Foram utilizadas 58 ovelhas prenhes de diferentes idades, cruzas
Corriedale (Código CEEA/UFPEL: 8878/2014). As parições ocorreram de 20 de
agosto a 10 de setembro, sendo todas as gestações simples. Ao parto, as
ovelhas foram classificadas, segundo suas características conformacionais,
em médias (frame = 50 a 57,5 kg) e grandes (frame = 57,6 a 62 kg)(5)
e, de acordo com a condição corporal ao parto, em média (2,5 a 3,0 pontos)
e alta (≥ 3,5 a 4,5 pontos)(6).
A estrutura corporal foi calculada por meio das medidas de peso corporal
(PC), comprimento corporal (CC), altura do anterior (ALTA) e altura do
posterior (ALTP), segundo a fórmula: FRAME = [(PC+CC+ALTA+ALTP)/4](5). Os
pesos corporais foram obtidos com balança mecânica apropriada para
pequenos animais, com capacidade de 500 kg e divisão mínima de 100 g,
sendo determinados ao parto, ao desmame e periodicamente a cada 21 dias.
As mensurações de CC, ALTA e ALTP foram realizadas estando os animais
estáticos em uma estação (superfície horizontal) e com o uso de fita
métrica graduada em centímetros compreendendo as seguintes distâncias: CC
- entre a cernelha e a garupa; ALTA - entre a cernelha e o solo; e ALTP -
entre a cabeça do fêmur e o solo(7).
A condição corporal ao parto foi determinada pela palpação da região dorso
lombar da coluna vertebral, verificando a deposição de gordura e músculo
encontrada no ângulo formado pelos processos dorsais e transversos,
utilizando a escala de 1 (muito pobre) a 5 (excelente)(6).
O manejo sanitário para controle da verminose anterior ao período
experimental foi realizado de forma estratégica com produtos de longo
espectro, a fim de que não fosse prejudicial ao desempenho dos animais e
de evitar manejo das ovelhas durante a gestação. Ao início do experimento
e durante o mesmo, a infestação endoparasitária foi monitorada com
intervalos médios de 14 dias, por meio de exame de contagem do número de
ovos por grama de fezes (OPG) pela técnica de McMaster(8),
sendo realizadas dosificações sempre que a média de OPG dos animais
superasse 500 ovos por grama de fezes. O calendário de vacinações adotado
esteve de acordo com as determinações da Secretaria da Agricultura do
Estado do Rio Grande do Sul. A vacinação contra as clostridioses foram
realizadas anteriormente ao parto nas ovelhas e aos quarenta e cinco dias
após o nascimento nos cordeiros.
Após o nascimento, as mães e crias foram pesadas, os cordeiros foram
identificados com brincos plásticos na orelha esquerda e permaneceram
juntamente com as suas mães até a data do desmame, realizado em média aos
80 dias de idade. Depois do nascimento tomou-se cuidado para que os
cordeiros ingerissem o colostro. Em seguida, foi realizado o corte do
umbigo, com tesoura desinfetada, e imersão em tintura de iodo a 5%,
segurando-se o cordão umbilical em um frasco de boca larga por 40 a 60
segundos.
Os animais foram manejados em lote único em regime de pastejo num sistema
de rodízio de potreiros compostos de pastagens naturais ou cultivada de
inverno, de acordo com as disponibilidades. Manteve-se um nível de oferta
não limitante ao consumo dos animais e a perpetuação das pastagens. Devido
ao alto grau de infestação de endoparasitas, buscou-se evitar ao máximo a
influência destes no desempenho animal.
A composição botânica das pastagens naturais é diversificada, estando
gramíneas e compostas misturadas. As espécies predominantes de gramíneas
são Paspalum notatum nas partes mais altas, Axonopus
fissifolius em partes mais úmidas, destacando-se a Andropogon
lateralis extrato como superior. Entre as leguminosas verificou-se
a presença de alguns trevos, mas com grande ênfase a família Desmodium.
A pastagem de inverno era composta apenas de azevém comum (Lolium
multiflorum Lam.).
Em todos os períodos foram realizadas avaliações de oferta de forragem em
matéria seca (MS), de proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro
(FDN). As estimativas da oferta de forragem disponível foram realizadas
pelo método comparativo(9) a cada 21 dias, com as amostras
retiradas para a determinação da disponibilidade da pastagem. As amostras
obtidas foram armazenadas para posteriores análises laboratoriais. Os
potreiros de pastagem natural foram manejados na média com 890 kg de MS,
com a qualidade proteica variando nos períodos entre 8,04 e 10,70% de PB e
entre 53,76 e 61,41% de FDN. Já a pastagem de azevém apresentou oferta
média de 1320 kg de MS/ha durante o período experimental, com variações
entre 1090 e 1640 kg de MS durante os períodos. O teor de PB e FDN da
pastagem de azevém variaram de 11,4 e 17,8% e de 47,12 e 57,89%,
respectivamente, durante os períodos avaliados.
Para a eficiência produtiva foram avaliados os pesos ao parto e ao desmame
(média 80 dias) das ovelhas e cordeiros. As variações de pesos corporais
compreendidos entre o parto e o desmame foram determinados por meio da
diferença entre as pesagens divididas pelo período de avaliação.
Foram avaliadas as eficiências produtivas das ovelhas ao parto (EPP) e ao
desmame (EPD), de acordo com metodologia adaptada para ovinos(10).
As estimativas foram consideradas em relação à quantidade de kg de
cordeiros desmamados para cada 100 kg de ovelhas paridas e desmamadas. A
EPP foi calculada por meio da relação entre peso ao desmame do cordeiro e
peso ao parto da ovelha, já a EPD foi calculada por meio da relação entre
peso ao desmame do cordeiro e peso ao desmame da ovelha.
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado em arranjo
fatorial 2 x 2 (dois grupos de características conformacionais x duas
classes de escore de condição corporal, ambos ao parto) e os resultados
submetidos à análise de variância e teste F de acordo com o seguinte
modelo:
Yijklm = µ + FRAMEi + ECCj + (FRAME*CC)ij
+ICk + IOl + Sm + Eijklm
Em que: Yijklm = variáveis dependentes; µ = médias observadas;
FRAMEi = efeito da estrutura corporal de ordem i, sendo i=1
(médio); 2 (grandes); CCj = efeito de escore de condição
corporal de ordem j, sendo j=1 (média) e 2 (alta); (FRAME*CC)ij
= interação entre a estrutura corporal de ordem i e o escore de condição
corporal de ordem j; INk = Covariável idade do cordeiro de
ordem k; IOl = Covariável idade da ovelha ao parto ordem l; Sm
= covariável sexo dos cordeiros de ordem m; Eijklm = Erro
aleatório assumindo distribuição normal com média igual a zero e variância
σ². Como a interação FRAME*CC foi de baixa magnitude, a mesma foi removida
do modelo estatístico final. Quando o F foi significativo (P<0,05), foi
utilizado o teste de comparação de médias com base no teste “t” no mesmo
nível de significância do teste F.
Resultados e discussão
Por não ter ocorrido interação significativa, os resultados
de tamanho de estrutura corporal e condição corporal ao parto foram
apresentados e discutidos em separado. A classificação dos grupos de
acordo com a estrutura corporal das ovelhas determinou diferenças de pesos
corporais das ovelhas ao parto, com superioridade das ovelhas grandes
quando comparadas às médias. Estas diferenças mantiveram-se até o desmame
dos cordeiros, com superioridade de 17,0% ao parto e 16,5% ao desmame, e
tais superioridades não influenciaram o peso dos cordeiros ao nascimento e
ao desmame (Tabela 1).
O tamanho corporal determinado por meio de medidas é mais preciso do que
avaliações de escores subjetivos, podendo determinar e associar em termos
quantitativos se os animais ganham ou perdem condição corporal em
determinados períodos durante as fases de criação. A importância do
tamanho corporal na produção dos animais reside em sua maior ou menor
exigência nutricional(11). Em situações nutricionais não
ideais, este fato potencializa baixas produtividades, devido aos animais
mais pesados serem mais exigentes e consumirem mais alimentos. No início
da gestação, ovelhas consideradas grandes (>50 kg) apresentaram
exigência nutricional em proteína e energia maior (15,6 e 13,3%,
respectivamente)(12) do que ovelhas médias (>40 kg). Além
disso, animais de maior estrutura também apresentam maiores exigências de
consumo de matéria seca, que é determinado em percentual do peso corporal,
diminuindo a produtividade dos rebanhos em condições de escassez e ou
limitação de alimentos. Nestas circunstâncias, animais menores são mais
eficientes(5).
O período de lactação é a fase de maior exigência nutricional da ovelha e,
normalmente, as fêmeas sofrem declínio no peso e estado corporal durante
este período, devido ao estado fisiológico, chamado de balanço energético
negativo. Este estado é decorrente da degradação de reservas corporais,
quando os nutrientes da dieta alimentar não suprem as exigências do
animal, sendo os nutrientes levados ao sangue e posteriormente convertidos
na produção de leite para alimentação do cordeiro.
Em contraponto, não houve perda de peso das ovelhas, ao contrário do que
normalmente acontece nesta fase, ocorrendo ganho de peso, embora de baixa
magnitude (35 e 39 gramas/dia, respectivamente, para médias e grandes). Em
avaliação do desempenho de ovelhas Suffolk em pastagens cultivadas em
diferentes sistemas de criação(17), ovelhas mantidas em pasto
com cordeiros recebendo ou não suplementação perderam peso (-0,05 e -0,31
g/dia, respectivamente) durante o período experimental. Esses resultados
foram devido ao fato de as pastagens não suprirem as exigências de
mantença e produção de leite.
Ovelhas com maior peso corporal ao parto são mais propensas a parirem
cordeiros mais pesados, referindo-se, neste caso, à estrutura corporal
grande. No entanto, neste estudo não foram encontradas diferenças
estatísticas, não comprovando este fato. Fêmeas mais pesadas e,
consequentemente, com melhor condição corporal, produzem mais leite em
relação a animais de peso e estado corporal inferior(21), o que
não demonstrou influenciar os resultados obtidos, não ocorrendo diferenças
entre as classes para pesos ao nascimento e ao desmame dos cordeiros.
Ao nascimento, os cordeiros não apresentaram diferenças no peso entre as
estruturas corporais; entretanto, cordeiros filhos de ovelhas de maior
peso apresentaram em média 0,23 kg a mais em relação aos filhos de ovelhas
médias. O peso ao nascimento dos cordeiros foram superiores aos observados
em experimento semelhante(13), que revelou média de 3,54 x 3,12
kg em cordeiros Corriedale e Ideal, respectivamente, quando mantidos em
pastagem natural melhorada, sendo estes pesos considerados como bons e
determinantes de altos índices de sobrevivência.
Os pesos ao nascimento de pequenos ruminantes podem ser influenciados pelo
grupo genético, pelo número de cordeiros, pela nutrição da fêmea e pelo
sexo(11,14,15). Destes fatores, a alimentação é limitante, mas
pode ser manipulada e o manejo das forrageiras é decisivo para os avanços
corporais(16).
Apesar de não ocorrerem diferenças significativas ao desmame (80 dias), os
cordeiros filhos das ovelhas de estrutura corporal grande apresentaram
incremento de 22,54% no peso ao desmame em relação aos cordeiros das
ovelhas de estrutura corporal média. Em desmama de cordeiros cruzados, aos
45 ou 60 dias de idade(17), foram verificados pesos inferiores
para os animais desmamados aos 45 dias em relação aos desmamados aos 60
dias, com valores de 19,00 e 23,30 kg, respectivamente. Este peso menor
que o encontrado no presente estudo se deve à menor idade de desmame dos
cordeiros e ao sistema alimentar inadequado que corrobora para o menor
desempenho.
Estes fatos evidenciam que a extensão do período de lactação determina
maiores pesos dos cordeiros ao desmame. Contudo, em condições adversas,
este fato é prejudicial à ovelha, ocasiona maior desgaste e pode até
comprometer seu desempenho reprodutivo futuro, agravando-se à medida em
que o nível nutricional torna-se não ideal(18).
O campo nativo sob condições adequadas de manejo pode proporcionar
desempenhos satisfatórios à desmama de cordeiros, sem afetar a estrutura
corporal das mães(19). Apesar de as ovelhas grandes serem mais
pesadas ao parto e ao desmame, as mesmas não foram mais eficientes nas
avaliações produtivas quando comparadas com as de estrutura médias.
Normalmente, em outras espécies de ruminantes, como as vacas de corte, as
fêmeas de tamanho menor são mais eficientes na produção de kg de bezerros,
em relação às fêmeas grandes, principalmente em condições de escassez
alimentar(20).
A não diferença nas eficiências produtivas ao parto e ao desmame entre os
tamanhos dos animais demonstra existirem animais mais adaptados para
determinados ambientes. Esses resultados refletem na possibilidade de
escolha e seleção de animais mais produtivos para os diferentes sistemas
de produção, em busca de produtividades maiores. Em outras palavras,
animais de menor porte consomem menos alimentos, podendo assim se colocar
mais animais na mesma área obtendo-se maior produção. Na média, a
alimentação disponibilizada às ovelhas parece ter sido suficiente para
atender à demanda alimentar de manutenção e produção de leite, ao passo
que ao final do período de aleitamento, as ovelhas apresentaram pequeno
aumento de ganho de peso, com aumentos de 2,67 e 2,14 kg para estrutura
corporal, médias e grandes, respectivamente.
Os pesos ao parto e ao desmame das ovelhas e cordeiros não diferiram nos
grupos com diferentes classes de escores condições corporais ao parto
(Tabela 2). Entretanto, esperava-se que as ovelhas com maior deposição de
músculo e gordura corporal também apresentassem maiores pesos corporais,
desde que mantidas as mesmas estruturas corporais. Variações por
diferenças de classes ou ainda pela subjetividade do método podem ocorrer(7),
pois baixas condições influenciam de forma mais acentuada os pesos das
ovelhas ao parto e nascimento dos cordeiros(17). Porém este
fato não ocorreu no presente estudo.
Os pesos ao nascimento e ao desmame dos cordeiros não diferiram entre as
classes de condições corporais (Tabela 2). Era esperado que ovelhas com
mais reservas parissem e desmamassem cordeiros mais pesados. O peso do
cordeiro ao nascimento e ao desmame está linearmente relacionado à
condição corporal da mãe, de maneira que o animal com melhor condição
corporal é capaz de produzir mais leite e cordeiros mais pesados(4).
O escore de condição corporal da ovelha é influenciado pelo nível
nutricional ao qual a mesma está exposta, sendo fundamental para o
crescimento do cordeiro na fase de aleitamento. Neste período o animal
jovem tem a maior velocidade de crescimento em ganho de peso, pois o
alimento principal é o leite, que constitui todos os nutrientes
necessários para o devido desempenho corporal(21). Em estudo
com ovelhas cruzas Ile de France mantidas em pastagem cultivada e
recebendo suplemento antes e após o parto a nível de 1% do peso corporal(4),
foi verificado que as fêmeas de melhores escores de condição corporal ao
parto pariram cordeiros mais pesados, mantiveram o peso durante a lactação
e desmamaram cordeiros maiores.
As variações de pesos corporais tanto para ovelhas em condições médias e
altas (0,042 vs 0,031 kg, respectivamente) e seus cordeiros (0,213 vs.
0,246 kg, respectivamente) não diferiram durante o período de lactação.
Este resultado assemelha-se a outro encontrado na literatura(17),
afirmando que a condição corporal ao parto da ovelha influência na taxa de
sobrevivência dos cordeiros.
A eficiência produtiva indica a quantidade de quilogramas produzidos de
cordeiros para cada 100 kg de ovelha. A eficiência produtiva pode ser
calculada ao parto, bem como ao desmame, em função do peso do cordeiro ao
desmame relacionado ao peso das ovelhas no parto e no desmame. As ovelhas
de diferentes classes de escores de condição corporal ao parto não
diferiram nas suas eficiências ao parto e ao desmame com valores de 46,89
e 44,10 kg e 47,82 e 45,83 kg para ovelhas de classificação médias e
altas, respectivamente. Este fato demonstra que a condição corporal ao
parto não é determinante na produtividade dos rebanhos quando esta está
classificada como média ou mais, gerando quilos do produto cordeiro de
forma semelhante. Esta diferença pode ser determinante na rentabilidade
dos sistemas produtivos, pois pode representar menor período de terminação
dos animais, bem como giro e retorno do capital investido mais rápido(22),
aumentando as receitas e diluindo os custos fixos fatores determinantes de
melhores rentabilidades. Estes fatores se acentuam à medida que os
sistemas produtivos tornam-se mais intensivos, tendo a necessidade de
aumento de produtividade e eficiência(23).
No entanto, para manter os mesmos níveis de eficiência, as ovelhas com
melhor escore de condição corporal ao parto tiveram maiores perdas de
condicionamento corporal, o que promoveu similaridade para esta variável
ao desmame. Tal fato retrata que as ovelhas maiores e de melhores
condições corporais tiveram que recorrer às suas reservas energéticas para
manter o mesmo nível de produção. É interessante ressaltar que, embora não
significativas as diferenças entre o peso ao nascimento e ao desmame dos
cordeiros (Tabela 2), os filhos das ovelhas de condição corporal alta
tiveram um ganho de peso no período de lactação de 17,16 kg vs 14,96 kg
das médias. Desta forma, além de as ovelhas maiores exigirem mais
nutrientes do que as demais, elas provavelmente produzem mais leite, o que
pode ter sido a provável razão da maior perda de escore dessa categoria.
Ovelhas que parem em melhor condição corporal produzem mais leite, com
maiores pesos dos cordeiros ao desmame(14). No entanto, se a
alimentação for restrita e o animal tiver de recorrer às suas reservas
energéticas, podem ocorrer prejuízos na reprodução subsequente em sistemas
mais intensivos de produção(21).
Nos primeiros 30 dias após o desmame dos animais, ocorreu perda de peso
dos cordeiros, independente da classificação ao parto em tamanho ou escore
de condição corporal das ovelhas, tendo os mesmos variações negativas em
média de 0,010 kg.dia-1. Os estresses desses animais na troca
de alimentação com a retirada do leite, mais a ausência da mãe,
contribuíram para o declínio do peso até sua adaptação completa ao novo
manejo alimentar, na transição de pseudo-ruminante para ruminante, sendo
os animais influenciados de forma mais acentuada à medida que se reduz a
idade de desmame, em função da maior dependência dos cordeiros do leite
materno para a sua alimentação. Existem algumas maneiras de se amenizar
este distúrbio, como a adoção de estratégias de adaptação à suplementação
antes do período de desmame como o creep-feeding que é uma alternativa de
tecnologia fundamental para a manutenção e/ou ganho de peso dos cordeiros,
diminuindo, assim, seu estresse e seu tempo de permanência na propriedade(21)
Conclusão
Ovelhas cruza Corriedale, de características conformacionais grandes, são mais pesadas ao parto e ao desmame quando comparadas a ovelhas de estrutura corporal média, não diferindo nas eficiências produtivas de cordeiros. Escores de condição corporal ao parto médio e alto não influenciam o desempenho e as eficiências produtivas de ovelhas e cordeiros cruza Corriedale sob pastejo, embora ovelhas com escore alto percam mais acentuadamente essa condição no período de lactação que aquelas de escore médio.
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