DOI: 10.1590/1089-6891v18e-32785
5.05.00.00-7 MEDICINA VETERINÁRIA
NOVA SOLUÇÃO ELETROLÍTICA INTRAVENOSA PARA USO VETERINÁRIO: EFEITOS SOBRE O PERFIL ELETROLÍTICO E ÁCIDO BASE EM BOVINOS ADULTOS HÍGIDOS
EFFECTS OF A NEW INTRAVENOUS ELECTROLYTE SOLUTION FOR USE IN VETERINARY PRACTICE ON THE ELECTROLYTE AND ACID-BASE BALANCES OF HEALTHY CATTLE
Priscilla Fajardo Valente Pereira1*
José Antonio Bessegatto1
Gabriela de Castro Bregadioli1
José Guilherme do Rego Marcondes1
Thiago Marquez Fernandes1
Mara Regina Stipp Balarin1
Karina Keller Marques da Costa Flaiban1
Júlio Augusto Naylor Lisbôa1
1Universidade Estadual de
Londrina, Londrina, PR, Brasil
*Autora para contato - pfajardo@uel.br
Resumo
Objetivou-se avaliar os efeitos de uma nova solução
hidratante intravenosa sobre os equilíbrios eletrolítico e ácido-base de
bovinos. Para tanto, oito animais adultos hígidos, mestiços taurinos
foram submetidos a dois tratamentos em delineamento cross-over: solução
salina isotônica (SI) e solução teste (ST) composta por 145 mEq de Na+,
5 mEq de K+, 4 mEq de Ca++, 2 mEq de Mg++, 96 mEq de Cl-, 60 mEq de
lactato, 50 g de dextrose e 4 mg de cianocobalamina por litro. As
soluções foram administradas por via intravenosa, em volume
correspondente a 5% do peso corporal, durante três horas de infusão
contínua. Amostras de sangue venoso foram colhidas antes da infusão e
três, seis, nove e 24 horas após o início da infusão para determinações
de glicose, lactato L, Ca, P, Mg, pH, pCO2, HCO3-, BE, Na+, K+, Cl- e
Ca++. Os resultados foram analisados por análise de variâncias de
medidas repetidas. Ao contrário da SI, que causou hipercloremia e
redução da diferença de íons fortes no plasma (SID), determinando efeito
acidificante, a ST gerou alcalinização leve e transitória e não provocou
alteração das concentrações de Na+ e de Cl-. A hipopotassemia e a
hiperglicemia, presentes ao final da infusão da ST, foram transitórias e
não determinaram sinais clínicos evidentes. Conclui-se que a ST é uma
alternativa segura para a terapia com fluidos em bovinos, tendo a
vantagem de provocar alterações iatrogênicas de baixa magnitude.
Palavras-chave: gasometria, eletrólitos, terapia com
fluidos intravenosa.
Abstract
The effects of a new intravenous polyionic solution on
electrolyte and acid-base balances in cattle were evaluated. Eight
healthy adult, crossbred Bos taurus cattle received two treatments in a
cross-over design: isotonic saline solution (IS) and test solution (TS)
with 145 mEq of Na+, 5 mEq of K+, 4 mEq of Ca++, 2 mEq of Mg++, 96 mEq
of Cl-, 60 mEq of lactate, 50 g of dextrose, and 4 mg of cyanocobalamin
per liter. The solutions were IV infused in a volume corresponding to 5%
of BW, through 3 hours. Venous blood samples were taken before the
infusion and 3, 6, 9, and 24 hours after the beginning of the infusion.
Glucose, L-lactate, Ca, P, Mg, pH, pCO2, HCO3-, BE, Na+, K+, Cl-, and
Ca++ were measured. Data were analyzed through repeated measures ANOVA.
IS caused acidifying effect due to hyperchloremia and decreased plasma
strong ion difference (SID). On the contrary, TS induced mild and
transient alkalinization without changes in Na+ and Cl- plasma levels.
Transient hypokalemia and hyperglycemia were presented at the end of the
ST infusion but did not provoke apparent clinical signs. We concluded
that TS is a safe choice for fluid therapy in cattle, inducing low
magnitude iatrogenic changes as an advantage.
Keywords: blood gas analyses, electrolytes,
intravenous fluid therapy.
Recebido em: 13 novembro de
2014
Aceito em: 13 dezembro 2016
Introdução
A terapia com fluidos é
imprescindível para melhorar a perfusão sanguínea e a oxigenação tecidual,
corrigir os desequilíbrios hídrico, eletrolítico e ácido-base, fornecer
suporte energético e reverter o choque hipovolêmico(1).
Em muitas situações, a administração oral ou enteral de fluidos contendo
eletrólitos é preferida, porque é econômica e de execução fácil(2).
No entanto, o trânsito aboral preservado da ingesta no aparelho digestório
é a condição para que essa via de administração possa ser adotada. Quando
o movimento aboral está retardado ou impedido, a via intravenosa torna-se
obrigatória(3). Além disso, a administração
intravenosa de fluidos é indispensável em determinadas enfermidades que
acometem os ruminantes, como septicemia e endotoxemia, distúrbios
metabólicos graves e desidratações acentuadas(4).
As soluções cristaloides poliônicas que reúnem características ideais para
a infusão intravenosa veiculam variedade relativamente pequena de
eletrólitos e são seguras para a administração de grandes volumes,
especialmente, se possuírem osmolaridade parecida com a do plasma(1).
As soluções tradicionalmente empregadas em medicina, tais como a salina
isotônica (NaCl 0,9%), a de Ringer simples, a de Ringer com lactato (SRL)
e a glicofisiológica, possuem essas características sendo utilizadas com
sucesso em ruminantes(1).
Tais soluções podem interferir nas concentrações dos eletrólitos no
líquido extracelular provocando efeito acidificante ou alcalinizante
iatrogênicos, dependendo de sua composição, da velocidade de infusão e do
volume administrado(1,5). Por esse motivo,
enquanto as soluções de bicarbonato de sódio (NaHCO3)
são apropriadas para a correção da acidose metabólica(6),
outras opções são mais adequadas para a administração em ruminantes com
alcalose metabólica (NaCl 0,9%, Ringer simples e Glicofisiológica)(1).
Por ser balanceada, a SRL não interfere nos equilíbrios eletrolítico e
ácido-base(7), podendo ser administrada com
segurança em ambos os desequilíbrios metabólicos.
Dentre os produtos farmacêuticos veterinários disponíveis no Brasil, há
poucas opções de soluções eletrolíticas intravenosas, ainda que todas
sejam indicadas para uso em ruminantes. De forma geral, as soluções
disponíveis são hiperosmolares, ou seja, possuem combinação complexa de
solutos e concentração elevada de glicose. Essas características, somadas
ao preço elevado, tornam proibitiva a infusão de volumes maiores,
necessários para a hidratação de animais de maior porte como os bovinos
adultos. O desenvolvimento de soluções eletrolíticas adequadas para a
prática mais correta e moderna da terapia com fluidos em bovinos é
altamente desejável.
Quando uma nova solução é desenvolvida, os estudos preliminares que
verificam a segurança e os desequilíbrios iatrogênicos que poderiam
ocorrer são obrigatoriamente realizados em animais saudáveis(8).
As investigações sobre eficácia terapêutica devem ser, pelo contrário,
realizadas em animais que apresentam desequilíbrios. O objetivo deste
estudo foi avaliar os efeitos de uma nova solução eletrolítica
administrada por via intravenosa sobre o perfil eletrolítico e ácido-base
de bovinos adultos hígidos.
Material e Métodos
O protocolo experimental foi julgado e aprovado pela
Comissão de Ética no Uso de Animais da Universidade Estadual de Londrina
(CEUA/UEL), registrado como processo nº 2361.2013.16. Todos os
procedimentos experimentais foram realizados no Hospital Veterinário da
UEL.
A solução testada possuía a seguinte composição: 145 mEq/L de sódio (Na+),
5 mEq/L de potássio (K+), 4 mEq/L de cálcio (Ca++), 2 mEq/L de magnésio
(Mg++), 96mEq/L de cloreto (Cl-) e 60 mEq/L de lactato, além de 50g de
dextrose por litro. Uma ampola contendo 2 mg de cianocobalamina foi
adicionada a cada frasco de 500 mL da solução no momento da infusão. A
osmolaridade calculada desta solução foi de 562 mOsm/L, semelhante à
osmolaridade da solução glicofisiológica. Essa solução possui a mesma
composição daquela utilizada por Pereira et al.(9) em
equinos e ainda não está disponível no comércio, recebendo a denominação
preliminar de Repositor Hidroeletrolítico Vetoquinol (Vétoquinol/Fagra®,
São Paulo, SP).
Participaram do experimento oito bovinos adultos, mestiços taurinos,
quatro machos e quatro fêmeas, saudáveis, pesando de 230 a 640 kg. As
fêmeas não estavam gestantes nem em lactação. Os animais eram mantidos em
piquete de grama estrela africana (Cynodon nlemfuensis) e
recebiam silagem de sorgo em cocho (6 a 8kg/animal/dia), com livre acesso
à água e suplementação mineral ad libitum.
Cada bovino foi submetido a dois tratamentos em delineamento experimental
cross-over, sendo a ordem dos tratamentos estabelecida por meio de
sorteio, com intervalo de cinco dias entre os tratamentos. No tratamento
controle (SI), os animais receberam a solução salina isotônica (NaCl 0,9%)
comercial (Fisiológico, Linhamax®, Eurofarma, São Paulo, SP) e no
tratamento teste (ST), os animais receberam a solução descrita
anteriormente. Foi empregado cateter 18G (Angiocath®, BD, São Paulo, SP)
para fixação na veia auricular e as soluções foram infundidas com
velocidade entre 15 e 20 mL/kg/h, em três horas de administração contínua,
totalizando o volume correspondente a 5% do peso corporal. Para que a
velocidade requerida fosse alcançada, houve necessidade de se realizar a
infusão simultânea em duas veias auriculares (uma em cada orelha).
Exames físicos foram realizados nos animais a cada hora durante a infusão
intravenosa e nos momentos definidos para a colheita das amostras de
sangue, empregando-se os métodos semiológicos clássicos(10).
O acompanhamento dos animais para observação de comportamento, apetite,
atitudes e característica das fezes e da urina foi contínuo por até 24
horas após o início de cada tratamento.
Os métodos empregados são semelhantes àqueles utilizados no estudo de
Pereira e colaboradores(9). Amostras de sangue
venoso foram colhidas em cinco momentos definidos: imediatamente antes de
iniciar a infusão (0h), ao término da infusão (3h), às 6h, às 9h e às 24h
após o início da infusão. As amostras de sangue foram colhidas por punção
da veia jugular com agulhas 21G (25 x 0,8 mm) do sistema de coleta a
vácuo, utilizando-se frascos contendo fluoreto de sódio, para as
determinações da glicose e do lactato L, e frascos sem anticoagulante,
para as determinações de cálcio total (Ca), fósforo (P) e magnésio (Mg). O
plasma fluoretado foi obtido por centrifugação das amostras em, no máximo,
dez minutos após a colheita e o processamento analítico executado em até
oito horas. O soro sanguíneo foi obtido por centrifugação após a retração
do coágulo e conservado por congelação (20 ºC negativos) até o momento das
análises. Para a hemogasometria, amostras de sangue foram colhidas da veia
jugular empregando-se seringas plásticas de 3 mL, contendo cerca de 0,08
mL (400UI) de heparina sódica como anticoagulante, acopladas a agulhas
hipodérmicas 21G (30 x 0,8mm). As análises foram realizadas em até cinco
minutos após a colheita.
Os exames laboratoriais consistiram na determinação das concentrações
plasmáticas de lactato L e de glicose e das concentrações séricas de Ca, P
e Mg, empregando-se métodos colorimétricos (Dimension Clinical Chemistry
System; Siemens, São Paulo, SP). O exame hemogasométrico consistiu nas
determinações sanguíneas de pH, pressão parcial de dióxido de carbono
(pCO2), concentração do íon bicarbonato (HCO3-),
excesso de base (BE) e concentrações de sódio (Na+), potássio (K+),
cloretos (Cl-) e cálcio ionizado (Ca++) (Omni C, Cobas B121; Roche, São
Paulo, SP).
As seguintes variáveis foram calculadas empregando-se as respectivas
fórmulas:
a) Hiato aniônico - Anion Gap (AG): AG = (Na+ + K+) – (Cl- + HCO3-).
b) Diferença de íons fortes - Strong Ion Difference (SID): SID =
(Na+ + K+) – (Cl-).
A análise dos dados foi realizada em etapas distintas. Inicialmente
empregou-se análise de variância de medidas repetidas para se avaliar o
efeito do fator tempo (antes e após a administração da solução), do fator
sexo (machos x fêmeas) e da interação entre os dois fatores.
Posteriormente, a mesma análise foi empregada para se testar o efeito do
fator tempo (antes e após a administração da solução), do fator tratamento
(SI x ST) e da interação entre os dois fatores. Quando a estatística F
resultou significativa, o teste de Tukey foi empregado para comparação
entre as médias. Admitiu-se a probabilidade de erro de 5%. O programa
SigmaStat for Windows 3.1 foi usado para a realização da análise.
Resultados e Discussão
O sexo não exerceu efeito sobre as variáveis estudadas
(p>0,05) e não houve interação entre o sexo e o fator tempo
(p>0,05). A interação entre o tempo e o tratamento foi significativa
para todas as variáveis, exceto AG, Ca, Ca++ e Mg. O tempo, antes e após a
administração das soluções, como fator isolado, provocou efeito em todas
as variáveis exceto em AG, Ca, Ca++ e Mg. O tipo de solução administrada
provocou diferenças nas variáveis estudadas, com exceção de AG, Na+, Ca,
Ca++, Mg e P (Tabela 1).
Com relação ao equilíbrio ácido-base, efeitos antagônicos foram observados
após a infusão das duas soluções. A ST gerou alcalinização elevando o BE
(p<0,01), o HCO3- (p<0,05) e o pH (p<0,001), porém sem provocar
alcalemia e sem gerar hipercapnia compensatória (Tabela 1 e Figura 1). Por
outro lado, a SI provocou efeito acidificante, caracterizado pela redução
do BE (p<0,01), do HCO3- (p<0,05) e do pH
(p<0,001), porém sem induzir acidemia e sem gerar hipocapnia
compensatória, apesar da diminuição da pCO2
(p<0,05). As soluções provocaram um leve impacto sobre o equilíbrio
ácido-base e seus efeitos foram rapidamente corrigidos.
O efeito alcalinizante da ST deve-se à concentração
elevada de lactato (60 mEq/L) na sua composição, mais que o dobro da
concentração presente na SRL, que possui 28 mEq/L deste composto. O
lactato administrado é metabolizado pelo organismo, sobretudo no fígado,
o que resulta na geração direta e indireta de HCO3-(1).
A administração de soluções que possuem concentrações mais elevadas de
lactato (150 mEq/L) produz alcalinização acentuada(6). A SRL, por outro
lado, não causa impacto sobre o equilíbrio ácido-base, como comprovado em
equinos, em bezerros e em ovelhas(7).
A metabolização do lactato é rápida e a alcalinização é imediata em
bovinos(7). Nos animais estudados, a
concentração de lactato no plasma estava aumentada (p<0,01) ao final da
infusão da ST e retornou aos valores basais três horas após (Tabela 1). Os
valores mais altos de HCO3- e de BE não foram
observados ao término da infusão, mas sim três horas depois.
A alcalinização gerada pela ST pode ser considerada leve, a julgar pelo
incremento do valor do BE. Administrada em volume correspondente a 5% do
peso corporal, a ST elevou somente 4,6 mmol/L no valor médio do BE. Esse
aumento pode ser considerado insuficiente para a correção dos estados de
acidose metabólica de graus moderado a acentuado.
Quando uma solução eletrolítica é infundida na corrente sanguínea, a sua
SID efetiva provoca alteração na SID plasmática, como reflexo das mudanças
nas concentrações de Na+ e Cl- do plasma(5).
As duas soluções infundidas no presente estudo diferem com relação à
concentração destes íons. A SI possui concentrações equivalentes de Na+ e
de Cl- (154 mEq/L de cada íon), o que gera a SID efetiva igual a 0 mEq/L.
A ST possui 145 mEq/L de Na+, 5 mEq/L de K+ e 96 mEq/L de Cl-, o que
aumenta a sua SID efetiva para 54 mEq/L. Considerando que a SID plasmática
dos indivíduos sadios é próxima de 40 mmol/L(5), soluções que possuem SID
efetiva alta têm capacidade alcalinizante(11),
enquanto as com SID efetiva baixa são acidificantes. Para cada 1 mEq/L de
diminuição na SID plasmática ocorre um decréscimo de 0,013 no pH sanguíneo(12).
Essa interpretação também poderia explicar os efeitos acidificante da SI e
alcalinizante da ST.
A SI aumentou as concentrações de Na+ (p<0,01) e de Cl- (p<0,001)
nos bovinos estudados (Tabela 1). E, ainda que os valores tenham se
mantido dentro dos limites fisiológicos(13),
essa solução provocou hipercloremia relativa com consequente acidificação.
A variação da SID plasmática, com redução discreta ao término da infusão
(p<0,01), foi representativa desse evento. A ST, por outro lado, não
alterou as concentrações plasmáticas de Na+ ou de Cl- nem tampouco a SID
(Tabela 1). Isso se deve ao fato de a sua composição eletrolítica ser
relativamente parecida com a do plasma dos bovinos(13),
o que diminui a probabilidade de induzir desequilíbrios eletrolíticos
iatrogênicos. Comparada à SRL, a ST não poderia ser considerada
essencialmente uma solução balanceada. No entanto, em comparação à SI, a
sua composição é muito mais próxima da situação fisiológica.
Apesar disso, os bovinos apresentaram hipopotassemia transitória
(p<0,001) quando receberam a ST, evidente ao término da infusão e três
horas após (Tabela 1). A hipopotassemia pode ocorrer em virtude do
movimento do K+ do espaço líquido extracelular para o intracelular, o que
não reflete a depleção verdadeira do K+ corpóreo(14).
A hiperinsulinemia decorrente da hiperglicemia gera movimento
insulino-dependente do K+ para dentro da célula que, somada à expansão do
volume plasmático e à alcalinização, pode contribuir para diminuir a
concentração de K+ no sangue(15). Como o
efeito alcalinizante da ST foi baixo e a elevação iatrogênica da glicemia
foi acentuada ao final da infusão, as alterações nas concentrações de K+
observadas podem ser atribuídas principalmente à hiperglicemia. Este
efeito foi transitório e em 24 horas as concentrações retornaram aos
valores iniciais.
A presença de 50g/L de dextrose na ST provocou hiperglicemia transitória
(p<0,001), sendo os valores máximos ao final da infusão e ainda
elevados três horas após (Tabela 1). Deve-se salientar que os bovinos
estudados eram saudáveis. É provável que, quando administrada em animais
hipoglicêmicos, esta solução não cause hiperglicemia tão acentuada e,
consequentemente, interfira menos com o equilíbrio do K+.
Ainda que não exista consenso sobre o valor mínimo crítico para a
concentração de K+ no plasma de bovinos, admite-se, de forma geral, que
varie de 2,2 a 2,5 mmol/L(14). Os bovinos estudados aproximaram-se desse
valor crítico no final da infusão e três horas depois e não manifestaram
qualquer sinal, mesmo leve, compatível com a síndrome hipopotassêmica
descrita para essa espécie(14). Deve-se destacar que, curiosamente, os
bovinos usados no estudo, apesar de sadios, possuíam concentrações
plasmáticas médias iniciais de K+ ligeiramente abaixo do limite inferior
fisiológico de 3,9 mmol/L(13). Isso pode ter contribuído para a magnitude
da hipopotassemia observada após a infusão. Teoricamente, a infusão de
volumes maiores da ST em bovinos hipopotassêmicos poderia ser considerada
potencialmente desvantajosa. Entretanto, isso depende, supostamente, do
efeito hiperglicemiante, mais provável em bovinos que possuam normo ou
hiperglicemia antes de receberem a infusão.
As duas soluções estudadas não provocaram alterações na calcemia (tanto
Ca, quanto Ca++) e na magnesemia, mas geraram redução discreta e
transitória da fosfatemia, provavelmente devido à hemodiluição
iatrogênica. O AG também não se alterou mesmo em face da expansão do
volume plasmático no caso das duas soluções e da hiperlactatemia no caso
da ST.
Não foram observadas alterações no exame físico dos bovinos estudados.
Independente da solução infundida, os parâmetros clínicos não variaram
durante e após a infusão intravenosa (p>0,05) e mantiveram-se dentro
dos limites fisiológicos admitidos para a espécie(10).
Isso indica que a ST é, muito provavelmente, uma solução eletrolítica
segura para uso terapêutico em bovinos. Os desequilíbrios iatrogênicos
observados com a infusão da ST foram transitórios, desaparecendo seis
horas após o término da infusão, e não foram acompanhados por qualquer
tipo de perturbação aparente da saúde.
Conclusões
Com base nos resultados, pode-se concluir que a solução testada (ST) possui potencial alcalinizante reduzido e sua utilização em bovinos é segura. A hiperglicemia e a hipopotassemia iatrogênicas podem ser desvantajosas quando a solução for administrada em animais não hipoglicêmicos e hipopotassêmicos, mas são efeitos transitórios.
Agradecimentos
Aos acadêmicos de Medicina Veterinária da UEL Anamaria Vedovato, João Fernando Zamariola Sanches, Lais Fernanda Sargi, Mayara Cardoso dos Anjos, Nathali Adrielli Agassi de Sales, Rafael Cascales e Stefany Lia Oliveira Camilo pelo auxílio na execução das atividades da fase experimental.
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