DOI:
10.1590/1089-6891v18e-32691
ZOOTECNIA
EFEITO DA SEXAGEM E LINHAGENS SOBRE O DESEMPENHO E RENDIMENTO DE CARCAÇA DE FRANGOS DE CORTE
EFFECT OF STRAINS AND SEXING ON PERFORMANCE AND CARCASS YIELD OF BROILERS
Ivandro Api1
Sabrina EndoTakahashi1*
Angélica Signor Mendes1
Sandro José Paixão1
Rosana Refati1
Rasiel Restelatto1
1Universidadade Tecnológica
Federal do Paraná, Dois Vizinhos, PR, Brasil
*Autora para correspondência -
sabrinaendo@gmail.com
Resumo
Realizou-se este trabalho com o objetivo de avaliar o desempenho produtivo
e o rendimento de carcaça de diferentes linhagens e sexagens de frangos de
corte. Foram avaliadas 576 aves das linhagens Cobb, Ross e Hubbard,
dispostas nas sexagem macho, fêmea ou misto, abatidas aos 45 dias de
idade. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado (DIC), num
bifatorial 3 x 3 (linhagens x sexagem), com quatro repetições e 16 aves em
cada tratamento. O peso vivo, ganho de peso, consumo de ração e conversão
alimentar apresentaram diferenças significativas no decorrer das fases
avaliadas, porém, mostraram-se semelhantes ao final do período avaliado. O
desempenho dos machos apresentou superioridade em comparação com as fêmeas
e os mistos. No rendimento de carcaça, não foi possível observar
diferenças significativas entre as linhagens e sexagens das aves; no
entanto, em alguns cortes nobres a linhagens Cobb apresentou melhores
resultados.
Palavras-chave: avicultura; genética; mercado
consumidor; tecnologia.
Abstract
We carried out this study to evaluate the productive
performance and carcass yield of different strains and sexing of
broilers. We evaluated 576 birds of Cobb, Ross, and Hubbard strains,
arranged in male, female or mixed sexing, slaughtered at 45 days of age.
We used a completely randomized design (CRD), in a 3 X 3 factorial
(strain X sex), with four replicates per treatment. Body weight, weight
gain, feed intake, and feed conversion showed significant differences in
the course of the phases evaluated; however, they were similar at the
end of the study period. Males showed superior results compared to
females and mixed sexing. Carcass yield showed no significant
differences among strains and sexing of birds; however, in some prime
cuts, Cobb presented the best results.
Keywords: consumer market; genetics; poultry;
technology.
Recebido em: 05 novembro de 2014
Aceito em: 23 abril de 2017
Introdução
O crescimento mundial ocorrido na avicultura de corte nos
últimos anos representou grande importância na economia de diversos
países, principalmente naqueles em que o setor agropecuário possui grande
interferência econômica e social. O Brasil é o maior exportador e o
segundo maior produtor de frangos de corte do mundo. Em 2015, a produção
ficou em 13,14 milhões de toneladas, sendo que 32,46% foram abatidos no
estado do Paraná(1). Outro dado importante é o
consumo per capita que em 2015 foi de 43,2 kg(1).
A atual crise fiscal e os problemas econômicos no país atrelados aos altos
custos de produção do milho e da soja podem afetar a cadeia avícola.
Apesar de o Brasil exportar para mais de 150 países, a abertura de novos
mercados em países do continente asiático e africano pode ser uma
alternativa para continuar e ainda aumentar sua produção(2).
De modo importante e de forma crescente, a avicultura mundial direciona
seus fundamentos a fatores cada vez mais complexos e sistêmicos,
concentrando-se na busca de programas de melhoramento genético, nutrição e
sanidade animal, bem como na utilização de novos equipamentos e na
implantação de técnicas de manejo que possibilitam melhorias nas condições
de criação. Essa preocupação tem resultado em impactos positivos nas
condições produtivas, melhorando ganho de peso, conversão alimentar e
otimizando espaço e tempo na produção de carne de frango(3).
De acordo com Stringhini et al.(4), ocorre uma
contínua busca pela melhoria do material genético utilizado nas linhagens
de frangos de corte em virtude da evolução e da competitividade existente
na indústria avícola. Com isso, são realizadas pesquisas para identificar
linhagens que apresentem características superiores em relação ao
desempenho produtivo e rendimento de carcaça.
Segundo Lara et al.(5), a linhagem Cobb
apresenta o melhor desempenho produtivo devido ao melhor ganho de peso,
maior rusticidade e resistência ao manejo de temperatura e alta densidade
de criação. Além disso, possui alta capacidade de deposição de músculo,
obtendo melhor conversão alimentar. No entanto, devido ao alto ganho de
peso, sua estrutura óssea torna-se limitante, predispondo a ocorrência de
problemas locomotores, menor viabilidade do lote em virtude da mortalidade
por infarto e problemas de locomoção.
A linhagem Ross, de acordo com Vieira et al.(6),
apresenta desempenho produtivo semelhante à linhagem Cobb; entretanto,
possui crescimento inicial inferior, com o ganho compensatório após os 21
dias de idade, obtendo alto ganho de peso final, ou seja, o peso de abate
é semelhante ao das outras linhagens. Para estes mesmos autores, as aves
da linhagem Ross apresentam melhor viabilidade do lote, menor
possibilidade de problemas locomotores e melhor rendimento de peito(6).
A linhagem Hubbard passou por um processo de adaptação formando um
material genético que atendesse às demandas de mercado, apresentando bom
ganho de peso, boa conversão alimentar e alta viabilidade. Possui grande
resistência às variações de temperatura e problemas metabólicos,
apresentando bom empenamento, o que possibilita menor incidência de
arranhões e hematomas, além da baixa percentagem de gordura abdominal(7).
Comparando aves sexadas, Stringhini et al.(4)
verificaram que os machos apresentam maior peso de carcaça, melhor
rendimento da carcaça eviscerada em relação ao peso vivo e de carcaça
eviscerada em relação à carcaça depenada e após a sangria. O maior peso de
carcaça, bem como o maior rendimento da carcaça dos machos, pode ser
justificado pela maior percentagem de gordura apresentada pelas fêmeas,
que acaba interferindo no ganho de peso e na conversão alimentar deste
grupo.
Em condições semelhantes de manejo e de nutrição, o ganho de peso dos
frangos de corte machos apresenta-se superior ao das fêmeas, podendo ser
justificado pela melhor eficiência no aproveitamento dos alimentos,
melhorando a conversão alimentar com maior deposição de tecido muscular(8).
Diante desta situação, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da
linhagem e da sexagem de frangos de corte em relação ao desempenho
produtivo e ao rendimento de carcaça.
Material e métodos
O presente trabalho foi realizado no galpão experimental da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Dois Vizinhos,
Região Sudoeste do Paraná, no período de 04 de maio a 18 de junho de 2012.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado (DIC),
sendo bifatorial 3 x 3 (linhagem x sexagem), formando nove tratamentos com
quatro repetições e 16 aves por unidade experimental. As três linhagens
utilizadas foram Cobb, Ross ou Hubbard e a sexagem foi macho, fêmea ou
misto. Os tratamentos empregados foram: T1 – Macho Cobb; T2 – Fêmea Cobb;
T3 – Macho Ross; T4 – Fêmea Ross; T5 – Macho Hubbard; T6 – Fêmea Hubbard;
T7 – Misto Cobb; T8 – Misto Ross; T9 – Misto Hubbard.
Foram utilizados 576 frangos de corte com peso inicial médio de 44,8
gramas e idade de matrizes de 38 e 40 semanas. Foram distribuídos em boxes
de 1,32 m² (1,10 m x 1,20 m), com 16 aves cada (densidade de 12,12/m²),
proveniente de doação de incubatório parceiro da empresa avícola e da
UTFPR. As aves foram vacinadas no incubatório contra Marek, Bouba Aviária,
Gumboro e Bronquite Infecciosa das galinhas.
As aves foram alimentadas com água e ração a vontade. Para o fornecimento
da água foi utilizado bebedouro tipo nipple, seguindo vazão de acordo com
a recomendação técnica para cada idade das aves. A ração foi fornecida em
comedouros pendulares (manuais) com capacidade de 20 kg, balanceada de
acordo com as fases de desenvolvimento, utilizando-se como critério para
mudança de ração a quantidade ingerida por ave. O fornecimento iniciou com
Pré-Inicial (180 g/ave), Inicial (830 g/ave), Crescimento (2400 g/ave) e
Final (média de 1400 g/ave). Para cada fase, as rações foram formuladas
atendendo às exigências nutricionais segundo Rostagno et al.(9)
No primeiro dia, as aves ficaram expostas a 24 horas de luz. A partir do
segundo dia foi iniciado o programa de luz com uma hora de escuro,
aumentando gradativamente uma hora de escuro por dia, até completar 8
horas de escuro (9º dia de idade), mantendo essa quantidade de horas de
escuro até o abate.
O controle da temperatura foi feito com o auxílio de um termohigrômetro,
com aquecimento realizado por aquecedores à lenha e o resfriamento com o
manejo manual das cortinas laterais do galpão, sendo observado que a menor
temperatura registrada ocorreu quando as aves apresentavam 32 dias (17,2
ºC) e a maior temperatura no dia do alojamento (32,5 ºC). Os pintainhos
foram alojados sobre cama de 7 cm de altura, composta de maravalha de
primeira utilização, sendo desinfetados toda a estrutura e os equipamentos
utilizados no trabalho.
No alojamento, todos os pintainhos foram pesados para a distribuição nos
boxes. Semanalmente, foi realizada a pesagem da ração fornecida e a sobra
para o cálculo do consumo semanal e diário de cada tratamento. Além disso,
foi realizada a pesagem de todas as aves para cálculo do peso médio de
cada uma, ganho de peso semanal e ganho de peso diário. Com o peso e o
consumo de ração semanal, foi calculada a conversão alimentar semanal e
aos 45 dias de idade (abate) a conversão final.
Aos 45 dias de idade todas as aves foram pesadas e posteriormente todas
abatidas, sendo que cinco aves de cada boxe foram utilizadas para obtenção
do rendimento de carcaça, após passarem por jejum de 6 horas de
alimentação.
O rendimento de carcaça foi calculado em relação ao peso eviscerado da
carcaça quente: [%rendimento de carcaça = (peso carcaça*100/peso vivo)].
Para obtenção do percentual de cada corte, foi utilizado o peso do corte
em relação ao peso eviscerado da carcaça quente, pela seguinte equação: [%
rendimento corte = ((peso corte/peso eviscerado)*100)]. Os cortes obtidos
foram cabeça, pescoço, patas, fígado, moela, coração, gordura abdominal,
coxa, sobrecoxa, asas, peito, dorso e pele. O rendimento de carcaça e dos
cortes foi determinado segundo metodologia descrita por Mendes(10).
Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias dos
tratamentos comparadas pelo teste de Tukey a 1% ou 5% de significância,
utilizando-se o programa estatístico Assistat(11).
Resultados e Discussão
Os resultados do desempenho produtivo estão apresentados na Tabela 1. Nas primeiras semanas foi possível observar que o menor peso médio foi apresentado pela linhagem Hubbard em relação a Cobb e Ross. Houve maior ganho de peso pela linhagem Hubbard a partir dos 21 dias de idade não apresentando diferenças significativas ao final do período avaliado. Com estes dados, observou-se que as linhagens Cobb e Ross possuem maior precocidade em relação à Hubbard, que apresenta ganho de peso compensatório, aumentando significativamente seu ganho de peso a partir da quarta semana, tornando o peso vivo no abate semelhante ao das demais linhagens.
Os resultados do rendimento de carcaça e rendimentos dos cortes podem ser observados na Tabela 2. Tanto para a linhagem quanto o sexo, não foram encontradas diferenças significativas no rendimento da carcaça inteira após a evisceração. Os resultados encontrados (80,60%) apresentam-se superiores aos encontrados por Mortari et al.(16) e Moreira et al.(15). Almeida et al.(17), Stringhini et al.(4) e Schettino et al.(18) não encontraram diferenças significativas no rendimento de carcaça em relação ao sexo. Garcia et al.(19) detectaram menor rendimento da linhagem Ross e também das fêmeas em relação aos machos e a linhagem Cobb.
Para Stringhini et al.(4), Kawauchi et al.(22) e Almeida et al.(17), a proporção de vísceras não apresentou diferenças em relação à sexagem das aves. Schettino et al.(18) afirmaram que a proporção de vísceras varia de acordo com o órgão avaliado, havendo a influência da sexagem das aves. Santos et al.(23) obtiveram maiores resultados de fígado com a linhagem Cobb e com fêmeas. Schettino et al.(18), avaliando a sexagem e o tempo de jejum pré-abate, identificaram maior rendimento de fígado com quatro horas de jejum e com as fêmeas.
No rendimento de coração, Lara et al.(5) não encontraram diferenças avaliando as linhagens Cobb e Ross. Kawauchi et al.(22), comparando a sexagem das aves, também não encontraram diferenças significativas. O tempo de luz oferecida na fase inicial de criação pode interferir no desenvolvimento e tamanho do coração e, consequentemente, na viabilidade do lote devido à problemas cardíacos.
A linhagem Hubbard apresentou menor percentual de gordura abdominal, enquanto que as fêmeas apresentaram valores superiores na comparação do sexo. A presença de gordura abdominal na carcaça não é um fator desejado, já que a gordura abdominal não possui valor econômico e aumenta o custo de produção. De acordo com Avila et al.(24), não há correlação significativa da gordura abdominal com o peso vivo nem com o da carcaça eviscerada. Vieira et al.(6) e Lara et al.(5) não encontraram diferenças entre a linhagem Cobb e Ross. Moreira et al.(15) e Garcia et al.(19) encontraram o maior rendimento de gordura abdominal na linhagem Ross. Para diversos autores(4,17,19,25), as fêmeas também apresentaram maior rendimento de gordura abdominal, sendo considerado um dos fatores que interferem na conversão alimentar pelo fato de a deposição do tecido adiposo diminuir a eficiência alimentar.
A linhagem Hubbard apresentou o maior rendimento de coxa, não havendo diferenças significativas entre o sexo. Da mesma forma, a linhagem Hubbard e Ross tiveram maiores resultados de sobrecoxas, apresentando a primeira diferença significativa em relação à Cobb. Os machos foram superiores neste corte.
Stringhini et al.(4), Brunelli et al.(20), Schettino et al.(18) e Almeida et al.(17) verificaram maior rendimento de coxa e sobrecoxas nos machos. Avila et al(24) encontraram rendimentos parecidos para a linhagem Hubbard e as demais linhagens (Arbor Acress, Pilch e Cobb). Santos et al.(23) e Vieira et al.(6) encontraram os melhores rendimentos para estes cortes com a linhagem Cobb.
Como observado no rendimento de asa, a linhagem Ross apresentou diferença superior significativa em relação às demais. Na comparação do sexo, os machos apresentaram resultados inferiores, semelhantes aos resultados de Moreira et al.(15) e Schettino et. al.(18) e diferente dos de Stringhini et al.(4), que encontraram o maior rendimento de asa nos machos. Garcia et al.(19), Kawauchi et al.(22) e Almeida et al.(17) não encontraram diferenças entre o sexo. Flemming et al.(8), também avaliando as linhagens Cobb, Ross e Hubbard, encontraram na linhagem Ross superioridade em relação às demais. Stringhini et al.(4), Moreira et al.(15) e Vieira et al.(6) não obtiveram diferenças entre as linhagens para o corte de asas.
A linhagem Cobb apresentou o menor rendimento de dorso. O rendimento deste corte não possui interesse econômico pelo fato de não ser um corte nobre e na maioria das vezes é pouco aproveitado ou até mesmo descartado totalmente para subprodutos. Moreira et al.(15) e Schettino et al.(18) também não encontraram diferenças entre sexo. Stringhini et al.(4) encontraram nos machos o maior rendimento de dorso. Para Moreira et al.(15), a linhagem Ross apresentou maior rendimento. Stringhini et al.(4) não encontraram diferenças entre as linhagens.
A linhagem Cobb apresentou destaque no rendimento do peito, o principal corte de interesse econômico, apresentando diferença significativa em relação a Ross e Hubbard. Com relação ao sexo das aves, não houve diferença significativa. Este corte, devido à sua importância econômica, pode ser utilizado como um dos principais fatores na escolha da linhagem utilizada pelas integrações avícolas.
Flemming et al.(8) e Vieira et al.(6) verificaram que a linhagem Ross foi superior em relação a Cobb e Hubbard. Já Stringhini et al.(4) e Lara et al.(5) não encontraram diferenças entre as linhagens Cobb e Ross. Moreira et al.(15), avaliando machos e fêmeas das linhagens Cobb e Ross, não encontraram diferenças entre as linhagens, porém, na linhagem Cobb as fêmeas apresentaram-se superiores aos machos, semelhante aos resultados de Almeida et al.(17). Garcia et al.(19), Brunelli et al.(20) e Schettino et al.(18), não encontraram diferenças entre machos e fêmeas nos trabalhos realizados.
Conclusões
O desempenho produtivo das aves recebe influência das
linhagens avaliadas de acordo com a variável e o período observado;
entretanto, na idade de abate, todas apresentaram resultados satisfatórios
para o desempenho zootécnico que é buscado pela avicultura. O desempenho
dos machos apresentou-se superior no ganho de peso e conversão alimentar.
A linhagem Cobb apresentou melhores resultados em alguns cortes,
principalmente de peito; contudo, para o rendimento de carcaça, todas as
linhagens mostraram bons rendimentos, não apresentando diferenças.
No presente estudo, todas as linhagens apresentaram bom rendimento
produtivo e de carcaça, devendo as empresas avícolas basear-se nos
critérios de mercado para a escolha de uma ou outra linhagem.
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