The
aim of this study
was to
evaluate the effect of three types of rotational pasture: isolated (I –
grazing
only by sheep), simultaneous (S – simultaneous grazing by cattle and
sheep) and
alternated (A – granzing by cattle and then by sheep) on the structural
and
chemical traits of grass. Twelve crossbreed heifers, weighing initially
207
kg,
30 Santa Inês lambs,
weighing 23
kg,
and 16 adult ewes weighing 47 kg were used. The
following
parameters were determined
on the pasture: forage mass available per grazing cycle (FMC);
proportion of
leaf (PF); stalk (PS); dead material (PDM), leaf:stalk ratio (L/S);
levels of
dry matter (DM); mineral matter (MM); crude protein (PB); ether extract
(EE);
neutral detergent fiber (NDF); acid detergent fiber (ADF); inorganic
phosphorus
(Pi) and total digestible nutrients (TDN). The S and I systems
presented the
smallest values for PS and NDF, while their values for L/S, CP, EE and
TDN were
higher than in A system. Therefore, the results showed that the grass
offered
to sheep in S and I systems had better quality than in the A system.
There was
not effect of systems and cycles of pasture on the others parameters
evaluated.
Tanzania grass available to sheep showed best structural and chemical
traits in
S and I systems while it presented worse quality in A system. The S
system may
be an alternative to traditional sheep rearing systems in the Brazilian
savannah region.
KEYWORDS:grass; pasture;
ruminant.
INTRODUÇÃO
As pastagens constituem a principal
fonte de alimento para o rebanho
brasileiro de ruminantes domésticos, o que tem propiciado elevada
competitividade do Brasil no mercado internacional de carne e leite, em
razão
do baixo custo de produção, especialmente com alimentação. Na produção
animal
em pastejo, além do valor nutritivo do pasto, a sua estrutura também
afetará a
resposta do animal, em termos de consumo e desempenho (CARVALHO et al.,
2001;
POMPEU et al., 2008), além de influir na eficiência de utilização dos
recursos
abióticos, interferindo na competição entre plantas (LEMAIRE, 2001;
CARVALHO et
al., 2005).
A qualidade da forragem é determinada
pelas características químicas e
físicas das plantas, sendo que as interações destas com os mecanismos
de
digestão, metabolismo e controle do consumo voluntário determinam o
nível de
ingestão de energia digestível, bem como o desempenho animal. Nesse
sentido,
conhecer a composição química das plantas forrageiras possibilita
quantificar a
presença de compostos como proteína, carboidratos estruturais,
carboidratos
solúveis, substâncias tóxicas, ácidos orgânicos, vitaminas e minerais
essenciais para os animais. Assim, é possível formular rações que
atendam às
necessidades nutricionais dos animais (REIS & RODRIGUES, 1993).
O potencial da cultivar Tanzânia pode
ser verificado por meio dos
resultados obtidos durante a avaliação dos acessos no CNPGC, em que
este capim
produziu 33 t/ha.ano de MS e teve, em média, 80% de folhas, 12,7% de
proteína
bruta nas folhas e 9%
nos
colmos (SAVIDAN
et al., 1990; JANK et al., 1994; SANTOS et al., 1999).
O
estudo foi realizado com o objetivo de
verificar o efeito de três sistemas de pastejo rotacionado: isolado,
simultâneo
e alternado de ovinos com bovinos, sobre características estruturais e
bromatológicas
do capim Tanzânia.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no Centro de
Manejo
de Ovinos da Fazenda Água Limpa, da Universidade de Brasília,
localizada no
Distrito Federal (15º57’ de latitude e 47º56’ de longitude oeste), onde
o tipo
climático é Tropical Estacional (Aw), segundo classificação de Koeppen,
com
estacionalidade do regime de chuvas, invernos secos e verões chuvosos.
A
pluviosidade anual varia entre
1.500 a
1.900
mm. O
experimento teve duração de 84 dias no período
chuvoso, compreendida entre janeiro a abril de 2008.
A área experimental foi formada no
final do
ano de 2007, após análise, correção e adubação do solo, onde pastagens
de capim
Tanzânia foram estabelecidas em
5,2 ha
e subdivididas em treze
piquetes de aproximadamente
0,4 ha cada, nos quais
três
sistemas de manejo foram instalados: BO – Pastejo simultâneo de bovinos
com
ovinos no mesmo piquete; BDO – Pastejo alternado: primeiro pelos
bovinos,
depois pelos ovinos e O – Pastejo isolado de ovinos. Foram destinados
quatro
piquetes para os sistemas (BO e O) e cinco para o BDO, para que pudesse
ser
realizado o pastejo rotacionado, com sete dias de ocupação e 21 dias de
descanso. No sistema BDO sempre havia dois piquetes em uso simultâneo,
um com
bovinos e outro com ovinos. Foi feito o preparo, correção e adubação do
solo na
área da pastagem, de acordo com MARTHA et al. (2007), e quantidade de
sementes
viáveis por hectare, segundo recomendações da Embrapa. A subdivisão em
piquetes
foi feita através de cerca elétrica com dois fios eletrificados e dois
fios
terra.
Após a saída dos ovinos dos piquetes,
no
primeiro ciclo de pastejo, foi feita uma adubação nitrogenada de
cobertura
utilizando-se como fertilizante a uréia, equivalente a uma dose a
100 kg
de N/ha
aplicada a
lanço em dose única.
O experimento foi desenvolvido em
delineamento inteiramente casualizado,
em esquema fatorial 3x3, e as fontes de variação foram os sistemas de
pastejo e
os ciclos de pastejo, com 4 repetições
para cada tratamento, sendo que cada piquete, com área média de 0,4 ha,
foi
utilizado como
unidade experimental.
O modelo estatístico adotado foi:
Y
ij = µ + S
i + C
j
+ SC
ijk + E
ijk
Y
ij = valor observado para
Y, no i-ésimo sistema de pastejo,
no j-ésimo ciclo de pastejo;
µ = média geral
S
i = efeito do sistema de
pastejo (i = BO, BDO, O);
C
j = efeito do ciclo de
pastejo (j = 1, 2, 3)
SC
ijk = efeito da interação
entre (S
i x C
j)
E
ijk = erro experimental
associado a Y
ijk
A taxa de lotação inicial foi de
aproximadamente duas UA/ha, quando 30 ovinos machos inteiros da raça
Santa
Inês, com peso médio inicial de 22,70 ±
2,23 kg,
foram
distribuídos em quantidades
iguais nos diferentes sistemas de pastejo. Para completar a taxa de
lotação
estipulada foram utilizadas 16 ovelhas adultas da raça Santa Inês, com
peso
médio 47,38 ±
7,67
kg,
no tratamento O e 12 bovinos mestiços, com peso médio de 206,70 ±
20,79 kg,
sendo
seis no
tratamento BO e seis no BDO. Esses animais foram mantidos na área
experimental
do início ao fim do trabalho, sem a introdução de outros animais. Foi
considerado
que, em termos de consumo, cinco ovelhas adultas, com peso vivo de
aproximadamente
50 kg,
equivalem a 1UA (
450
kg).
Esta relação de 5:1 considera o peso metabólico do animal e não o peso
vivo,
uma vez que animais menores produzem mais calor e consomem mais
alimento por
unidade de peso vivo que animais de porte maior (CARVALHO et al.,
2005). O peso
metabólico de uma vaca de
450 kg equivale a
97,7 kg,
enquanto
o de uma ovelha de
50
kg equivale a
18,8 kg,
ou seja,
uma
relação de aproximadamente 1:5 (vaca:ovelha).
Os ovinos receberam
200
g/animal/dia de
mistura
concentrada composta por 55% de milho triturado, 30% de farelo de soja,
10% de
farelo de algodão e 5% de farelo de trigo, com teores de 88% de matéria
seca,
22% proteína bruta, 72% de nutrientes digestíveis totais e 2,613
Mcal/kg de
energia metabolizável, objetivando obter um ganho médio de
aproximadamente 110
g/animal/dia, segundo recomendação do NRC (2007). A categoria dos
bovinos
recebeu 2 kg/animal/dia de mistura concentrada composta por 60% de
milho + 40%
farelo de soja, com teores de 88% de matéria seca, 23% de proteína
bruta, 78%
de nutrientes digestíveis totais e 2,839 Mcal/kg de energia
metabolizável. Além
disto, foram fornecidos sais minerais específicos à vontade para cada
espécie,
tomando-se o cuidado de evitar o acesso ao sal de uma espécie pela
outra: o sal
dos bovinos, pela altura do cocho, e o dos ovinos, colocando-o na baia
de
pernoite dos animais, onde eram recolhidos diariamente.
A água também foi disponibilizada à vontade
.
A forragem foi colhida semanalmente
nos piquetes de entrada e saída dos
animais com a finalidade de estimar a disponibilidade de massa de
forragem por
ciclo de pastejo. Em cada piquete foram obtidas 4 amostras
representativas,
colhidas a uma altura de aproximadamente
5 cm
do solo, em
retângulos de 0,5 x
1,0
m, as quais eram
acondicionadas em um saco plástico e, juntas, formaram uma amostra
composta.
Essa amostra foi pesada e, assim, obtido o peso da massa de forragem
por ciclo
de pastejo, disponível em
2 m²,
estimando-se proporcionalmente a disponibilidade em um hectare.
Após a pesagem da amostra composta
colhida no momento de entrada dos
animais, o material foi colocado sobre uma lona, para que fosse
misturado e daí
fossem retiradas duas sub-amostras, uma para a determinação de matéria
seca e
outra para proceder à separação em folhas, colmos e material morto.
Essas
sub-amostras foram acondicionadas em sacos plásticos, devidamente
vedados e
identificados. Em seguida, foram conduzidos ao laboratório de nutrição
animal
da Fazenda Água Limpa, da UnB, para a realização das análises.
No sistema BDO, as amostras da
forragem foram colhidas em dois momentos,
na entrada dos bovinos em cada piquete e na saída dos bovinos/entrada
dos
ovinos, para que pudessem ser avaliadas as características da forragem
nesses
dois momentos dentro do sistema BDO, bem como avaliar o efeito dos três
sistemas sobre as características da forragem disponibilizada aos
ovinos.
A determinação absoluta e relativa dos
componentes folha, colmo e material
morto nas amostras de forragem foi feita por separação dos mesmos, que
eram
acondicionados em sacos de papel e, em seguida, levados para secagem em
estufa
de circulação de ar forçado a 55-60°C, por 72 horas, sendo
posteriormente
pesados e determinadas suas proporções na matéria seca.
Foi coletada uma amostra de capim de
cada piquete, imediatamente antes
da entrada dos animais, simulando o pastejo, na qual foram analisados
os
conteúdos de fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido,
utilizando-se
a metodologia proposta por VAN SOEST et al. (1991), e os teores de:
matéria
seca, proteína bruta,
extrato
etéreo,
fósforo inorgânico e matéria mineral, conforme descrições feitas por
SILVA
& QUEIROZ (2002).
O teor de nutrientes digestíveis
totais (NDT) foi calculado, segundo a
metodologia proposta por CAPPELLE et al. (2001), pela Equação 1:
NDT= 9,6086 – 0,669233 FDN + 0,437932
PB (R
2 = 0,71)
[Eq.1]
O
pacote estatístico SAS (1999) foi utilizado
para realização de todos os procedimentos de análise, adotando-se o
procedimento GLM (análise de variância). O teste adotado para
comparações entre
médias das demais variáveis foi o teste de Tukey, a 10 % de
significância.
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
A precipitação pluviométrica durante o
período experimental foi de 924,7
mm, e a temperatura média foi de aproximadamente 21,6 °C (
Tabela
1).
Todas
as variáveis avaliadas
foram influenciadas pelos ciclos de pastejo e houve interação entre
sistema de
pastejo e ciclo de pastejo para as variáveis: proporção de colmo,
proteína
bruta, extrato etéreo e nutrientes digestíveis totais (
Tabela
2).
A
massa de forragem
disponível por ciclo de pastejo (MFP) foi semelhante para os três
sistemas de
pastejo. Alguns fatores, tais como frequência de pastejo e adubação
nitrogenada, interferem diretamente sobre essa variável. Neste
experimento, a
frequência com que os animais retornavam ao mesmo piquete para consumir
a
forragem foi de 21 dias e a dose de nitrogênio aplicada foi de 100
kg/ha,
aplicada uma única vez, após a saída dos ovinos dos piquetes no
primeiro ciclo
de pastejo. SANTOS et al. (1999), trabalhando com pastagens de capim
Tanzânia
pastejadas por novilhas da raça holandesa, verificaram uma correlação
positiva
entre a frequência de pastejo
e
a
disponibilidade de massa de forragem
por
ciclo de pastejo. Esses autores adotaram 28 dias de descanso, três dias
de
ocupação e adubação nitrogenada de 400 kg/ha dividida em seis
aplicações, o que
pode explicar maiores disponibilidades de massa de forragem por ciclo
de
pastejo (4.486 kg/ha) que as deste experimento.
A
parte mais nobre,
destinada ao consumo dos ruminantes, refere-se à proporção de folhas,
sendo
que, para essa variável, a pastagem submetida ao sistema de BO foi
superior ao
BDO, não havendo, entretanto, diferença em relação ao sistema O (
Tabela
3). Isso
demonstra que nos sistemas BO e O houve um melhor aproveitamento da
forragem,
uma vez que, com a mesma produção de matéria seca, a forragem
disponível para
os animais foi mais rica em folhas, onde está concentrada a maior parte
dos
nutrientes digestíveis. Tal diferença pode ser explicada pelo fato de
que, no
simultâneo e no isolado, a taxa de lotação instantânea foi maior
durante o
período de ocupação, pois todos os animais, alocados nos respectivos
sistemas
de pastejo consumiam a forragem disponível em uma semana, enquanto que
no
alternado um mesmo piquete ficava ocupado por 14 dias consecutivos,
sete dias
pela categoria de bois e sete pelos ovinos. Há que se lembrar que, no
sistema
BDO, como os bovinos já haviam passado pelo piquete em que os ovinos
teriam
acesso, boa parte das folhas já tinha sido consumida, restando aos
ovinos uma
forragem de pior qualidade.
Em contraposição, a
quantidade de colmo, mais fibrosa e menos digestível, deve ser evitada
na
pastagem. Essa variável não apresentou diferença significativa entre os
sistemas de pastejo. PARSONS et al. (1988) ressaltam a importância de
se
controlar a produção de hastes no pasto. A presença de grandes
quantidades de
hastes pode comprometer a eficiência do sistema de duas formas:
limitando a
capacidade de colheita pelo animal ou reduzindo seu valor alimentar.
Seguindo o comportamento
observado na proporção de folhas, a relação folha:colmo na pastagem
submetida
ao sistema BO apresentou melhor resultado, em relação ao BDO, não
havendo
diferença entre O e os demais. Quanto maior essa relação, melhor a
digestibilidade da matéria seca nos diferentes genótipos de
P.
maximum, conforme observado por SINGH
(1995). Além disso, a elevada proporção de hastes pode limitar o
consumo dos
animais (FLORES et al., 1993). Segundo PINTO et al. (1994), valores
inferiores
a 1 nessa relação interferem de forma negativa no consumo pelos
ruminantes. Em
todos os sistemas avaliados, essa relação foi superior a 1, situação
que se
reflete nos dados de consumo pelos ovinos que não foram
significativamente
diferentes. Deve-se enfatizar aqui a excelente capacidade do Tanzânia
em
desenvolver mais folhas em detrimento de colmos, característica de
grande
interesse na nutrição dos ruminantes.
Na avaliação da qualidade da
forragem, os dados referentes aos teores de proteína bruta (PB), fibras
em
detergente neutro (FDN) e ácido (FDA) e nutrientes digestíveis totais
(NDT),
corroboram com os resultados observados na melhor relação folha:colmo
do
sistema BO em detrimento ao BDO. Embora para a relação folha:colmo
o sistema O não tenha sido
significativamente
superior ao BDO, na avaliação bromatológica o isolado demonstrou ser
superior
ao alternado com maiores quantidades de proteína e nutrientes
digestíveis
totais e menores teores de fibra, conferindo melhor qualidade à massa
de
forragem disponível aos animais.
Segundo NOLAN & CONNOLY
(1977), a exploração mista de bovinos com ovinos produz efeitos nas
variáveis
da interface planta-animal. Os autores concluíram que esse tipo de
exploração
aumenta a produção por área e por animal em comparação à utilização da
forragem
com apenas uma espécie. Tal efeito estaria relacionado a três
consequências dessa
exploração: aumento da produção da pastagem, melhoria da qualidade da
forragem
e da eficiência da utilização (NOLAN & CONNOLY, 1989). Segundo
BAKER (1985)
e NOLAN & CONNOLY (1989), a origem desse efeito positivo
estaria na
complementaridade dos padrões de pastejo, associados com as distintas
preferências de cada espécie animal por diferentes plantas, partes das
plantas
ou localizações geográficas. Neste experimento, o que pôde ser
observado foi a
preferência por partes da planta e pela localização geográfica, uma vez
que a
forragem refugada pelos bovinos, ao redor das placas de fezes por eles
depositadas, foi consumida pelos ovinos.
Além disso, destaca-se a
excelente qualidade da forragem produzida ao redor da área de dejeção
dos
bovinos. NOLAN & CONNOLY (1989) encontraram em áreas de pastejo
isolado de
bovinos o percentual de 5% de área sob as dejeções e 15% da área como
rejeitada
(plantas altas em torno das placas de dejeção). Essa pequena área
continha até
44% da forragem total disponível e concentrava 40% do total de fósforo
e
potássio, devido ao fato de uma placa de fezes de bovino equivaler a
uma
aplicação de
1040 kg
de N/ha,
400
kg
de k/ha e
280
kg
de P/ha (WILLIANS & HAYNES, 1995). Os autores verificaram ainda
que: os
bovinos rejeitam as plantas altas por, no mínimo, três semanas após a
dejeção;
a preferência dos ovinos por essas plantas é aproximadamente duas vezes
em
relação aos bovinos; as plantas altas tem aproximadamente quatro
unidades
percentuais de digestibilidade a mais em pastejo misto.
As forragens tradicionais na
criação de ovinos e bovinos no Centro-Oeste tem sido o Andropogon,
cujos teores
de proteína nas águas tem sido ao redor de 7%, e Braquiária na criação
de
bovinos, com 8% de PB. Os valores aqui obtidos para o Tanzânia foram
superiores, denotando que, além de produção de massa, a quantidade de
proteína
dessa massa foi bastante satisfatória. Há que se evidenciar que tais
dados
referem-se à pastagem recém implantada de primeiro pastejo.
Os teores de FDN e FDA estão
de acordo com as pastagens tropicais e aqueles obtidos por CANO et al.
(2004) e
BALSALOBRE (2002) com Tanzânia, cujos valores de FDN estiveram entre
63,6 e
69,0%. Segundo VAN SOEST (1982), as fibras são constituídas pela fração
menos
digestível da forragem, comprometendo, assim, a qualidade do material e
são a
principal fonte de energia para o ruminante, a qual, em ação sinérgica
com a
proteína, deve garantir o desempenho animal.
Os minerais, juntamente com
as vitaminas, também têm funções essenciais na nutrição dos ruminantes.
Os
teores de matéria mineral não diferiram entre si e estão dentro dos
parâmetros
apresentados por BALSALOBRE (2002) de
7,87 a
10,47% na
matéria seca. Segundo o autor,
há uma tendência de altos teores de matéria mineral em forrageiras
tropicais
adubadas. A concentração de fósforo nos três sistemas de pastejo
apresentou
valores acima dos encontrados normalmente em pastagens tropicais.
CARVALHO et
al. (2005), ao revisarem vários trabalhos na literatura brasileira,
demonstraram que os teores de fósforo na matéria seca da parte aérea de
gramíneas tropicais variaram de
0,07 a
0,20%, com apenas 14% delas com
nível superior a
0,18%, sendo 86% das gramíneas deficientes para atender às exigências
animais.
Entretanto, pastagens bem manejadas apresentaram teores acima de 0,18%
de P no
verão. Esses autores afirmaram que o teor desse mineral decresce com o
aumento
da idade da forrageira, o que pode ser agravado pela época do ano e
pela parte
da planta em questão, sendo as folhas mais ricas que o caule nesse
elemento.
Conforme já discutido, na área experimental houve adubação nitrogenada
e
fosfatada, o que pode ter garantido a excelente qualidade da pastagem
utilizada.
Pelo
menos dois sistemas de pastejo diferiram entre si, quanto à
proporção de colmo no terceiro ciclo de pastejo, aos teores de PB no
segundo e
terceiro ciclos, EE no segundo e no quarto ciclos e NDT no primeiro e
segundo
ciclo (Tabela 4).
No detalhamento da análise de
variância por ciclos de pastejo (
Tabela
5)
observa-se que, como visto
anteriormente, a pastagem do sistema BDO apresentou maior proporção de
colmo,
embora somente no terceiro ciclo, afetando sobremaneira as
características nutricionais,
com redução de PB e aumento de fibra, indicando que o pasto nesse
sistema
apresentou qualidade inferior aos demais.
As
médias de NDT ao longo do período experimental para os sistemas BO e
O foram semelhantes e superiores ao BDO, contribuindo para uma melhor
qualidade
nutricional do capim oferecido aos animais dos sistemas simultâneo e
isolado em
detrimento do alternado. Segundo CAPPELLE et al. (2001), o aumento no
teor de
PB afeta positivamente o teor de nutrientes digestíveis totais,
enquanto os
teores de fibra em detergente neutro e ácido são inversamente
proporcionais ao
NDT. Além desses componentes químicos da planta forrageira, a maior
proporção
de folhas, onde se concentra a maior parte dos nutrientes digestíveis,
também
contribui para o aumento do teor de NDT e da digestibilidade do
volumoso
oferecido.
Os teores de fibra em
detergente ácido foram semelhantes aos resultados encontrados em
amostras de
pastejo simulado por BALSALOBRE (2002) e CANO et al (2004). Segundo
esses
autores, os níveis de FDA em capim Tanzânia podem atingir níveis acima
de 40%
somente em plantas com idade fisiológica bem avançada.
Foram comparadas as variáveis
estruturais e bromatológicas do capim, referentes aos dois momentos de
uso dos
piquetes do grupo BDO – entrada dos bovinos (E) e entrada dos ovinos/
saída dos
bovinos (E/S) – de forma a verificar se houve diferenças entre os
parâmetros
avaliados nesses dois momentos, bem como se houve ou não interação
entre o
momento e o ciclo de pastejo.
O resumo da análise de
variância (
Tabela 6)
demonstra que houve
diferença significativa entre
os dois
momentos de uso, em pelo menos um dos ciclos de pastejo, para as
variáveis:
massa de forragem disponível por ciclo de pastejo e teor de proteína
bruta.
Essas duas variáveis são determinantes para o desempenho dos animais a
pasto,
afetando inclusive sua capacidade imunológica.
As
variáveis proporção de folha, proporção de colmo, relação folha:colmo
e teor de fibra em detergente ácido foram influenciados pelo momento de
uso e
pelo ciclo de pastejo denotando que o manejo adotado no sistema de
pastejo BDO
resultou em modificações na estrutura do capim oferecido primeiramente
aos
bovinos e em seguida aos ovinos.
Os
dois momentos de
uso apresentaram diferenças significativas quanto à massa de forragem
disponível somente no primeiro ciclo de pastejo e quanto ao teor de
proteína
bruta no segundo e terceiro ciclos de pastejo (
Tabela 7).
O percentual de PB foi em média 34% maior nos momentos de entrada dos
bovinos (E), em relação aos momentos de entrada dos ovinos e saída dos
bovinos
(E/S) (Tabela 8).
Essa diferença
colocou os ovinos submetidos ao sistema BDO em
desvantagem em relação àqueles submetidos aos demais sistemas, que
apresentaram
médias de proteína bruta semelhantes ao momento de uso E em BDO. Além
disso,
TORRES et al. (2009) encontraram nesse sistema de pastejo a maior carga
parasitária na pastagem e nos ovinos submetidos ao sistema BDO, o que
demanda
uma maior quantidade de proteína para funções de reparo do trato
gastrintestinal e funções relacionadas à imunidade, tal como produção
de anticorpos,
além de maiores perdas endógenas de nitrogênio. Entretanto, mesmo com
níveis
mais baixos de proteína na pastagem, os animais em BDO não tiveram seu
desempenho afetado.
A produção de matéria seca não diferiu entre os ciclos de pastejo,
exceto
no primeiro ciclo, em que o momento de entrada dos bovinos apresentou
maior
média. Isso indica que, no geral, o fato dos bois terem acessado os
piquetes
antes dos ovinos não implicou em perda de quantidade. Esse fato pode
ter sido
devido ao período de ocupação ser de sete dias, tendo uma produção de
massa de
capim considerável nesse intervalo de tempo, não havendo, portanto,
diferença
na quantidade de matéria seca disponível quando da entrada e saída dos
bovinos.
Na
Tabela 9
são apresentadas as
médias das
proporções de folha e de colmo, da relação folha:colmo e do teor de
fibra em
detergente ácido nos dois momentos de uso dos piquetes do sistema BDO.
O arranjo estrutural da planta com menor relação folha:colmo
dificulta a
apreensão pelos animais. Além disso, com um maior teor de FDA e menor
de
proteína bruta, a digestibilidade da dieta fica prejudicada, podendo
interferir
no desempenho animal. CARVALHO & MORAES (2005) afirmam que as
características das refeições e a magnitude do consumo obtido são
reflexos
diretos da qualidade, quantidade e estrutura do pasto que é oferecido
ao
animal.
CONCLUSÕES
Os tratamentos BO e O apresentaram menores valores para as
variáveis PC e
FDN, ao mesmo tempo em que foram superiores em F/C, PB, EE e NDT em
relação ao
tratamento BDO, denotando melhor qualidade do capim oferecido aos
ovinos nesses
dois tratamentos. Portanto, o sistema de pastejo simultâneo pode ser
considerado
uma alternativa de manejo ao sistema isolado de ovinos na região de
cerrado
brasileiro.
AGRADECIMENTOS
Ao Governo do Estado do Tocantins, Secretaria de Ciência e
Tecnologia-SECT e Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia-CECT pelo
apoio
financeiro na execução deste trabalho.
Ao CNPq pelo apoio financeiro na execução deste trabalho.
REFERÊNCIAS
BALSALOBRE, M. A. A. Valor
alimentar do capim
tanzânia irrigado. 2002. Tese (Doutorado em Ciência Animal e
Pastagens) -
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São
Paulo,
Piracicaba, 2002. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11139/tde-15092006-141145/>.
Acesso
em: 2011-11-21.
BAKER, F. H.
Multispecies grazing: the state of the science. Rangelands
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CANO, C. C. P.; CECATO, U.; CANTO,
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Protocolado
em: 18 maio 2010.
Aceito em: 10 nov. 2011.