O experimento foi realizado com
o objetivo de avaliar diferentes níveis de energia e programas de
alimentação
sobre o desempenho, as características de carcaça e a morfometria da
mucosa do
duodeno de frangos de corte de 42 a 57 dias de idade. Foram
utilizados 1.600 pintos machos
“Cobb 500”, em um delineamento inteiramente ao acaso, em esquema
fatorial 2X4,
sendo dois níveis de energia (3.200 e 3.600 kcal EM/kg) e quatro
programas de
alimentação. Os níveis energéticos ou os diferentes programas de
alimentação
não determinaram diferenças expressivas nas características de carcaça
que
justifiquem a escolha de um nível de energia ou de um programa
alimentar,
devendo prevalecer o nível energético e as recomendações de aminoácidos
que
determinem o maior custo-benefício. Observou-se que o nível 3.600 kcal
EM/kg
proporcionou melhoria no desempenho das aves e na morfometria da mucosa
intestinal e o fracionamento das exigências de aminoácidos digestíveis
em dois
períodos piorou os resultados de desempenho e de altura de vilosidade.
Inicialmente,
1.600 pintos machos “Cobb 500” de um
dia de idade foram alojados em um galpão convencional de alvenaria, com
cama de
maravalha (aproximadamente cinco centímetros de altura). Nos períodos
de 1 a
21 dias e de 22 a
41 dias de idade, todas
as aves receberam as mesmas rações, formuladas para atender às
exigências
nutricionais, de acordo com ROSTAGNO et al. (2005). Ao final do 41º dia
de
idade, todas as parcelas foram pesadas para assegurar peso médio
semelhante no
início do experimento (42 dias de idade).
Aos
42 dias de idade, 1.600 frangos de corte machos
“Cobb 500” foram distribuídos em um delineamento inteiramente ao acaso,
em
esquema fatorial 2 x 4, perfazendo oito tratamentos com cinco
repetições de 40
aves. Os fatores analisados foram dois níveis de energia (NE)
metabolizável
(3.200 e 3.600 kcal EM/kg) e quatro programas de alimentação (PA),
compreendendo quatro recomendações de aminoácidos digestíveis, as quais
variaram de acordo com a fonte de recomendação (POPE & EMMERT,
2001;
ROSTAGNO et al., 2005) e a fase de criação das aves (42 a 57 dias; 42 a 49 dias e 50 a 57 dias de
idade),
representados no esquema abaixo:
-
Programa alimentar 1 (PA1): ração formulada
segundo as recomendações de ROSTAGNO et al. (2005), para lisina,
metionina+cistina e treonina digestíveis, fornecida no período de 42 a 57 dias de idade;
-
Programa alimentar 2 (PA2): ração formulada para
conter lisina, metionina+cistina e treonina digestíveis, segundo a
equação predita
por POPE & EMMERT (2001), fornecida no período de 42 a 57 dias de idade;
-
Programa alimentar 3 (PA3): ração formulada para
conter lisina, metionina+cistina e treonina digestíveis, segundo a
equação
predita por POPE & EMMERT (2001), fornecida no período de 42 a 49 dias de
idade, e ração
PA4, fornecida no período de 50 a 57 dias de idade;
-
Programa alimentar 4 (PA4): ração PA1, fornecida
no período de 42 a
49 dias de idade e ração, formulada para conter lisina,
metionina+cistina e
treonina digestíveis, segundo a equação predita por POPE & EMMERT
(2001),
fornecida no período de 50
a
57 dias de idade.
As
equações de regressão de POPE & EMMERT
(2001), elaboradas para atender às exigências de frangos machos dentro
de cada
fase de alimentação, foram:
-
Metionina + Cistina digestível = 0,88 – 0,0063x
-
Lisina digestível = 1,22 – 0,0095x
-
Treonina digestível = 0,8 – 0,0053x
x
= idade média dentro do período desejado.
De
acordo com a aplicação das equações de POPE
& EMMERT (2001), os níveis de metionina+cistina digestíveis foram
de 0,57 (42 a
57 dias), 0,59 (42 – 49
dias) e 0,54 (50 a
57 dias); os de lisina digestível, de 0,75 (42 a 57 dias), 0,78 (42 a 49 dias) e 0,71 (50 a 57 dias); e os
de
treonina digestível, de 0,54 (42 a 57 dias), 0,56 (42 a 49 dias) e 0,51 (50 a 57 dias). As
rações
experimentais foram formuladas à base de milho, farelo de soja, óleo de
soja,
fosfato bicálcico, calcário calcítico, suplemento de vitaminas e
microminerais
(Tabela 1).
Ao
final do período experimental, quando as aves
atingiram 57 dias de idade, foram avaliados os dados de ganho de peso,
consumo
de ração, conversão alimentar, conversão calórica (kcal consumida/ kg
de ganho
de peso) e morfometria intestinal.Para avaliação das características de
carcaça,
quatro aves de cada parcela foram colhidas ao acaso, identificadas,
pesadas
individualmente e separadas em boxes, no qual permaneceram por um
período de
aproximadamente seis horas de jejum, recebendo apenas dieta hídrica,
sendo
posteriormente transportadas até o abatedouro onde foram novamente
pesadas,
procedendo-se o abate.
Após
a evisceração, o frango passou por dois
sistemas de banho em água gelada chamados pré-chiller e chiller, que
preparam a
carcaça para o resfriamento ou congelamento. Durante esse processo, a
carcaça
absorve água que congelará junto com o produto caso não seja realizado
um
gotejamento adequado. Após um período curto de gotejamento
(permanecendo,
portanto, uma maior quantidade de água retida na carcaça), as carcaças
foram
novamente pesadas sem pés, cabeça e pescoço, realizando-se então os
cortes para
avaliação dos seus respectivos rendimentos que consistiram em: peito,
coxa +
sobrecoxa e gordura abdominal.
No
57º dia de experimento foi retirada uma amostra
aleatória de duas aves de cada repetição, as quais foram pesadas e
abatidas por
decapitação, para escoamento do sangue. Procedeu-se à colheita de uma
porção
média do duodeno de aproximadamente quatro centímetros, a qual foi
fixada por
imersão em solução de Bouin
por 24 horas. Os fragmentos dos tecidos foram destinados à rotina
histológica
com inclusão do material em paraplast. Após a microtomia, foram obtidos
15
cortes longitudinais e semi-seriados de sete micrômetros de espessura,
corados
pela técnica do Ácido Periódico de Schiff (PAS) e Hematoxilina e
observados à
microscopia de luz.
Foram
realizadas as leituras de 30 medidas da
altura das vilosidades e da profundidade das criptas intestinas
(micrômetro),
de cada tratamento, por meio de um analisador de imagens da Kontron
Elektronik (Vídeo
Plan), acoplado a um microscópio binocular. As medidas de altura de
vilo foram
tomadas a partir da região basal da mucosa intestinal, coincidente com
a porção
superior das criptas, até seu ápice. As criptas foram medidas da sua
base até a
região de transição cripta:vilosidade. Após a obtenção dos resultados,
eles
foram analisados estatisticamente.
As
análises estatísticas foram realizadas
utilizando-se o programa ESTAT (1994). Em caso de significância
estatística, as
médias foram comparadas pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na
Tabela 2 são apresentadas as
médias para os
dados de desempenho na fase de 42 a 57 dias de idade. Não houve
interação (P>0,05)
entre os níveis de energia e programas de alimentação para o consumo de
ração,
ganho de peso e conversão alimentar. Foi observado efeito significativo
(P<0,05) dos níveis de energia apenas para conversão alimentar,
sendo o
melhor resultado encontrado no nível de 3.600 kcal EM/kg.
Não
foram observados efeitos significativos (P>0,05) dos níveis de
energia sobre
o consumo de ração e ganho de peso no presente estudo. LIMA et al.
(2008), em
estudo com diferentes níveis de energia (2.900, 3.000 e 3.100 kcal
EM/kg), lisina
e metionina+cistina, observaram que o menor consumo de ração foi obtido
com o
menor nível de energia (P<0,05). É sabido que o maior consumo pode
estar
associado ao maior nível de óleo nas rações de média e alta energia, o
que
aumenta a palatabilidade, favorecendo a ingestão e aumento do consumo
de ração.
CELLA et al. (2009), estudando diferentes níveis de lisina (1,14; 1,18;
1,22 e
1,26% de lisina digestível), verificaram que houve efeito quadrático
(P<0,05) sobre o ganho de peso das
aves, sendo o melhor nível encontrado de 1,18% de lisina digestível.
BARBOSA
et al. (2008), trabalhando com diferentes
níveis de energia e temperatura ambiente, obtiveram resposta semelhante
à
encontrada neste estudo para ganho de peso, sendo que essa variável
também não
foi influenciada pelos níveis de energia metabolizável da ração.
Os
programas de alimentação exerceram efeito
significativo (P<0,01) sobre o consumo de ração e conversão
alimentar, sendo
os menores consumos e melhores valores de conversão alimentar
proporcionado
pelos programas PA1 e PA2.
Para
conversão calórica ocorreu interação
significativa (P<0,05) entre os fatores estudados, sendo o
desdobramento
apresentado na Tabela 2. Dentro do nível de 3.200
kcal EM/kg de ração,
observou-se que a melhor conversão calórica foi obtida com o programa
de
alimentação PA1 e as piores com os programas PA3 e PA4. Já no nível de
3.600
kcal EM/kg de ração, não foi encontrada diferença entre os programas
PA1 e PA2
e entre os programas PA3 e PA4. No entanto, PA1 e PA2 foram diferentes
de PA3 e
PA4, sendo os melhores resultados encontrados para os programas PA1 e
PA2.
Dessa
forma, os programas PA1 e PA2, adotando as
recomendações de aminoácidos de ROSTAGNO et al. (2005) ou aplicando as
equações
de POPE & EMMERT (2001) para determinar os níveis de aminoácidos,
considerando-se um único nível de aminoácidos para a fase de 42 a 57 dias,
proporcionaram
desempenhos semelhantes e melhores em relação aos demais programas.
Na
Tabela 3, são apresentados os
dados de
rendimento de carcaça de peito e de coxa + sobrecoxa e teor de gordura
abdominal.
Constatou-se
que não houve interação significativa
entre os fatores estudados e nem efeito isolado dos mesmos sobre as
características avaliadas (P>0,05). Esses
resultados concordam com o de LIMA et al. (2008) em que o rendimento de
carcaça
dos machos não apresentou interações (P>0,05) entre os níveis
energéticos e
níveis de aminoácidos (lisina e metionina+cistina) das dietas
experimentais. SUMMERS
et al. (1988), em trabalho com níveis de 0,73; 0,93 e 1,03% de lisina,
também
não encontraram diferenças significativas para rendimento de carcaça em
aves
alimentadas com diferentes níveis de lisina e metionina+cistina na fase
final
de criação. SILVIA FILHA et al. (2004),
em
estudo com diferentes níveis energéticos da ração, encontraram maior
rendimento
de carcaça (81,28%) com o nível 3.150 kcal de EM/kg.
Com
relação
à gordura abdominal, não foram observados efeitos significativos
(P>0,05) entre os níveis de energia
estudados ou programas
de alimentação, discordando dos
achados de BARBOSA et al. (2008)
em que as
porcentagens de peito e de gordura abdominal das aves foram afetadas
(P<0,01) pelos níveis de energia da ração, sendo esses níveis 2.800,
2.900,
3.000, 3.100 e 3.200 kcal EM/kg, respectivamente.
Na
Tabela 4 são apresentados os
resultados de
morfometria do duodeno dos frangos de corte abatidos aos 57 dias de
idade e o
desdobramento da interação significativa entre os níveis de energia e
programas
de alimentação para altura de vilosidade (P<0,05). O nível de 3.200
kcal
EM/kg e programa PA1 apresentaram menor altura de vilosidade. Esse
resultado
concorda com os encontrados por PELICANO et al. (2003) que relataram
menor
altura de vilosidade para 3.200 kcal EM/kg e 0,935% de lisina na ração.
Da
mesma forma, ANDRADE et al. (2004), em seu estudo em que avaliou
silagem de
grãos úmidos de milho e sua associação com aditivos nas rações,
mostraram que a
menor altura de vilosidade foi encontrada no nível 3.202 kcal EM/kg
para o
tratamento controle. Porém, esses resultados divergem dos encontrados
por BALOG
NETO et al. (2008) que não encontraram efeito
da
energia sobre a altura da vilosidade.
Por
outro lado, no nível 3.600 kcal EM/kg, as
recomendações de aminoácidos não determinaram diferenças na altura de
vilosidade (P>0,05).
Em
relação ao nível de energia, observou-se, com
exceção do programa PA1, que o nível 3.600 kcal EM/kg proporcionou
maior altura
de vilosidade intestinal. Dentre outros fatores, as características da
mucosa
do intestino, como altura de vilosidade, são afetadas por
características
físicas e químicas dos nutrientes, o que pode ser evidenciado pelo
maior nível
de energia.
Não
houve efeito significativo (P>0,05) dos
níveis de energia testados sobre os parâmetros de profundidade de
cripta (PC) e
relação altura de vilo/profundidade de cripta (HV/PC). Esses resultados concordam com
os achados de BALOG NETO et al
(2008) e
ANDRADE et al. (2004), que, da mesma forma, não
encontraram efeito da energia da dieta
sobre a profundidade de cripta e
relação
de vilo/profundidade; no entanto, a profundidade de cripta tendeu a ser
maior
numericamente de acordo com a dieta com maior porcentagem de energia.
Em
relação aos programas de alimentação, os
melhores valores de profundidade de cripta (PC) foram obtidos com o
programa
PA1, embora não tenha diferido dos programas PA3 e PA4. Esses
resultados
discordam dos achados de PELICANO et al (2003), que verificaram valores
inferiores
aos do presente estudo para profundidade de cripta para todos os
tratamentos. O
epitélio intestinal das aves está em constante renovação através de
mecanismos
de desenvolvimento e reparo da mucosa intestinal (turnover),
os quais podem ser alterados sob ação de agentes
patogênicos ou nutricionais, tornando-se hiperplástico, com maior
profundidade
de cripta (CAMPOS et
al., 2007).
Para
a relação altura de vilo/profundidade de
cripta (HV/PC), os melhores valores foram obtidos para o programa PA2,
sendo
que o mesmo não diferiu dos programas PA3 e PA4.
O
desenvolvimento da mucosa intestinal consiste no
aumento da altura e densidade dos vilos, o que corresponde ao aumento
das
células epiteliais, conferindo uma melhor digestão e absorção
intestinal (CAMPOS
et al., 2007), como foram evidenciados pelo maior nível de energia, que
proporcionou
maior altura de vilosidade e maior desempenho aos animais.
CONCLUSÕES
O maior nível
energético e os programas de alimentação PA1 e PA2
proporcionaram
alguma melhoria no desempenho das aves, enquanto que
o fracionamento
das exigências de aminoácidos
digestíveis em dois períodos como nos programas
PA3 e PA4, determinou piores resultados
Os
níveis energéticos ou os diferentes
programas de
alimentação não determinam diferenças expressivas na qualidade da
carcaça que
justificassem a escolha de um nível ou de um programa alimentar,
devendo,
portanto, prevalecer o nível energético e as recomendações de
aminoácidos que
determinem o melhor custo-benefício.
O
maior nível energético (3.600 kcal EM/Kg), com
exceção do programa de alimentação 1 (PA1), proporcionou melhores
resultados
para altura de vilosidade.
AGRADECIMENTO
À
FAPESP pelo Auxílio Financeiro concedido proc. 2002/10791-0.
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Protocolado em: 04 maio 2010.
Aceito em: 03 abr. 2012.